David Brooks - NYT
O antissemitismo está aumentando por todo o mundo. Então, a questão passa a ser: o que podemos fazer para combatê-lo? Campanhas de educação funcionam? Ou marchas, conferências?
Existem três grandes linhagens de antissemitismo em circulação, diferentes em espécie e virulência, e que demandam respostas diferentes.
No Oriente Médio, o antissemitismo tem o ar de um sistema teórico enlouquecido para dar sentido a um mundo que se desencaminhou. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, não só se opõe a Israel. Ele já chamou o país de "o cão raivoso sinistro da região". Ele disse que seus líderes "parecem feras e não podem ser chamados de humanos".
O presidente Hassan Rouhani do Irã restabeleceu uma conferência de negadores do Holocausto e teóricos da conspiração antissemitas. Aparentemente, dois importantes ex-negociadores nucleares do Irã compareceram. No Egito, altos funcionários militares assistiram a uma palestra sobre os Protocolos dos Sábios do Sião. A região ainda está repleta das teorias da conspiração de costume -- de que os judeus estavam por trás do 11 de setembro, que eles bebem o sangue de não-judeus e pulverizam pesticidas em terras egípcias.
Este tipo de antissemitismo prospera onde não existem muitos judeus. O judeu não é uma pessoa, mas uma ideia, um receptáculo único para um mal transcendente: uma poluição, uma mancha, uma força obscura responsável pelas falhas dos outros, a vergonha inconsciente e os impulsos primitivos que eles sentem em si mesmos, e tudo o que precisa de explicação.
Esta é uma forma de loucura, uma fuga da realidade mesmo em pessoas que, do contrário, são sofisticadas.
Esta forma de antissemitismo não pode ser explicada racionalmente porque ela não existe no nível da razão. Ela só pode ser enfrentada com contenção e força, no nível do medo. O desafio para Israel é responder ao extremismo sem ser extremo. A raiva do inimigo pode ser usada para justificar a crueldade, mesmo nos casos em que a contenção seria uma resposta mais sábia. Os líderes israelenses tentam caminhar nesta linha, tentando usar a força, sem se tornar um espelho do inimigo, às vezes com sucesso, às vezes não.
Na Europa, o antissemitismo parece com uma resposta à alienação. É particularmente alto onde o desemprego é excessivo. Cerca de metade de todos os espanhóis e gregos expressam opiniões desfavoráveis quanto aos judeus. A praga da violência é alimentada por jovens islâmicos sem nenhum respeito ou lugar para onde ir.
Na edição atual da The Atlantic, Jeffrey Goldberg publicou um ensaio, "Está na hora de os judeus deixarem a Europa?". Ele relata uma enxurrada de incidentes: a diretora da escola judaica que teve a filha de oito anos executada no pátio da escola por um francês de origem argelina; um rabino sueco que foi alvo de cerca de 150 ataques antissemitas; crianças francesas aterrorizadas na escola por causa de gritos de "judeus sujos" e "quero matar todos vocês" no corredor; o imã dinamarquês que pediu aos fieis de uma mesquita em Berlim para matarem os judeus, "Contem-os e matem-os até não sobrar nem um".
Milhares de judeus por ano estão simplesmente fugindo da Europa. Mas a melhor resposta é a quarentena e o confronto. Os governos europeus podem demonstrar solidariedade com os seus cidadãos judeus, fornecendo segurança, reprimindo até mesmo os menores ataques – ao estilo janelas quebradas. Enquanto isso, pessoas decentes e corajosas podem se inspirar em Gandhi e fazer campanhas de confronto não-violento: marchas, ocupações e protestos nos próprios bairros onde o antissemitismo germina. Expor o mal dos antissemitas. Perturbar a consciência das pessoas boas destas comunidades que os toleram. O enfrentamento não-violento é o método historicamente comprovado para isolar e deslegitimar o mal social.
Os Estados Unidos também estão experimentando um aumento no número de incidentes antissemitas. Mas o país continua sendo um lugar surpreendentemente não-antissemita. O problema dos Estados Unidos é o número de pessoas que não conseguem compreender o que é o antissemitismo ou que acham que os judeus estão sendo paranoicos ou exagerando no papel de vítimas.
Nos campi universitários, muitos jovens têm sido educados em um clima de relativismo moral e não têm experiência com crenças nocivas e virulentas. Eles às vezes acreditam que, se Israel é odiado, então deve ser por causa de suas políticas cruéis e coloniais na Cisjordânia.
No governo Obama, há pessoas que sabem que os iranianos são antissemitas, mas elas não sabem o que fazer com esse fato e como afastar esse desarranjo mental para longe. Eles negociam com os líderes iranianos, como se o antissemitismo fosse uma idiossincrasia estranha, em vez daquilo que é de fato, um elemento central da arquitetura mental deles.
Há outros que veem o antissemitismo como mais uma forma de intolerância. Mas são males diferentes. A maior parte da intolerância consiste na afirmação da inferioridade e fala a língua da opressão. O antissemitismo é a afirmação da impureza e fala a língua do extermínio. O fim lógico do antissemitismo é a violência.
Grupos que lutam contra o antissemitismo patrocinam campanhas educativas e trabalham muito com conscientização. Duvido que essas coisas tenham algum resultado na redução do antissemitismo ativo. Mas elas podem ajudar os que não são antissemitas a compreender as diferentes formas de câncer em nosso meio. É um começo.
