Diaa Hadid - NYT
Majdi Mohammed/AP
O presidente palestino, Mahmoud Abbas
Os moradores de gueto de blocos de concreto, a poucos quilômetros do quartel-general do presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina, removeram recentemente o retrato dele da entrada do campo.Então, eles buscaram embaraçar Abbas ao rejeitarem veementemente a candidatura do filho dele para liderar um clube esportivo local. E caso a mensagem não tenha ficado suficientemente clara, após a votação, os homens desfilaram pelas ruas cantando, "Diga ao seu pai que o campo Amari não gosta de você!"
Grande parte da atenção se concentrou recentemente na aparente rejeição da solução de dois Estados pelo líder israelense Benjamin Netanyahu, e o relacionamento estremecido entre o primeiro-ministro israelense e o governo Obama.
Mas talvez de igual importância seja o crescente descontentamento nas fileiras palestinas, grande parte concentrado em Abbas. Apesar dos Estados Unidos e da Europa parecerem mais dispostos a pressionar Israel para encerrar sua ocupação da Cisjordânia, alguns palestinos estão questionando se o líder deles, que celebrou seu 80º aniversário na semana passada, será capaz de aproveitar a oportunidade.
"Os pré-requisitos para a independência – alguns deles relacionados a Israel – são de que Israel precisa aceitar abrir mão do controle sobre os territórios palestinos ocupados", disse Ghassan Khatib, vice-presidente da Universidade Birzeit, perto de Ramallah, na Cisjordânia.
Antes disso, entretanto, os palestinos precisam resolver seus próprios problemas, começando pelo racha entre a Autoridade Palestina, liderada pela facção Fatah de Abbas, e o Hamas em Gaza, ele disse.
"É preciso que os palestinos estejam unidos e tenham um sistema que lhes permita se tornarem um Estado palestino", prosseguiu Khatib. "Assim, os problemas internos – como o racha e o sistema político paralisado, assim como a falta de eleições – são impedimentos para obtenção do objetivo da independência e do Estado."
Os palestinos notam a expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia ocupada. Jerusalém Oriental, que esperavam ser a capital do futuro Estado, está além de seu alcance, e que estão atados a Israel para sua prosperidade. Anos de negociações com Israel visando a criação do Estado não deram em nada.
Agora, os palestinos estão em uma profunda crise econômica, porque Israel está retendo as receitas de impostos de quase três meses, como punição pelos palestinos terem pedido para se juntarem ao Tribunal Penal Internacional (eles presumem que a afiliação plena ocorrerá em abril). Israel anunciou na sexta-feira (27) que liberará os fundos retidos, aparentemente em um esforço para apaziguar o governo Obama após semanas de tensões, apesar de que continuará retendo a receita tributária depois disso.
"Não há mudança, mas os assentamentos continuam crescendo e as pessoas estão ficando cansadas. Se tiverem uma chance de mudar, elas o farão", disse Hassan, 27, em uma banca de falafel com duas cadeiras em meio ao amontoado de casas no campo de refugiados de Amari.
"As pessoas estão sendo enterradas com fome e desemprego", disse Hassan, que pediu para que seu sobrenome não fosse usado, por temer represália dos serviços de segurança. Ele ajuda a sustentar seus sete irmãos e irmãs com os US$ 12 por dia que ganha como diarista.
Para um crescente número de palestinos, Abbas está inseparavelmente emaranhado aos seus problemas. Um líder sem brilho no 10º ano de um mandato que deveria ter sido de cinco –porque a liderança palestina não realiza uma eleição presidencial desde 2005– ele fracassou em preparar um sucessor e eliminou sistematicamente qualquer contestação ao seu governo. Ele também não soube explorar um pacto de reconciliação assinado há quase um ano com o Hamas, ou em se encarregar pela reconstrução da Faixa de Gaza depois da guerra devastadora do ano passado com Israel.
"As críticas a Abbas estão aumentando dia a dia, porque o povo palestino se pergunta –o que Mahmoud Abbas conseguiu até agora?" disse um professor aposentado de 59 anos no campo Amari, que disse que seu apelido era Abu Mohammed, por temer represálias das forças de segurança.
Mas os problemas vão além da liderança amplamente criticada de Abbas, em especial a divisão esmagadora entre o Fatah, que controla a Autoridade Palestina e governa as comunidades palestinas na Cisjordânia, e o Hamas, o grupo militante islâmico que governa Gaza.
O ressentimento contra Abbas é grande em Gaza, um território que ele não visita desde que o Hamas expulsou o Fatah em 2007, em uma guerra civil sangrenta que ocorreu após um fracassado governo de unidade depois da vitória do Hamas nas eleições legislativas palestinas de 2006.
Com ressentimentos profundos em ambos os lados, eles são incapazes de negociar um acordo que permita a Abbas assumir o controle das travessias de fronteira de Gaza, o que relaxaria o bloqueio pelos vizinhos Egito e Israel. Mais frustrante para muitos palestinos é que há apoio internacional para essa medida, fazendo parecer, mais do que nunca, que seus líderes não se importam com o bem-estar deles.
Na Cisjordânia, Abbas já foi elogiado por estabelecer a segurança, reprimindo os homens armados que aterrorizavam as comunidades palestinas devastadas por anos de violência e bloqueios israelenses. Ele também esmagou o Hamas na Cisjordânia, ajudado pela coordenação da segurança com Israel.
Os palestinos dizem que Abbas tem pouco a mostrar por seus esforços, e ele está tentando assegurar que nenhum outro líder possa surgir em seu lugar.
Um pequeno incidente em 20 de março em Amari, que fica a poucos quilômetros de Ramallah, o centro político da Cisjordânia, ressaltou a fúria crescente contra Abbas e o sistema que ele comanda.
O filho do presidente, Tareq, concorreu à liderança do Centro Juvenil de Amari, um conjunto decrépito de prédios que abrigam com um cinema, um salão de tênis de mesa, uma quadra de basquete/estacionamento e alojamento para o time de futebol do campo. Mas com o crescente ressentimento contra o presidente, ele perdeu para um líder popular do campo, Jihad Tumaileh.
Após a vitória de Tumaileh, homens tomaram as ruas cantando e as mulheres ululavam das sacadas.
"Foi uma derrota de Mahmoud Abbas", disse Abu Mohammed.
Apesar de muitos palestinos reconhecerem que seu sistema está quebrado, eles temem que isso esteja sendo usado como desculpa por Israel e pela comunidade internacional para permitir que as esperanças de criação de um Estado murchem.
"Sempre é exigido que os palestinos deem uma garantia de que podem ter um Estado", disse Sabri Saydam, um ex-conselheiro de Abbas. "Independente do que fizermos, sempre haverá pretextos."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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