Maconha e legalização: antes de falar asneiras, se informe
Rafael Libardi - MSM
Se você fumou maconha (ou queimou, cheirou, injetou), por favor, leia este texto.
Mas não pegue no volante, porque a erva está relacionada ao aumento
do número de colisões fatais, com o dobro de chances de acontecerem. No
estado do Colorado, EUA, onde a droga é liberada, os acidentes
aumentaram 100% de 2007 a 2012, segundo um estudo feito pelo diretor do Instituto de Política de Drogas e professor-assistente no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Flórida.
Também em Washington, mais do que dobraram os acidentes de trânsito
fatais provocados por maconheiros depois que a droga foi legalizada,
saltando de 8% em 2013 para 17% em 2014. Não obstante, o limite máximo
de Tetra-hidrocanabinol (THC) estabelecido para se
dirigir com segurança é extremamente arbitrário e mais difícil de ser
mensurado do que o definido para o álcool. Pelo menos é o que afirmam o British Medical Journal e a AAA Foundation for Traffic Safety.
O que é tetra-hidrocanabinol (THC)?
THC é o principal componente ativo da maconha que tem mecanismo
semelhante ao de uma substância produzida no organismo, chamada
Anandamida. Ambas ativam receptores canabinóides tipo 1 (CB1) no
cérebro, gerando, entre outros processos, um aumento na liberação de
dopamina em algumas regiões cerebrais. Contudo, ao contrário da
Anandamida, o THC leva de 5 a 8 dias para ser expelido totalmente do
sangue, sendo algumas vezes mais potente. O problema, então, é que
níveis elevados de dopamina alteram a atividade cerebral, levando a
alucinações, delírios, acessos de ira e pânico e à diminuição da
percepção de tempo e espaço, alguns dos sintomas típicos da esquizofrenia e do transtorno afetivo bipolar.
Esquizofrênicos ouvem vozes que incitam o suicídio, ficam sem
expressão afetiva, têm visões horripilantes. Pessoas com transtorno
bipolar alternam entre períodos intensos de depressão e euforia. E a
maconha aumenta exponencialmente o risco de se desenvolver ambos os
transtornos na fase que vai da adolescência aos 35 anos, segundo estudo
da American Medical Association, maior organização americana de médicos e de estudantes de medicina. O estudo chama-se Cannabis Use and Earlier Onset of Psychosis. E também há outro, da mesma associação, cujo título é Neuropsychological Permormance in a Long-term Cannabis Users.
O THC vicia?
Sim. Segundo alguns estudos, dentre eles o Adverse Health Effects of Marijuana Use, do New England Journal of Medicine,
9% das pessoas que experimentaram maconha apenas UMA VEZ tornaram-se
dependentes, e de 25 a 50% das que fazem uso diário também.
E a maconha medicinal?
A maconha tem pelo menos 400 componentes químicos, embora a
grande maioria deles ainda careça de explicação científica acerca de
seus efeitos no organismo. Assim, as pesquisas sobre o tema
concentram-se em apenas alguns destes compostos, como é o caso do THC,
já tratado acima, e do Canabidiol, ou CBD. Alguns
estudos sugerem que o CBD não desencadeia efeitos psicoativos e é válido
para o tratamento de inúmeras doenças como a esclerose múltipla, dores
neuropáticas, câncer, epilepsia e mal de Parkinson. O importante em
relação ao assunto, portanto, é entender que a maconha tem diversos
componentes, sendo alguns deles psicoativos e outros não. Os primeiros,
como é o caso do THC, geram dependência e acarretam graves disfunções ao
sistema neurológico. Os segundos, tal qual o CBD, vêm apresentando
efeitos benéficos no tratamento de patologias. Logo, pagar um traficante
em troca de maconha ou utilizar os componentes psicoativos da erva é
completamente diferente de procurar um médico para que ele receite um
medicamento com um componente isolado, não-psicoativo, que foi testado e
aprovado por organizações médicas e agências de saúde no mundo inteiro.
A liberação das drogas acaba com o tráfico e com a violência?
É fácil supor que a descriminalização das drogas acabaria com a
violência e com o tráfico, mas um traficante não está no ramo porque
tem um apreço especial pelos entorpecentes. Traficante de verdade sequer
fuma maconha. Ele planta, refina, distribui e comercializa porque isso
rende lucros exorbitantes. Assim, um indivíduo que dedica sua vida a um
crime hediondo – e a outros que precisa cometer para sobreviver – não
deixaria de ser bandido porque recebeu autorização estatal para vender
drogas. A escolha pelo tráfico é (i)moral antes de ser empreendedora e,
por isso mesmo, nada garante que um traficante pediria aposentadoria da
vida criminosa porque recebeu chancela do Estado.
No mais, a “droga legalizada” seria muito mais cara do que a “droga
ilícita”, porque sobre ela incidiria todo o aparato legal de qualquer
atividade econômica, aí incluídos direitos trabalhistas, processos,
arrecadação tributária, etc. Então é óbvio que, para manter seus lucros,
o traficante seguiria com sua atividade fora da burocracia que
fatalmente seria criada com a legalização. Por outro lado, se o Estado
monopolizasse para si o comércio, também nada faz supor que os
traficantes iriam à falência, já que um bandido será sempre bandido e,
portanto, escolherá outro ramo para investir na seleção quase infinita
de crimes disponíveis no submundo.
