Yves-Michel Riols - Le Monde
Remy de la Mauviniere/AP
Laurent Fabius, ministro das Relações Exteriores da França
O roteiro já é conhecido. Desde que Laurent Fabius apareceu nas negociações sobre a questão nuclear iraniana, a cena tem sido a mesma. Em Genebra, em novembro de 2013, ou senão em Viena, em julho de 2014, e agora em Lausanne, o chefe da diplomacia francesa fez com o rosto grave um breve discurso, de algumas dezenas de segundos, antes de ir embora sem responder a nenhuma pergunta. O objetivo é sempre o mesmo: mostrar a peculiaridade da França quando se aproxima um prazo crucial nas sinuosas negociações nas quais os franceses sempre reivindicaram um papel particular.
Como sempre, sua declaração foi cuidadosamente calibrada: "Vim aqui com o desejo de avançar na direção de um acordo robusto", ele declarou, antes de insistir na necessidade de se encontrarem mecanismos para garantir a "transparência" e o "controle" de qualquer futuro acordo para ter certeza de que "os compromissos assumidos serão respeitados". Em outras palavras, a França está enviando um sinal de firmeza, ao mesmo tempo em que dá a entender que está disposta a fazer concessões, sob determinadas condições.
Insuficientemente "exigente"
Enquanto as negociações, consideradas "difíceis" por Fabius, devem continuar no domingo, na Suíça, entre o Irã e representantes do "P5+1", que incluem os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha, a atitude da França era analisada de perto, de tão temidos que são seus posicionamentos. Nos últimos dois anos, antes de cada encontro importante, os franceses sempre mantiveram um discurso singular.Isso ficou bastante óbvio no dia 9 de novembro de 2013, em Genebra, quando Fabius provocou comoção ao romper a coesão do "P5+1" ao se recusar a endossar um texto apresentado pelos Estados Unidos e pelo Irã, considerado insuficientemente "exigente" em relação a Teerã. Duas semanas mais tarde, após "umas 20 emendas", segundo um diplomata, as grandes potências fecharam, no dia 24 de novembro, um acordo interino com o Irã que abriu o caminho para o congelamento do programa nuclear e para uma retirada parcial das sanções internacionais impostas contra a República Islâmica desde 2006.
Essa estratégia, que consiste em ameaçar um bloqueio na última fase da negociação, antes de se retratar devido a "avanços" conquistados, parece estar se repetindo em Lausanne. Durante a sessão anterior de conversas na Suíça, entre 18 e 20 de março, os franceses provocaram a ira dos americanos ao deixarem claro que eles exigiam mais concessões do Irã. Oito dias depois, após essa advertência, Laurent Fabius adotou um tom menos ofensivo quando chegou a Lausanne no sábado. Será que a França chegará ao ponto de se opor a um acordo que teria o consentimento dos outros membros do "P5+1"? A hipótese parece "pouco provável", segundo um diplomata ocidental. "Se o acordo não é digerível para os franceses, há poucas chances de que ele o seja para os outros", acredita essa fonte bem informada.
A paternidade da questão
Para além da postura, a linha "robusta" defendida por Laurent Fabius segue uma continuidade. A França foi responsável pelas primeiras negociações com o Irã, 12 anos trás. Desde então, os franceses se veem como "os guardiães do templo" da questão nuclear iraniana e reivindicam a paternidade dessa questão que forjou "a cultura estratégica francesa", observa um diplomata.O papel pioneiro da França teve início em 2003. Após a invasão americana no Iraque, a qual Paris foi contra, Dominique de Villepin, então ministro das Relações Exteriores, apostou no diálogo com Teerã e obteve autorização do presidente Jacques Chirac para construir uma coalizão internacional. O objetivo era demonstrar que era possível tratar o problema das armas de destruição em massa, pretexto para a intervenção no Iraque, por outros meios que não a guerra. A "troika" formada pela França junto com a Alemanha e o Reino Unido foi inicialmente bem recebida pelo Irã, que temia a imposição de sanções da ONU exigidas pelos Estados Unidos.
Mas ao final de dois anos as negociações começaram a empacar, com um culpando o outro pelo fracasso. A eleição de Nicolas Sarkzy, em maio de 2007, marcou uma nítida mudança de orientação. "De uma posição mediana, a França passou a ter uma posição muitas vezes mais dura que a dos Estados Unidos", observa François Nicoullaud, ex-embaixador da França em Teerã.
"Uma forte pressão de cronograma"
Diante do impasse das negociações e da descoberta da instalação militar subterrânea de Fordo, a França tomou a iniciativa de ampliar as sanções em 2011, para atingir com tudo a economia iraniana, valendo-se de um embargo sobre as exportações de petróleo e de um congelamento dos bens do banco central no exterior. A França acredita que sua firmeza compensou, uma vez que o efeito das sanções levou o regime de Teerã a retomar as negociações.Mas hoje a França não é mais a mesma força motriz de antes. Desde o acordo interino de 2013, que já foi prorrogado por duas vezes, são sobretudo os Estados Unidos e o Irã que têm estado à frente das negociações. Ao contrário de Paris, Teerã e Washington têm uma "forte pressão de cronograma", constata um diplomata.
Sem grandes progressos até o final de março, o Congresso americano ameaça adotar novas retaliações contra o Irã. E a credibilidade do presidente iraniano, Hassan Rohani, depende em grande parte de sua capacidade de obter uma retirada das sanções que têm asfixiado a economia do país. Nesse contexto, a França tem procurado influenciar em um processo que foi iniciado por ela, mas que ela não conduz mais.
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