Enganos históricos e PIB
Dados do crescimento da economia são oportunidade para pensarmos um pouco mais longe
Vinicius Torres Freire - FSP
A ECONOMIA do Brasil deve encolher 1% neste 2015, segundo a previsão da centena de economistas do setor privado ouvidos a cada semana pelo Banco Central. O que de mais certo se pode dizer sobre tal estimativa é que ela estará errada, provavelmente um erro de um terço.
Pelo menos é o que se pode depreender da comparação das médias de projeções realizadas em março de um ano com o resultado do crescimento do PIB divulgado cerca de 12 meses depois (essas previsões organizadas existem desde 1999). Se a gente leva em conta as mumunhas do cálculo do PIB e os mil imponderáveis de um ano, surpreende que as previsões não sejam ainda mais erradas.
E daí? Daí que deveríamos temperar nossas reações a dados recentes e de curto prazo. Pelo menos, deveríamos sempre ter em mente o crescimento em períodos mais longos e, também, suas variações vertiginosas no Brasil desde, digamos, 1999.
Desde então, a economia cresceu em média 3,1% ao ano, o que dá alguma pista do quanto podemos crescer sem fazer mexidas mais profundas no país. Também problemático, essa média resulta de variações do PIB que vão de -0,2% até +7,6%, sinal de que o país dá aceleradas insustentáveis e/ou é sujeito demais a choques externos. Essas variações violentas desorganizam a economia, criam inseguranças, dificultam o cálculo do que fazer do futuro e, é provável, prejudicam a aceleração do crescimento.
Na semana passada, o IBGE publicou uma revisão de quase duas décadas de informações sobre o PIB. De acordo com os "dados de época", publicados cerca de um trimestre depois do final de cada ano, o Brasil teria crescido uns 39% nos anos petistas (desde 2003). Segundo a revisão mais recente, 49%. Mesmo antes dessa revisão ampla, houvera correções importantes. Pessimismos e otimismos dependem dos ânimos e dos preconceitos de cada época, mas foram também afetados pelo que se imaginava ser o crescimento pelos dados à mão.
No ano 2000, quando o país cresceu 4,2%, diziam-se: "....esse resultado indica, para a maioria dos analistas, que o Brasil deve inaugurar uma fase de crescimento sustentado". Não era bem assim.
No triênio 2004-06, a taxa de crescimento seria razoável, mais de 4% ao ano, mas a névoa de pessimismo seria desfeita apenas lá por 2007, quando começou a euforia.
Não se quer repetir aqui o clichê tolo e facilitador de que "não estávamos tão bem antes, nem tão mal agora". Na verdade, decaímos à mediocridade faz tempo: essa é a tendência em torno da qual variamos. Tivemos dois surtos de melhora, com FHC e Lula, mas não "abalamos as estruturas", não fizemos reformas profundas no que diz respeito à eficiência econômica e à justiça social.
O estrago causado por Dilma 1, a troco de nada e numa economia "pobre, mas limpinha", talvez leve mais dois anos para ser consertado no "básico": contas públicas, inflação etc. Mas temos problemas profundos antigos e novos. Em vez de pensar no -1% de 2015, no +1% de 2016, a gente tem de se preocupar no que fazer daqui a uma década a fim de evitar que a média de crescimento caia de 3% para 2%. Crescimento não se improvisa de ano para outro e nem de longe depende de um só governo.
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