Amargo regresso
Ricardo Noblat - O Globo
Esqueçamos a Federação Russa, um dos lugares mais corruptos do planeta.
O que Michel Temer foi fazer na Noruega, o país mais honesto do mundo
junto com seus vizinhos escandinavos?
Foi levar uma carraspana da primeira-ministra, preocupada com os
destinos da Lava Jato? Foi ouvir o anúncio do governo norueguês de que
cortaria parte do dinheiro investido na preservação da devastada
floresta amazônica?
Ou Temer foi para se reunir, como disse, com o Rei da Suécia que não mora na Noruega?
Ou como parece mais certo, Temer foi para fugir da crise política que o
ameaça desde que se soube do seu encontro no porão do Palácio do Jaburu
com o empresário Joesley Batista, dono do Grupo JBS, provedor de
campanhas eleitorais do PMDB?
Pode ter tentado fugir da crise, mas ela não fugiu dele. Carrega seu nome.
Triste regresso. Hoje ou amanhã, a Procuradoria-Geral da República
denunciará Temer por crime de corrupção passiva, Mais tarde por crime de
obstrução da Justiça. Em seguida, por organização criminosa.
Temer entrará para a História por ter sido o primeiro presidente da
República investigado e denunciado por corrupção. Para salvar-se, se
agarrará a um Congresso povoado de bandidos.
Dava-se como provável no início da semana passada o arquivamento pelo
Congresso das denúncias contra Temer. Mas como desde então os fatos só
agravaram a situação dele, e como novos fatos estão por vir, ninguém
mais se arrisca no Congresso ou fora dali a fazer previsões.
O cenário mais favorável a Temer – e o pior para o país – seria o de
ele vagar como um fantasma até concluir seu mandato. Adeus reformas!
Elas foram e continuarão a ser desidratadas à medida que Temer mais se
enfraqueça como seus aliados receiam. A da Previdência se resumirá à
fixação de uma idade mínima para aposentadorias, o que de toda forma
representaria um ganho.
Se antes, a exemplo da ex-presidente Dilma no seu segundo governo,
Temer só comparecia a eventos fechados ao distinto público, daqui para
frente tomará ainda mais cuidado.
Temos um presidente interditado como o anterior, ostensivamente
rejeitado pela larga maioria dos brasileiros como conferiu a mais
recente pesquisa de opinião do instituto Datafolha.
Sua aprovação de apenas 7% é a menor de um presidente nos últimos 28
anos. Seu governo é avaliado como ruim ou péssimo por 69% dos
entrevistados, um recorde. E 65% acham que sua saída seria o melhor para
o Brasil.
Quase 80% defendem a renúncia de Temer. Pouco mais de 80% são a favor
da abertura de um processo de impeachment para tirá-lo do cargo. Se ele
renunciasse ou fosse derrubado, um novo presidente deveria ser eleito
pela população, segundo 83% dos consultados pelo Datafolha.
Em abril último, 58% diziam não confiar na presidência da República.
Agora, 65%. Desconfiança maior só merecem os partidos – 69%.
Apesar disso, não haverá solução fora da política. Sim, com esses
mesmos políticos e com esses mesmos partidos de hoje até que se produza
nas eleições gerais do próximo ano uma desejável e radical mudança no
sistema apodrecido que temos.
Por ora, políticos e partidos ainda preferem manter Temer onde está – o
PT, por exemplo, para que a crise se aprofunde e ele possa se
recuperar. Quanto ao PSDB...
O partido mais atrelado aos interesses dos grandes grupos econômicos e
financeiros espera a ordem dos patrões para decidir o que fazer.
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