terça-feira, 31 de março de 2015

Hollande vai perdendo tudo que conquistou, eleição atrás de eleição]
David Revault d'Allonnes - Le Monde
Thibault Camus/AP
O socialista François Hollande, presidente da França, em foto de arquivo O socialista François Hollande, presidente da França, em foto de arquivo
Como primeiro secretário, ele ganhava tudo. Como presidente, está perdendo tudo. Após eleições municipais devastadoras, que tiraram da esquerda cerca de 150 cidades com mais de 9.000 habitantes em março de 2014, o segundo turno das eleições departamentais, com 28 departamentos perdidos no domingo (29), agravou a sangria, anunciando uma eleição regional na mesma linha. Em dezembro, François Hollande pode ter liquidado a maior parte das posições de poder mantidas pela esquerda nas coletividades territoriais. Foi sobre a conquistas destas que ele construíra ao longo de 11 anos, quando liderava o Partido Socialista, a rampa de lançamento de suas ambições presidenciais.
"Eleições intermediárias nunca são favoráveis ao governo central"
"Desde François Mitterrand, as eleições intermediárias nunca são favoráveis ao governo central, e François Hollande não é uma exceção. Nicolas Sarkozy havia perdido as municipais, as cantonais por duas vezes e as regionais", alega o Palácio do Eliseu. A grande diferença em relação a seus antecessores, no entanto, se deve exatamente ao fato de que o próprio Hollande, quando liderava o Partido Socialista, havia vencido todas elas, ou quase. E pelo fato de que nenhum candidato havia, até então, construído na oposição aquilo que ele havia fabricado, antes de destruir, uma vez no poder.
"Já é uma tradição", dizia Hollande a um aliado, após o primeiro turno, "o Chirac presidente havia perdido tudo, porque eu havia ganho tudo". Então, agora é sua vez. Mas o seu caso vai além da lei implacável das alternâncias locais e das eleições intermediárias. Sob sua liderança, a esquerda havia conquistado 20 das 22 regiões em 2004. Ela havia mantido seus bastiões e até registrado um notável progresso nas municipais de 2008. E ela havia consolidado seu avanço, com 58 departamentos contra 42 da direita, nas cantonais de 2008 (Mayotte ainda não era um departamento). Era um "grand slam" eleitoral que havia permitido que o primeiro-secretário do Partido Socialista frutificasse seu capital político em um partido de representantes eleitos e colaboradores, para quem somente a vitória vale.
Enquanto líder do partido, François Hollande participou de conferências do Partido Socialista, formou suas redes nas federações, cuidou dos caciques, cujos mandatos locais ele considerava importante preservar, mais do que a conquista de um poder nacional que, inevitavelmente, lhes custaria os seus. Ele havia conquistado o apoio do aparato, a ponto de ganhá-lo na noite das primárias, em outubro de 2011.
"Uma longa caminhada"
Com ele como presidente, muitos dos principais redutos departamentais do PS se perderam: o Norte de Martine Aubry, o Seine-Maritime de Laurent Fabius, o Essonne de Manuel Valls, o Bouches-du-Rhône, todas federações históricas. Até a perda mais simbólica de Corrèzes, cuja conquista de 2008 e a manutenção em 2011 haviam contribuído para a construção da legitimidade do candidato Hollande.
Embora o presidente, por natureza, não seja homem de meditar demais sobre os fenômenos de grandiosidade e de decadência, preferindo justificar esta última pelas vicissitudes automáticas do exercício do poder nacional, ele não deixou de constatar, como especialista em mapa eleitoral, o sumiço da esquerda, especialmente em Var, Alpes-Maritimes, Haute-Savoie e Alsácia.
"O PS se construiu sobre uma base nacional. Ele precisa necessariamente voltar a se estabelecer nesses departamentos. É uma longa caminhada", contou ele a um visitante. Ele provavelmente estava pensando na caminhada que o levara à liderança do PS, em uma época em que este vencia.

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