sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"Doe um café a quem precisa"
Damián Ruiz Fájula - El País
"Quero um café com leite e deixar outro pago, por favor". Com esta simples frase, qualquer um no balcão de um bar pode se solidarizar com os mais necessitados, sem maior esforço do que pagar um café a mais destinado a quem não pode arcar com esse pequeno prazer diário. E de maneira anônima.
Essa iniciativa, surgida há dois séculos em Nápoles entre os poderosos da época e conhecida como caffè sospeso, ressurgiu em 2008 no início da crise econômica, o que levou a seu êxito e posterior expansão por meio das redes sociais irradiando-se da cidade italiana para o resto do mundo.
O processo não tem muito mistério. Consiste em ir a algum estabelecimento ligado a essa ação solidária e com alguma credencial visível indicando isso, fazer seu pedido e depois pedir que anotem quantos cafés pendentes você estiver disposto a doar.
Normalmente, eles ficam registrados em uma lousa, de forma que qualquer cidadão sem dinheiro suficiente possa entrar no local e solicitar que lhe sirvam um café. Há pouca picaretagem, pois quase todo mundo se conhece nos bairros.
Na Espanha os cafés pendentes estão tendo um crescimento cada vez maior. "Trata-se de ser solidário por antecipação; aqui a cultura de bares é forte, e se você sabe que alguém de seu bairro está com dificuldades financeiras, ações como esta fazem a vizinhança se interessar pela pessoa em questão", assinala Gonzalo Sapiña, profissional de marketing e coordenador da iniciativa em nosso país através da página Cafespendientes.es na internet.
Segundo os dados compilados por meio dessa plataforma, que em um ano recebeu mais de 12 milhões de visitas, há mais de 500 negócios inscritos nesse modelo de doações que perfazem acima de 10 mil cafés pagos e cerca de 7.500 servidos, em média uns 20 por dia.
Essa iniciativa não só é positiva para as pessoas, como também para os bares. "Eles acabam ganhando mais clientes, pois as pessoas gostam de ir a lugares com calor humano", indica Sapiña. De todos os estabelecimentos inscritos, os que têm tido mais êxito são o Café Comercial (Glorieta de Bilbao, 7; Madri) e a cafeteria Lord Byron (C/ Palacio Valdés, 1; Avilés), que aglutinam quase o total dos cafés pendentes anotados, respectivamente com 7.500 e 1.500.
Entretanto, o número de negócios inscritos está aumentando sob a égide da solidariedade. "Há pessoas que pagam e vão embora, e outras que esperam e conversam. Isso cria uma certa relação de amizade entre pessoas muito diferentes", comenta o coordenador, que tenta atrair locais de restauração para que se somem a esta medida através da página na internet, a qual exibe a lista de negócios que colaboram.

Ação internacional

Os cafés pendentes também vêm conquistado países latino-americanos como a Costa Rica, a Colômbia, o Chile e o México. Aliás, no México as doações não se restringem a cafés e também incluem alimentos como tacos, sopas ou saladas.
"Essa iniciativa conseguiu tocar pessoas que antes não doavam por uma questão de desconfiança; atualmente existem 565 estabelecimentos por todo o país que servem cerca de 23.000 cafés ou porções por mês não só dentro do próprio local, como também em parques, hospitais, asilos e estações ferroviárias por onde passa La Bestia", afirma Fabiola Kun, coordenadora da ação naquele país.
Locais bem pequenos, explica Kun, tiveram um aumento de 33% nas vendas desde que acolheram os cafés pendentes, conquistando a fidelidade dos clientes. "Os ganhos mais importantes são o impacto positivo em sua comunidade, a inclusão e a dignidade com que atendem os beneficiários", afirma ela.

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