Tradutora: Eloise De Vylder
No Oriente Médio, o antissemitismo tem o ar de um sistema teórico enlouquecido para dar sentido a um mundo que se desencaminhou. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, não só se opõe a Israel. Ele já chamou o país de "o cão raivoso sinistro da região". Ele disse que seus líderes "parecem feras e não podem ser chamados de humanos".
O presidente Hassan Rouhani do Irã restabeleceu uma conferência de negadores do Holocausto e teóricos da conspiração antissemitas. Aparentemente, dois importantes ex-negociadores nucleares do Irã compareceram. No Egito, altos funcionários militares assistiram a uma palestra sobre os Protocolos dos Sábios do Sião. A região ainda está repleta das teorias da conspiração de costume -- de que os judeus estavam por trás do 11 de setembro, que eles bebem o sangue de não-judeus e pulverizam pesticidas em terras egípcias.
Este tipo de antissemitismo prospera onde não existem muitos judeus. O judeu não é uma pessoa, mas uma ideia, um receptáculo único para um mal transcendente: uma poluição, uma mancha, uma força obscura responsável pelas falhas dos outros, a vergonha inconsciente e os impulsos primitivos que eles sentem em si mesmos, e tudo o que precisa de explicação.
Esta é uma forma de loucura, uma fuga da realidade mesmo em pessoas que, do contrário, são sofisticadas.
Esta forma de antissemitismo não pode ser explicada racionalmente porque ela não existe no nível da razão. Ela só pode ser enfrentada com contenção e força, no nível do medo. O desafio para Israel é responder ao extremismo sem ser extremo. A raiva do inimigo pode ser usada para justificar a crueldade, mesmo nos casos em que a contenção seria uma resposta mais sábia. Os líderes israelenses tentam caminhar nesta linha, tentando usar a força, sem se tornar um espelho do inimigo, às vezes com sucesso, às vezes não.
Na Europa, o antissemitismo parece com uma resposta à alienação. É particularmente alto onde o desemprego é excessivo. Cerca de metade de todos os espanhóis e gregos expressam opiniões desfavoráveis quanto aos judeus. A praga da violência é alimentada por jovens islâmicos sem nenhum respeito ou lugar para onde ir.
Na edição atual da The Atlantic, Jeffrey Goldberg publicou um ensaio, "Está na hora de os judeus deixarem a Europa?". Ele relata uma enxurrada de incidentes: a diretora da escola judaica que teve a filha de oito anos executada no pátio da escola por um francês de origem argelina; um rabino sueco que foi alvo de cerca de 150 ataques antissemitas; crianças francesas aterrorizadas na escola por causa de gritos de "judeus sujos" e "quero matar todos vocês" no corredor; o imã dinamarquês que pediu aos fieis de uma mesquita em Berlim para matarem os judeus, "Contem-os e matem-os até não sobrar nem um".
Milhares de judeus por ano estão simplesmente fugindo da Europa. Mas a melhor resposta é a quarentena e o confronto. Os governos europeus podem demonstrar solidariedade com os seus cidadãos judeus, fornecendo segurança, reprimindo até mesmo os menores ataques – ao estilo janelas quebradas. Enquanto isso, pessoas decentes e corajosas podem se inspirar em Gandhi e fazer campanhas de confronto não-violento: marchas, ocupações e protestos nos próprios bairros onde o antissemitismo germina. Expor o mal dos antissemitas. Perturbar a consciência das pessoas boas destas comunidades que os toleram. O enfrentamento não-violento é o método historicamente comprovado para isolar e deslegitimar o mal social.
Os Estados Unidos também estão experimentando um aumento no número de incidentes antissemitas. Mas o país continua sendo um lugar surpreendentemente não-antissemita. O problema dos Estados Unidos é o número de pessoas que não conseguem compreender o que é o antissemitismo ou que acham que os judeus estão sendo paranoicos ou exagerando no papel de vítimas.
Nos campi universitários, muitos jovens têm sido educados em um clima de relativismo moral e não têm experiência com crenças nocivas e virulentas. Eles às vezes acreditam que, se Israel é odiado, então deve ser por causa de suas políticas cruéis e coloniais na Cisjordânia.
No governo Obama, há pessoas que sabem que os iranianos são antissemitas, mas elas não sabem o que fazer com esse fato e como afastar esse desarranjo mental para longe. Eles negociam com os líderes iranianos, como se o antissemitismo fosse uma idiossincrasia estranha, em vez daquilo que é de fato, um elemento central da arquitetura mental deles.
Há outros que veem o antissemitismo como mais uma forma de intolerância. Mas são males diferentes. A maior parte da intolerância consiste na afirmação da inferioridade e fala a língua da opressão. O antissemitismo é a afirmação da impureza e fala a língua do extermínio. O fim lógico do antissemitismo é a violência.
Grupos que lutam contra o antissemitismo patrocinam campanhas educativas e trabalham muito com conscientização. Duvido que essas coisas tenham algum resultado na redução do antissemitismo ativo. Mas elas podem ajudar os que não são antissemitas a compreender as diferentes formas de câncer em nosso meio. É um começo.
Tradutora: Eloise De Vylder
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