O PT contra a PF
Bernardo Mello Franco - FSP
BRASÍLIA - O PT convocou o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, para um depoimento a portas fechadas. O objetivo é cobrá-lo
sobre as últimas operações da Polícia Federal, que têm tirado o sono do
governo e de dirigentes do partido.
Em resolução aprovada na semana passada, os petistas batem duro na Lava
Jato e acusam "setores" da polícia, da Justiça e do Ministério Público
de atuarem de forma "ilegal, antidemocrática e seletiva". Como não há
exemplos concretos, a queixa parece refletir apenas a irritação com as
prisões de companheiros.
O texto também sustenta que há um "estado de exceção sendo gerado, em
afronta à Constituição". Em outra passagem, defende as empreiteiras do
petrolão e diz que "é preciso apressar os acordos de leniência" e
"impedir a quebra das empresas".
O documento omitiu o nome de Cardozo, mas os petistas não têm poupado
adjetivos para criticá-lo. Reservadamente, dizem que ele "não controla a
PF" e deveria agir em defesa dos colegas de partido em apuros. Se as
queixas estiverem corretas, o ministro merece elogios por respeitar a
autonomia da polícia e a impessoalidade de suas investigações.
Desde o início do ano, Dilma Rousseff já citou a PF em ao menos cinco
discursos. Na posse, em 1º de janeiro, exaltou sua "absoluta autonomia"
como "instituição de Estado". Em 16 de março, afirmou que o Brasil é "um
país em que o Executivo assegura absoluta liberdade de ação à Polícia
Federal". Dois dias depois, disse que fortaleceu o órgão e garantiu "sua
absoluta autonomia e isenção para investigar".
Se os petistas divergem dessas ideias, deveriam convocar a presidente, não seu subordinado, para dar explicações ao partido.
Ressuscitada de forma oportunista, a bandeira do parlamentarismo pode
servir a muitos fins. Entre eles, o de entregar o poder a quem não o
alcançaria pelo voto popular.
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