sábado, 22 de novembro de 2014

Uma casa apropriada para assassinato, loucos e modelos
Matt A.V. Chaban - NYT
Nicole Bengiveno/The New York Times
A Casa Gustav Mayer, marco novaiorquino de propriedade de Bob Troiano, mantem atmosfera decadente que atrai fotógrafos de moda e revistas A Casa Gustav Mayer, marco novaiorquino de propriedade de Bob Troiano, mantem atmosfera decadente que atrai fotógrafos de moda e revistas
As estrelas Mary-Kate Olsen e Lauren Hutton estão rindo em um sofá surrado na sessão de fotos para a "Harper's Bazaar", vestidas para um baile boêmio, com as paredes de gesso atrás delas rachadas e refletindo a luz vespertina. Em uma foto de página dupla na "Cosmo" do Reino Unido, a modelo Megan McNierney desce cambaleando as escadas passando por um afresco do interior italiano, com um louco hitchcokiano a perseguindo. Para a revista "Vs.", a atriz Amber Heard está deitada em uma banheira, vestindo couro, renda, um quepe de comandante e botas de cano alto, segurando de forma firme e ameaçadora um chicote de equitação.
Todas essas fotos foram tiradas na mesma casa, uma favorita dos fotógrafos, editores e diretores de todo o mundo. Com sua pintura descascando, lareiras de mármore, terreno gramado inclinado e domo elevado, a casa parece ser de outro tempo e lugar.
Essa casa interessante fica no Estado de Nova York, apesar de não nas áreas mais elegantes de Manhattan ou do Brooklyn, nos limites distintos de East End em Long Island, ou no interior. Ela se encontra bem no meio de Staten Island.
"Quando vim pela primeira vez, eu quase não entrei", disse Tom Corbett, um fotógrafo australiano que fez uma série de fotos inspiradas em Hitchcock, "Disque 'M' para Moda", no ano passado. "Eu achei que estava no lugar errado, mas ela revelou ser uma pedra preciosa."
Dirigindo pela movimentada Richmond Road, é fácil perder a casa no Nº 2475 em meio às casas de estuque, cercas e minishoppings de New Dorp. Bob Troiano estava fazendo esse percurso por acaso quatro décadas atrás, dirigindo seu Volvo 122S 1967, quando a casa chamou sua atenção. Diante do portão de ferro enferrujado e do muro centenário de pedras, o jovem de 19 anos se apaixonou.
"Eu sabia que era um local proibido, mas também inesquecível", ele disse.
Para um fotógrafo aspirante e filho de um mestre carpinteiro que cresceu em Westerleigh, um bairro de Staten Island, o apelo era claro. Mas foi apenas em 1990 que Troiano finalmente comprou a casa e estava pronto para passar pelo portão proibido. Ele estava emperrado devido à ferrugem. 
Nicole Bengiveno/The New York Times
Bob Troiano, dono da Casa Gustav Mayer, segura cópia de revista com foto tirada por Alex Majoli em uma das salas da mansão, no distrito novaiorquino de Staten Island
A casa italiana de 715 metros quadrados, um patrimônio de Nova York, é chamada de Grey Gardens de Staten Island, e não apenas por sua aparência. Ela foi construída em 1855 por David Ryers, um comandante da milícia de Nova York, e vendida em 1889 para Gustav Mayer, um confeiteiro alemão cuja padaria em Stapleton estava entre as 114 padarias fundadoras da Nabisco.
 Por um século, a casa foi o lar de suas filhas, Paula e Emilie Mayer, e poucas outras pessoas. As mulheres Mayer nunca se casaram –nenhum homem era bom o bastante para o pai delas.
As irmãs encontraram grande prazer na casa, com Paula pintando nas paredes afrescos inspirados em suas viagens, apesar de que, em seus últimos anos, elas terem deixado de sair, baixando cestas da janela para pegar compras, correspondência e a roupa lavada. Quando se mudaram juntamente com a enfermeira nos anos 80, as irmãs, que viveram mais de 100 anos, estavam confinadas em dois quartos no segundo andar, dentro de uma casa com mais de 20 quartos e quatro andares, cinco contando o domo com vistas da Baía de Raritan.
Troiano levou um ano para tornar habitáveis os dois quartos no primeiro andar para ele, sua esposa e sua filha. Dali, ele partiu para o restante da casa, derrubando paredes antes que caíssem sozinhas, restaurando aquelas que valiam a pena ser restauradas, reconstruindo as janelas, tudo com vidro ondulado original. Todos os interruptores, tomadas, dutos e outros foram cuidadosamente escondidos, já que nada disso existia originalmente.
Batedores de locações logo abordaram Troiano sobre gravar videoclipes musicais na casa. Ele rejeitou a oferta, mas a ideia continuava voltando, dado seu amor por fotografia. Em 1992, ocorreu a primeira sessão de fotos, para um catálogo há muito esquecido.
A deterioração dos andares de cima acabou se transformando em um bem de valor para a indústria da moda. Assim, em vez de gastar centenas de milhares de dólares em uma restauração completa, ele pôde deixar o espaço em grande parte como estava, ganhando dinheiro  com isso. O resultado poderia ser melhor descrito como Vitória e Hyde, com o primeiro andar cuidadosamente restaurado, com sancas e tapetes onde Troiano vive, e as vigas expostas e paredes descascadas nos andares de cima.
Troiano não diz exatamente quantas sessões de fotos ocorreram ao longo de duas décadas, porque os editores querem um cenário antigo tanto quanto o vestido da última estação. Mas a julgar pelas pilhas de revistas e catálogos –"Elle", "W", "New York", "Vogue" coreana, "Anthropologie", "Fossil"– que enchem a saleta ao lado das fotos de Troiano e entalhes em madeira, dezenas de trabalhos foram realizados, além de um comercial ou capa de disco ocasionais.
Para manter todos na linha, "Regras da Casa" estão presentes em toda parte, alertando aos trabalhadores para não se apoiarem nisso ou tocar naquilo.
Quem gosta das sessões de fotos são os vizinhos. Quando Olsen esteve aqui, as crianças do bairro fizeram fila no portão para vislumbrar a estrela de "Três É Demais".
"É fabuloso, como viver no tapete vermelho", disse a vizinha de Troiano, Debbie Confessore. Sua casa de tijolos e revestimento vinílico externo fica onde antes ficava a casa da carruagem (as irmãs venderam os terrenos vizinhos nos anos 50 para construtoras).
Mas o glamour pode estar chegando ao fim. Troiano colocou a casa à venda por US$ 2,31 milhão com os corretores Roberto Rizzini e Jung Ho Kim da Citi Habitats. Esse preço inclui uma reforma da fachada por Troiano.
O preço é alto –duas ou três vezes o das casas vizinhas. E como qualquer patrimônio da cidade, qualquer reforma externa precisa ser aprovada.
Troiano está pensando em mudar de estilo de vida, talvez no Sudoeste, mas disse que se não conseguir um bom preço, ele ficaria feliz em manter a casa.
Muitos torcem para que ele a mantenha.
"Eu já fiz fotos na Mansão Astor, na Park Avenue, dentro de fábricas antigas, e este é provavelmente meu local favorito em Nova York –ele tem um espírito diferente de qualquer outro", disse Corbett, o fotógrafo. "Eu realmente torço para que não a comprem para transformá-la em uma mansão yuppie, com paredes limpas e fontes de mármore." 
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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