Por isso é que a criminalidade também não diminuiria com a
descriminalização. Pelo contrário. Aumentariam não só os crimes de
outras modalidades cometidos pelos traficantes como aqueles derivados do
vício das pessoas, tais quais agressões e furtos; sem contar a guerra
entre os próprios traficantes, que seguiria intacta, como mostram os
dados do Observatório Nacional Sobre Violência e Criminalidade do Ministério do Interior,
do Uruguai: só no primeiro semestre, os assassinatos saltaram de 139,
em 2013 (ano da liberação), para 154 em 2015, sendo 43% desse total
oriundo do acerto de contas entre traficantes. No total para 2015, o
país teve recorde histórico de homicídios, com 272 mortes
A liberação diminui o consumo?
Acreditar que a descriminalização levaria à redução do consumo é tão
ingênuo e desonesto quanto supor que o número de estupros diminuiria se o
estupro fosse liberado. É que esse argumento remete à (falsa) ideia de
que a repressão leva os usuários a consumirem mais, muito embora a
realidade venha exaustivamente demonstrando que a liberação das drogas
ELEVA o consumo.
Por exemplo: em 2001, Portugal alterou a lei que criminalizava o uso
de drogas, permitindo aos usuários portarem “a quantidade necessária
para um consumo médio individual durante dez dias”, que seria algo
próximo a 15g de cocaína ou 20g de maconha. Mas uma comparação entre os
dados coletados no estudo Sinopse Estatística, do Serviço de Intervenção em Comportamentos de Vício e Dependências (SICAD)
em 2001 e em 2014, demonstra o aumento substancial do consumo de
drogas, especialmente de maconha e entre adultos de 24 a 35 anos, de
12,9% para 15,9%.
Também outra publicação, o Relatório Europeu Sobre Drogas, publicado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT),
revela que o consumo de maconha entre estudantes de 15 a 16 anos subiu
de 8% em 2001 para 16% em 2016. E ambos os estudos asseveram que o uso
de drogas não só em Portugal, mas em toda a Europa, segue aumentando
cada vez mais, inclusive com novos tipos de substâncias surgidas
recentemente no mercado.
Mas nem só no Velho Continente o consumo de drogas têm aumentado após a legalização.
No Uruguai, que em 2013 flexibilizou as leis sobre o uso dando ao
Estado o controle sobre a produção, consumo e distribuição de maconha,
além de permitir o auto-cultivo, o consumo de maconha aumentou
consideravelmente entre 2011 e 2015 nas três métricas utilizadas pela Junta Nacional de Drogas (JND), que publicou a VI Encuesta Nacional en Hogares sobre Consumo de Drogas.
Entre pessoas de 15 a 65 anos, o consumo por toda a vida passou de 20
para 23%. Nos últimos 12 meses, de 8,3 para 9,3%. E nos últimos 30 dias,
de 4,9 para 6,3%. Isso tudo sem contar com os dados do Instituto Técnico Forense,
que recebe as drogas apreendidas pelas operações policias. Eles
demonstram que a liberação da maconha aumentou o consumo de outras
substâncias psicoativas, como o ecstasy e a cocaína, baseado na
quantidade cada vez maior de apreensões dessas drogas. Em 2014, foram
aprendidos apenas 40 gramas de ecstasy. Um ano depois, 17 kilos. Por
fim, também o Ministério da Saúde uruguaio, em parceria com a JND,
apresentou novos dados sobre a apreensão de drogas sintéticas no país,
demonstrando que houve um aumento de 7 vezes em relação aos anos
anteriores.
A quem interessa a liberação?
Para onde quer que se olhe, a questão das drogas nada tem a ver
com garantias individuais ou com saúde pública. Na década de 50, Mao
Tse-Tung já proibia o ópio em território nacional sob a alegação de não
contaminar o próprio povo, embora tenha entupido os países vizinhos com a
droga, isto é, fez dela um armamento químico de guerra. Sessenta anos
mais tarde, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA divulga
que, em 2015, morreram 52 MIL pessoas por overdose de drogas no país,
uma cifra aterrorizante se considerarmos que em regiões de guerra, como a
Faixa de Gaza, morrem cerca de 35 mil pessoas ao ano. Nos EUA,
portanto, as drogas já são armamentos de destruição em massa, assim como
eram na China maoísta, embora com uma singela diferença: a droga
chinesa enfraquecia e matava os inimigos; a droga americana enfraquece e
mata o próprio povo.
O lobby pela liberação das drogas é e sempre foi uma tentativa de
usar a população como cobaia para projetos de engenharia social
concebidos por intelectuais, burocratas e magnatas de esquerda, usando
os entorpecentes como instrumentos de destruição e dominação física e
psicológica. Tanto é assim que a própria Open Society Foundation, de George Soros,
diz que a política de descriminalização das drogas em Portugal “é o
segundo de uma série de relatórios do Programa Global de Políticas sobre
Drogas” da fundação. E onde tem George Soros tem sacanagem.
Este é um artigo introdutório sobre o tema. Pretendo avançar na discussão tanto quanto seja possível.
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