terça-feira, 31 de março de 2015

Investigação da morte de Litvinenko, um crítico de Putin, se aproxima da conclusão
Alan Cowell - NYT
AFP
O presidente russo, Vladimir Putin 
O presidente russo, Vladimir Putin
Após 28 dias de audiências, depoimentos por várias testemunhas e a apresentação de pilhas de evidências, o inquérito da morte de Alexander V. Litvinenko, um ex-agente da KGB envenenado com polônio 210 radioativo, se aproximou do fim nesta segunda-feira (30).
Ao longo de todo o inquérito, que teve início formal em 27 de janeiro, após anos de resistência britânica e russa, o Kremlin permaneceu indiferente. Ele retirou sua participação antes do início do inquérito e se recusou a extraditar dois cidadãos russos que negam as acusações britânicas de homicídio: Andrei K. Lugovoi e Dmitri V. Kovtun.
Litvinenko, 43, um denunciador e oponente do presidente Vladimir Putin, morreu em novembro de 2006 após a ingestão de chá envenenado com polônio durante um encontro com Lugovoi e Kovtun no luxuoso Millennium Hotel, na Grosvenor Square, em frente à embaixada americana no centro de Londres.
A morte dele ocorreu seis anos após ter fugido da Rússia e poucas semanas depois de ele e sua família terem recebido cidadania britânica. No início do inquérito, Lugovoi, um ex-guarda-costas da KGB e empreendedor próspero, que de lá para cá se tornou legislador na Rússia, negou a acusação de assassinato.
Neste mês, Kovtun, um ex-oficial do Exército Vermelho, disse que queria voltar atrás em sua resistência a depor no inquérito. Mas não há indício até o momento sobre se Robert Owen, o juiz britânico que conduz o inquérito, permitirá que ele o faça por link de vídeo.
"Eu estou pronto para responder tudo", disse Kovtun à "BBC". "Eu não tenho nada a ver com o assassinato."
Kovtun e Lugovoi podem ser presos caso viajem ao Reino Unido. A Rússia disse que sua Constituição proíbe a extradição de seus próprios cidadãos.
Segundo o site do inquérito, Owen deveria ouvir na segunda-feira o depoimento de Craig Mascall, o inspetor-detetive que liderou a investigação do homicídio, e então considerará as apresentações legais finais. As audiências podem se prolongar até o dia seguinte, segundo o site do inquérito, mas Owen disse que deseja que as audiências públicas terminem até terça-feira.
Ele também disse que evidências importantes relacionadas ao envolvimento da inteligência e agências de segurança britânicas será mantido em segredo até a apresentação do relatório final, que é esperado para este ano. Os investigadores russos abandonaram o inquérito em protesto pelo sigilo de alguns procedimentos.
A retirada de Moscou deixou o inquérito sem uma voz russa oficial oferecendo a visão dos eventos pelo Kremlin ou para articular sua negação de responsabilidade.
Até o momento nos depoimentos, cientistas britânicos disseram que a radiação que matou Litvinenko só poderia ter vindo da Rússia, que produz grande parte do polônio comercial do mundo, um isótopo raro antes usado como gatilho em armas nucleares.
"O assassinato foi um ato de barbarismo indizível, que infligiu a Alexander Litvinenko a morte mais dolorosa e prolongada imaginável", disse no início do inquérito Ben Emmerson, um advogado trabalhando para Marina Litvinenko, a viúva da vítima. "Também foi um ato de terrorismo nuclear nas ruas de uma grande cidade, que colocou as vidas de várias outras pessoas do público em risco."
Litvinenko "precisava ser eliminado – não por ser um inimigo do Estado russo ou um inimigo do povo russo, mas por ter se tornado inimigo do grupo fechado de criminosos que cerca Vladimir Putin e mantém seu regime corrupto no poder", disse Emmerson, referindo-se ao presidente russo e citando as investigações de Litvinenko das gangues do crime organizado na Rússia e na Espanha.
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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