Uso de avião da JBS complica situação de Temer, avalia Planalto
No segundo dia de julgamento do TSE, clima no Planalto é de tensão
Júnia Gama e Eduardo Barreto - O Globo
O clima no Palácio do Planalto neste segundo dia de julgamento do
processo de cassação da chapa presidencial no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) foi de alta tensão. Não tanto pelo que foi considerada
uma manifestação “dura” por parte do relator do processo, o ministro
Herman Benjamin, mas pelos diversos fatos que vêm, sucessivamente,
complicando a situação do presidente Michel Temer. O uso de um avião da
JBS, revelado na delação do empresário Joesley Batista, e a forma como a
notícia foi tratada no governo foi considerado um agravante da situação
do presidente por auxiliares do Planalto.
Para interlocutores do presidente, os acontecimentos “extra-TSE” têm
sido fonte maior de preocupação que o julgamento na Corte. Segundo seus
assessores, o presidente tem acompanhado com cautela o julgamento, mas a
impressão, até o momento, é de que há um placar relativamente
consolidado a favor de Temer. As ações em outras frentes, porém, trazem o
componente surpresa de um desgaste progressivo e com implicações que
ainda não podem ser contabilizadas.
Michel Temer ao longo dos dias e que o
órgão ainda tem “cartas na manga” não divulgadas. Auxiliares do
presidente foram surpreendidos pelo episódio que revelou o uso do avião
da JBS e acabaram desmentindo a versão inicial ao ter que admitir que
Temer, de fato, viajou em aeronave particular. A resposta apressada, que
depois teve de ser remendada, foi vista como equívoco no Planalto. O
episódio foi tratado por Temer, internamente, como um “esquecimento”.
O temor agora é sobre o impacto que este episódio e outros
relacionados podem ter sobre uma decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) a respeito das investigações contra Temer e sobre a permanência de
aliados na base de apoio ao governo no Congresso. O ambiente tenso
nesta quarta-feira ficou expresso na proibição a que jornalistas
circulassem pelo quarto andar do Palácio do Planalto, onde ficam os
gabinetes dos ministros da Casa Civil, da Secretaria de Governo e da
Secretaria-Geral. Em fevereiro, o governo havia restringido o acesso da
imprensa a esta área, mas a regra não era seguida à risca desde então.
Para um assessor do Planalto, o episódio do avião fragiliza Temer
porque ataca frontalmente duas das principais linhas de defesa do
presidente às acusações das delações da JBS, nos dois pronunciamentos
que fez sobre o tema: a de que Joesley é "falastrão" e a tentativa de
mostrar que não tinha relações pessoais com o empresário.
— Não acreditei na narrativa do empresário de que teria segurado
juízes. Ele é um conhecido falastrão, exagerado — declarou Temer no
último dia 18. Dois dias depois, atacou o delator mais fortemente, ainda
sem citar nomes:
— O autor do grampo está livre e solto passeando pelas ruas de Nova York – provocou Temer, na ocasião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário