domingo, 2 de novembro de 2014

À espera de mais fisiologismo
É difícil que o PT mude o estilo de fazer alianças que adota há 12 anos, e além disso a vitória apertada deve fragilizar a presidente nas negociações
O Globo
Em condições normais, presidente reeleito não tem trégua depois da vitória. A rotina do expediente continua a mesma, até mais pesada, porque às questões do cotidiano se soma a agenda do próximo mandato — a necessidade de formular ajustes de políticas prometidos na campanha, administrar demandas para a reformulação de equipes etc.
No caso da presidente Dilma Rousseff, a passagem do primeiro para o segundo mandato é ainda mais complexa, porque a economia do país se encontra em delicada situação. Tanto que o discurso de campanha da candidata contra apertos ortodoxos a fim de debelar a inflação foi rapidamente esquecido, e o Banco Central pôde elevar os juros para 11,25%, por inevitável, diante de uma pressão séria nos preços.
A missão mais estratégica da presidente reeleita é mesmo na área econômica, com a indicação de um nome para o Ministério da Fazenda que sinalize credibilidade. É preciso, afinal, fazer ajustes para restaurar os fundamentos da economia, e assim, de imediato, evitar o rebaixamento da nota de crédito no país no exterior para aquém do “grau de investimento”.
Há outra agenda pesada à frente da presidente, a remontagem do inchado Ministério de 39 Pastas, uma quantidade de cargos talvez pequena para o Planalto atender a tantas demandas.
Isso se considerarmos que continuará em vigor a prática fisiológica do toma lá dá cá. Mas se este é o estilo de fazer alianças do PT, adotado nos últimos 12 anos, seria irrealismo prever mudança radical no segundo governo Dilma. A própria característica da vitória nas urnas — a mais apertada da história republicana, por apenas três pontos percentuais — deve fragilizar ainda mais a presidente nas negociações.
Os nove partidos da coligação vitoriosa elegeu 304 deputados, dois terços da Câmara. Mas, como aconteceu no primeiro mandato, a vantagem numérica nem sempre se traduz em supremacia política nas votações no Congresso. Tudo depende do tema, dos interesses específicos em jogo.
Para tornar mais duro este jogo, o PMDB, muito hábil em se posicionar à espera de trocas de guarda no poder — uma vitória da oposição em 2018 —, perdeu menos cadeiras na Câmara que o PT.  Continua o segundo maior partido da Casa, com 66 deputados, cinco a menos que na atual legislatura, contra 70 do PT, a maior legenda, mas com a perda de 18 cadeiras. Com o fortalecimento do PSDB na Câmara — mais dez deputados, de 44 para 54 — e no Senado — neste, devido ao crescimento político de Aécio e à volta de Serra e de Tasso Jereissati, além da permanência de Aloysio Nunes —, o panorama parlamentar para o segundo governo Dilma não parece risonho.
São fatores que fragilizam o Planalto nas negociações para a distribuição de vagas e orçamento. Sem considerar a existência de companheiros demitidos pelas urnas em busca de bons empregos públicos. O segundo mandato já começou.

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