Regressão patente
FSP
Se a necessidade é a mãe da invenção, o Brasil parece ter graves problemas de fecundidade.
Não faltam problemas para resolver no país. O que lhe falta é uma cultura empreendedora nas universidades e uma indústria que busque suas fontes de lucro na produtividade e na tecnologia, não nas cercanias do Estado.
Compare-se o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), entidade privada, com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O segundo, admirado por seu papel na criação de uma indústria nacional de aviões, nasceu à sombra do braço militar do governo federal.
O primeiro reitor do ITA, Richard Harbert Smith, foi recrutado em 1945 no MIT. Setenta anos depois, o atual reitor do instituto americano, L. Rafael Reif, visita o Brasil em busca de parcerias. Na sua avaliação, são ainda poucos os brasileiros no MIT --76, entre 11 mil alunos.
O Brasil tem suas instituições de excelência. Já se foi o tempo, ademais, em que predominava a falsa oposição entre pesquisa básica e aplicada. Tecnologia e inovação são hoje missões incorporadas em qualquer universidade pública.
Os resultados, porém, são tímidos. A produção de pesquisas com aplicações tem seu melhor indicador no volume de patentes. De 3.138 pedidos concedidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial em 2012, apenas 654 (21%) eram de residentes no país.
Na esfera internacional, o Brasil contou 659 pedidos em 2011, contra 48.213 dos EUA; em 2014, o MIT sozinho buscou registro para 743 invenções de professores e alunos.
Não basta reconhecer a importância da inovação. A ação das instituições de pesquisa, para alcançar o mercado, precisa de terreno fértil no mundo empresarial --onde o Brasil tropeça ou anda para trás.
De 2000 a 2010, o contingente de pesquisadores atuantes em empresas caiu de 41% do total para 26% (os demais estão no ensino superior e no governo). Na China, a proporção evoluiu de 51% para 61%.
A razão disso pode ser encontrada no que Nelson Marconi, da FGV, chama de "regressão produtiva", segundo reportagem do jornal "Valor Econômico": a perda de espaço da indústria no PIB é ainda mais acentuada nos setores tecnológicos, em que cresce o suprimento por produtos importados.
Em paralelo, amplia-se a participação no PIB do setor terciário tradicional, como serviços pessoais --e não software, design ou logística, mais ligados à indústria.
Esse é, provavelmente, o pior legado de um modelo de crescimento da economia baseado mais em consumo do que em produtividade.
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