Jochen Bittner - TINYT
Em 2012, Julia Probst, uma jovem alemã surda, anunciou planos de se candidatar nas eleições parlamentares nacionais. Mas depois de algumas aparições na TV, ela recebeu tantos comentários de ódio no Twitter sobre sua surdez que decidiu se retirar da campanha -- e da política.
Ela podia aguentar muita coisa, explicou: "mas vou me deixar ser criticada ou insultada por uma coisa sobre a qual eu não tenho responsabilidade, quer dizer, o controle da minha voz".
Os usuários anônimos que fazem esses insultos podem ser apenas covardes falastrões. Mas eles criam uma atmosfera de impunidade que acaba fazendo com que os abusos online passem para o mundo offline.
Pode chamar isso de "Teoria das Janelas Quebradas" da internet, uma adaptação da abordagem que Rudolph W. Giuliani adotou em relação ao policiamento quando era prefeito de Nova York nos anos 90.
Lançada pelos cientistas sociais James Q. Wilson e George Kelling L., a teoria das Janelas Quebradas postula que, uma vez que um prédio tem uma janela quebrada, todo o bairro está predisposto ao vandalismo e ao crime. Por quê? Porque uma janela quebrada não é apenas vidro estilhaçado: é um símbolo de indiferença em relação à propriedade dos outros e da falta de cuidado e controle. O sinal enviado pela janela quebrada é: você pode causar danos sem ser responsabilizado.
Agora, uma geração mais tarde, há evidências na internet de que a teoria das janelas quebradas também se aplica a pessoas. Aquilo que começa com um post maldoso no Twitter ou Facebook pode rapidamente virar uma campanha de intimidação, e passar até mesmo para o mundo offline.
Não são raros os casos de adolescentes que se suicidam por não aguentar a dor e a vergonha de serem ridicularizados online. As consequências são tão perigosas para a sociedade civil, para a cultura política e a credibilidade da mídia quanto as janelas quebradas eram na teoria da infraestrutura urbana dos professores Wilson e Kelling.
Petra Pau, política do partido esquerdista Die Linke da Alemanha e vice-presidente do Bundestag, pediu recentemente por mais solidariedade com os refugiados e chamou os ativistas anti-refugiados de Berlim de "flautistas marrons", numa referência ao Flautista de Hamelim e às camisas marrons usadas pelos assassinos nazistas.
A reação na internet: mais de 40 ameaças de morte ou violência contra Pau, sendo que uma pessoa sugeriu que "escória" como ela deveria ou ser fuzilada ou enforcada em uma árvore no Tiergarten, o parque central de Berlim.
Aconteceu de novo há poucos dias em um estádio de futebol alemão. Marcel Reif, um famoso repórter esportivo por mais de 30 anos, já era alvo de humilhação e assédio na internet há um bom tempo. Mas a violência que encontrou quando entrou na cabine de comentaristas em Dresden fez com que ele temesse pela própria vida, disse.
"Garrafas de cerveja estavam voando na minha direção do outro lado da parede de vidro", disse ele ao jornal alemão Die Welt. "Os rostos deles eram caretas de ódio, cuspindo e babando."
Reif acredita que a falta de limites da Internet é a principal causa para estes ataques de raiva. "As redes sociais não conhecem regras", disse ele. "Se você encontra as pessoas face a face, elas acordam daquele frenesi. Na internet, isso não é possível. As pessoas se transformam em demônios porque não há nenhuma força reguladora."
Os gestores de Twitter estão cientes desse fenômeno e de sua responsabilidade sobre ele. Mas se recusam a discuti-lo abertamente. No mês passado, o site norte-americano The Verge publicou um e-mail interno de Dick Costolo, executivo-chefe do Twitter, em que ele dizia aos funcionários que estava envergonhado pelo fracasso da companhia em impedir o assédio e o abuso.
"Não há desculpa para isso. Assumo a total responsabilidade por não ser mais agressivo nessa frente", ele escreveu.
