Reinaldo Azevedo - VEJA
O Planalto não estava mais nem aí para os adolescentes. Queria mesmo era derrotar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, ainda que o placar tenha sido amplamente favorável à redução da maioridade: 303 votos a 184. A propósito: cinco tucanos ajudaram o Planalto a obter a sua vitoriazinha. Posicionaram-se contra a emenda e a orientação do partido os deputados Max Filho (ES), Mara Gabrilli (SP), João Paulo Papa (SP), Eduardo Barbosa (MG) e Betinho Gomes (PE).
Na reta
final, o governo fez uma enorme pressão sobre alguns partidos da base e
conseguiu virar alguns votos, embora tivesse quebrado a cara se os cinco
tucanos não tivessem dado a sua forcinha. Aí vem a pergunta: é uma
vitória que vale a pena?
O Planalto
tem uma penca de interesses na Câmara que pode ser aprovada ou
rejeitada por maioria simples. Nem tudo é uma PEC, não é mesmo?, que
precisa de 60% dos votos. Comemorar a suposta derrota de Cunha nesse
caso é de uma tolice sem par. Até porque cumpre indagar: que vitória é
essa de 184 contra 303?
O Planalto
havia se comprometido a apoiar um projeto de lei do senador José Serra
(PSDB-SP), que eleva o tempo máximo de internação do menor infrator de
três para dez anos — máximo convertido em oito anos pelo relator do
projeto, senador José Pimentel (PT-CE). É claro que se trata de uma
mudança necessária no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que
também é combatida pela esquerda e por boa parte dos petistas. Só para
lembrar: ela não é incompatível com a redução da maioridade penal.
De resto,
ainda que a maioridade seja mantida aos 18 anos, é preciso analisar que
vitória a presidente Dilma vai comemorar. Basta ver o que pensa a
esmagadora maioria da população. Assim que se tiver notícia de uma
próxima ocorrência escabrosa — e quanto tempo vai demorar, infelizmente,
para que isso ocorra? —, o peso da decisão de agora cairá no colo da
presidente. Fazer questão de derrotar Cunha nesse caso é mais um tiro no
pé. É a vitória que é derrota.
E encerro
assim: pelo tempo que o PT continuar no poder, fiquemos atentos às
medidas que esses patriotas adotarão, então, para que as cadeias passem a
recuperar presos e para que caiam os crimes hediondos e violentos
cometidos por adolescentes.
O
esquerdismo é uma fraude intelectual — porque geralmente ancorado em
números falsos — que se complementa com a fraude moral: está pouco se
importando com a realidade e com os homens que existem se as respostas
necessárias não coincidirem com seus preconceitos ideológicos.
Os brasileiros perderam. A Justiça perdeu. Mas Dilma também perdeu. E isso logo vai ficar claro.
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