Ministro da Economia italiano quer priorizar crescimento e empregos
Marie Charrel e Claire Gatinois - Le Monde
Na segunda-feira (28), Pier Carlo Padoan, o ministro italiano da
Economia e das Finanças, esteve em Bercy [sede do ministério] para
conversar com o ministro francês das Finanças, Michel Sapin. Ele
explicou ao "Le Monde" que a ideia não é formar uma frente comum com a
França para exigir mais flexibilidade de Bruxelas. A Itália quer fazer
do crescimento a prioridade de sua presidência da União Europeia, que
terá início no dia 1º de julho. Padoan acredita que esse é o meio de
reconciliar os cidadãos com o projeto da UE.
Le Monde: A Itália compartilha da mesma visão que a França quanto à solução da crise da Europa?
Pier Carlo Padoan: Concordamos
com o governo francês quanto a um objetivo essencial: a UE agora
precisa colocar ênfase no crescimento e no emprego. Os países realizaram
ajustes orçamentários e grandes esforços para recuperar sua
competitividade, sobretudo no sul. Esses ajustes devem continuar. Mas é
preciso enfatizar o crescimento e o emprego. É preciso pôr a mão na
massa e ser muito concreto.
Le Monde: O que a União Europeia pode fazer para apoiar o crescimento?
Padoan: Os
governos devem vigiar o impacto das reformas estruturais sobre o
orçamento. Quando bem concebidas, elas podem oferecer mais flexibilidade
ao processo de ajuste orçamentário – sempre respeitando as regras de
Bruxelas. Existem também grandes "jazidas" de crescimento não exploradas
dentro do mercado interno europeu. Um dos caminhos, por exemplo, está
na liberalização dos serviços, que representam 70% dos empregos na
Europa.
Le Monde: Será preciso pedir mais dinheiro à UE?
Padoan: Existe um mau uso dos fundos estruturais, inclusive em meu país. É possível utilizar os recursos em um prazo mais longo.
Le Monde: A regra dos 3% de déficit em relação ao PIB deve ser flexibilizada?
Padoan: Não.
O teto de 3% é indispensável para garantir a sustentabilidade da dívida
pública. Sobretudo para países como a Itália, que estão com um
endividamento elevado.
Le Monde: A França por um tempo quis pedir mais prazo para reduzir seu déficit. Isso o preocupa?
Padoan: Não.
O percurso de equilíbrio de cada um dos países-membros é difícil. A
Europa passou por ajustes complexos, e é preciso continuar! Claro,
existem diferenças na velocidade de ajuste. O importante é ter uma visão
comum. E entre a França e a Itália a filosofia é a mesma: diminuir os
impostos e financiar isso com a redução das despesas, melhorar o
crescimento com medidas estruturais.
Le Monde: O governo francês tentou fazer uma aliança com a Itália para persuadir Bruxelas.
Padoan: Não
gosto do termo "aliança": isso pressupõe a existência de um conflito!
Antes da crise, um dos objetivos da UE era melhorar o bem-estar dos
cidadãos colocando o crescimento e o emprego no centro de sua agenda, e
devemos voltar a ele. Mas esse não pode ser o objetivo somente da França
e da Itália. Todos os Estados-membros, inclusive os do norte, que
superaram mais rapidamente a crise, devem compartilhar dessa visão.
Le Monde: A Alemanha compartilha dessa visão?
Padoan: Sem comentários.
Le Monde: Um Parlamento Europeu mais à esquerda ajudaria a enfatizar o crescimento?
Padoan:Espero
sobretudo que dessas eleições saia uma maioria convicta de que a UE é
uma oportunidade, não um problema. O verdadeiro desafio é esse. É por
isso que é essencial que a Europa, que respondeu à crise primeiramente
mirando na redução dos déficits, agora coloque o crescimento no centro
de suas políticas. Os esforços nesse sentido foram insuficientes.
Le Monde: O senhor teme um tsunami dos partidos populistas na Itália?
Padoan: As
pesquisas mostram que esses partidos, contrários à UE, estão em
ascensão. Existe esse reflexo mais amplo de apontar a UE como culpada
pelo desemprego, mas isso é mentira. É preciso fazer com que os cidadãos
tentados a votar nesses partidos entendam que eles estão errados.
Le Monde: A economia italiana está melhor?
Padoan: Sim.
Após dois anos de recessão, nossa economia vai retomar o crescimento em
2014. É uma boa notícia, mas é só um começo. O desafio está em reforçar
a confiança para favorecer o crescimento. É por isso que acabamos de
reduzir os impostos das pessoas físicas e jurídicas, ao mesmo tempo em
que conduzimos reformas estruturais.
Le Monde: Seria algo sensato baixar os impostos agora que a dívida pública vai se aproximando de picos?
Padoan: É
verdade que nossa dívida pública é elevada, mas ela recuará já em 2015.
Além disso, sua dinâmica é uma das mais estáveis da Europa: temos um
excedente orçamentário primário, e nosso déficit público, de 2,6% este
ano, deverá ser de 1,8% em 2015. A redução dos impostos será financiada
por uma redução estrutural das despesas.
Le Monde: O euro está forte demais?
Padoan: O
euro está forte. Se ele estivesse mais fraco, seria melhor para a
Europa, não somente pela competitividade, mas também para evitar que os
preços recuem.
Le Monde: Foram cometidos erros na gestão da crise na Europa?
Padoan: Os
Estados Unidos usaram seus recursos para consertar o sistema bancário,
depois eles ajustaram o orçamento. Na Europa, fizemos o contrário.
Resultado: temos um problema estrutural de emprego (12% de
desempregados, contra 6,6% nos Estados Unidos).
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