Para seu crédito, Costolo prometeu agir. "Vamos começar a chutar essas pessoas para fora, a torto e a direito, e garantir que quando elas fazem seus ataques ridículos, ninguém as ouça. Todo mundo na equipe de liderança sabe que isso é vital."
O Twitter lançou um botão para denúncias de abuso que, quando é utilizado, o infrator deve receber uma advertência ou, em casos de abusos repetidos, ter até mesmo a conta bloqueada.
Contudo, quando eu perguntei ao porta-voz do Twitter na Alemanha quantas dessas advertências a empresa já tinha dado ao longo do último ano, o que esses avisos dizem exatamente e quantas contas foram bloqueadas por causa de abusos, ele se recusou a responder. Depois de discutir o assunto com seus colegas norte-americanos, o porta-voz disse que tudo o que poderia me fornecer eram as regras do Twitter, suas orientações para a aplicação da lei e seu relatório de transparência anual. Nada disso fornecia resposta para minhas perguntas.
Quando eu perguntei por que motivos o Twitter não forneceria as informações requisitadas, ele não respondeu.
Se o Twitter continuar com essa arrogância, talvez caiba aos legisladores entrar em ação. Enquanto o Twitter se recusar a revelar a eficácia de sua iniciativa antiabuso, devemos considerar que ele fecha os olhos, passivamente, para esse tipo de abuso.
Em resposta, uma estratégia de tolerância zero, do tipo que Giuliani adotou em Nova Iorque, deve ser considerada. Usuários ofensivos precisam se sentir repreendidos antes que possam incitar outros, transformando indivíduos em turbas. As leis devem exigir que as companhias de mídias sociais reprimam o comportamento abusivo ou então sejam penalizadas.
O Facebook e o Twitter são ferramentas fantásticas para a divulgação de informações. Mas exatamente porque essas plataformas se tornaram indispensáveis, não podemos permitir que a tecnologia digital induza a costumes medievais. Também não podemos permitir que as mídias sociais facilitem a difusão do ódio, exigindo transparência dos usuários enquanto ao mesmo tempo não são claras quanto à sua abordagem em relação à violência verbal que o meio veicula.
O edifício chamado modernidade é muito precioso para esse tipo de decadência. Então, por favor, Costolo, conserte logo suas janelas.
Os usuários anônimos que fazem esses insultos podem ser apenas covardes falastrões. Mas eles criam uma atmosfera de impunidade que acaba fazendo com que os abusos online passem para o mundo offline.
Pode chamar isso de "Teoria das Janelas Quebradas" da internet, uma adaptação da abordagem que Rudolph W. Giuliani adotou em relação ao policiamento quando era prefeito de Nova York nos anos 90.
Lançada pelos cientistas sociais James Q. Wilson e George Kelling L., a teoria das Janelas Quebradas postula que, uma vez que um prédio tem uma janela quebrada, todo o bairro está predisposto ao vandalismo e ao crime. Por quê? Porque uma janela quebrada não é apenas vidro estilhaçado: é um símbolo de indiferença em relação à propriedade dos outros e da falta de cuidado e controle. O sinal enviado pela janela quebrada é: você pode causar danos sem ser responsabilizado.
Agora, uma geração mais tarde, há evidências na internet de que a teoria das janelas quebradas também se aplica a pessoas. Aquilo que começa com um post maldoso no Twitter ou Facebook pode rapidamente virar uma campanha de intimidação, e passar até mesmo para o mundo offline.
Não são raros os casos de adolescentes que se suicidam por não aguentar a dor e a vergonha de serem ridicularizados online. As consequências são tão perigosas para a sociedade civil, para a cultura política e a credibilidade da mídia quanto as janelas quebradas eram na teoria da infraestrutura urbana dos professores Wilson e Kelling.
Petra Pau, política do partido esquerdista Die Linke da Alemanha e vice-presidente do Bundestag, pediu recentemente por mais solidariedade com os refugiados e chamou os ativistas anti-refugiados de Berlim de "flautistas marrons", numa referência ao Flautista de Hamelim e às camisas marrons usadas pelos assassinos nazistas.
