Reinaldo Azevedo - VEJA
A Folha traz nesta segunda uma reportagem que, a se confirmar, é mesmo do balacobaco. Prestem atenção! A Petrobras estuda uma maneira de tomar parte das ações ou dos ativos das empreiteiras que participaram do esquema que operava na empresa. Vocês entenderam direito. E isso nada teria a ver com as multas que ela devem pagar em razão de acordos de leniência com a Controladoria Geral da União.
O caso é o seguinte: como as empresas cobraram um sobrepreço para arcar com o custo propina, teriam de reembolsar a Petrobras. Ocorre que a maioria delas, sem receber da estatal o pagamento por obras já feitas em razão da Lava Jato, está na pindaíba e não tem caixa. Assim, teriam de doar ações ou ativos. O caminho das ações, advertem alguns, não é bom porque aí a petroleira brasileira se torna sócia de empresas enroscadas. Uma das saídas estudadas, informa a reportagem, é criar um fundo para abrigar essas ações e ativos. Seu rendimento seria revestido para a estatal.
O mecanismo também empurraria para os acordos de leniência as empresas que ainda não adotaram esse caminho. Eles permitiram à Petrobras a retomada dos pagamentos devidos, o que daria caixa às empreiteiras para seguir adiante.
Não é mesmo fabuloso? A Petrobras se revela o palco do maior escândalo de que se tem notícia no país; atua como um centro arrecadador e distribuidor de propina, posa de vítima e ainda pretende sair da história expropriando uma parte das suas parcerias de negócios.
Alguns tolinhos ainda não entenderam — e eu não posso fazer nada por eles — as minhas restrições à tese do cartel, sempre lembrando que seria o primeiro cartel da história a se formar com uma única fronte contratadora e pagadora, com poder para determina, ela própria, o preço. Eis aí. Um dos desdobramentos dessa tese exótica é a suposição de que a Petrobras, como quer Graça Foster, foi apenas a vítima nesse rolo todo. Venham cá: se EMPREITEIROS E EMPREITEIRAS — portanto, empresários e empresas — estão sendo punidos , e têm de ser punidos!, por que a Petrobras seria não apenas preservada, como ainda beneficiada pela sujeira?
A saída, de resto, me parece de um exotismo jurídico realmente ímpar. Que se queira cobrar o olho da cara das empreiteiras em acordos de leniência, vá lá… Que se queira punir, quando houver a condenação, com multas os que desviaram a grana, ou ainda cobrar devolução ou repatriamento do dinheiro em acordos de delação premiada, tudo isso me parece do jogo!
Transformar a Petrobras numa pobrezinha, vítima do cartel de homens maus, candidata a ficar com uma fatia das ações ou dos bens das empreiteiras, bem, isso é proposta que só viceja num país de aloprados. Por alguma estranha razão, avalia-se que, ao se desmantelar um acordo de corruptos, só um lado arca com o ônus; o outro, ora vejam!, ainda ficaria com parte dos bens de seus antigos parceiros de trapaça.
Sendo assim, devemos concluir, então, que a Petrobras não estava envolvida em corrupção, mas apenas fazendo um investimento por caminhos pouco ortodoxos. Que lixo! A Petrobras, que deveria ser privatizada, se organiza agora para estatizar um pedação das empreiteiras. Essa gente enlouqueceu de vez.
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