A reação na internet: mais de 40 ameaças de morte ou violência contra Pau, sendo que uma pessoa sugeriu que "escória" como ela deveria ou ser fuzilada ou enforcada em uma árvore no Tiergarten, o parque central de Berlim.
Aconteceu de novo há poucos dias em um estádio de futebol alemão. Marcel Reif, um famoso repórter esportivo por mais de 30 anos, já era alvo de humilhação e assédio na internet há um bom tempo. Mas a violência que encontrou quando entrou na cabine de comentaristas em Dresden fez com que ele temesse pela própria vida, disse.
"Garrafas de cerveja estavam voando na minha direção do outro lado da parede de vidro", disse ele ao jornal alemão Die Welt. "Os rostos deles eram caretas de ódio, cuspindo e babando."
Reif acredita que a falta de limites da Internet é a principal causa para estes ataques de raiva. "As redes sociais não conhecem regras", disse ele. "Se você encontra as pessoas face a face, elas acordam daquele frenesi. Na internet, isso não é possível. As pessoas se transformam em demônios porque não há nenhuma força reguladora."
Os gestores de Twitter estão cientes desse fenômeno e de sua responsabilidade sobre ele. Mas se recusam a discuti-lo abertamente. No mês passado, o site norte-americano The Verge publicou um e-mail interno de Dick Costolo, executivo-chefe do Twitter, em que ele dizia aos funcionários que estava envergonhado pelo fracasso da companhia em impedir o assédio e o abuso.
"Não há desculpa para isso. Assumo a total responsabilidade por não ser mais agressivo nessa frente", ele escreveu.
Para seu crédito, Costolo prometeu agir. "Vamos começar a chutar essas pessoas para fora, a torto e a direito, e garantir que quando elas fazem seus ataques ridículos, ninguém as ouça. Todo mundo na equipe de liderança sabe que isso é vital."
O Twitter lançou um botão para denúncias de abuso que, quando é utilizado, o infrator deve receber uma advertência ou, em casos de abusos repetidos, ter até mesmo a conta bloqueada.
Contudo, quando eu perguntei ao porta-voz do Twitter na Alemanha quantas dessas advertências a empresa já tinha dado ao longo do último ano, o que esses avisos dizem exatamente e quantas contas foram bloqueadas por causa de abusos, ele se recusou a responder. Depois de discutir o assunto com seus colegas norte-americanos, o porta-voz disse que tudo o que poderia me fornecer eram as regras do Twitter, suas orientações para a aplicação da lei e seu relatório de transparência anual. Nada disso fornecia resposta para minhas perguntas.
Quando eu perguntei por que motivos o Twitter não forneceria as informações requisitadas, ele não respondeu.
Se o Twitter continuar com essa arrogância, talvez caiba aos legisladores entrar em ação. Enquanto o Twitter se recusar a revelar a eficácia de sua iniciativa antiabuso, devemos considerar que ele fecha os olhos, passivamente, para esse tipo de abuso.
Em resposta, uma estratégia de tolerância zero, do tipo que Giuliani adotou em Nova Iorque, deve ser considerada. Usuários ofensivos precisam se sentir repreendidos antes que possam incitar outros, transformando indivíduos em turbas. As leis devem exigir que as companhias de mídias sociais reprimam o comportamento abusivo ou então sejam penalizadas.
O Facebook e o Twitter são ferramentas fantásticas para a divulgação de informações. Mas exatamente porque essas plataformas se tornaram indispensáveis, não podemos permitir que a tecnologia digital induza a costumes medievais. Também não podemos permitir que as mídias sociais facilitem a difusão do ódio, exigindo transparência dos usuários enquanto ao mesmo tempo não são claras quanto à sua abordagem em relação à violência verbal que o meio veicula.
O edifício chamado modernidade é muito precioso para esse tipo de decadência. Então, por favor, Costolo, conserte logo suas janelas.
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