quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ministro da Economia italiano quer priorizar crescimento e empregos
Marie Charrel e Claire Gatinois - Le Monde
Na segunda-feira (28), Pier Carlo Padoan, o ministro italiano da Economia e das Finanças, esteve em Bercy [sede do ministério] para conversar com o ministro francês das Finanças, Michel Sapin. Ele explicou ao "Le Monde" que a ideia não é formar uma frente comum com a França para exigir mais flexibilidade de Bruxelas. A Itália quer fazer do crescimento a prioridade de sua presidência da União Europeia, que terá início no dia 1º de julho. Padoan acredita que esse é o meio de reconciliar os cidadãos com o projeto da UE.
Le Monde: A Itália compartilha da mesma visão que a França quanto à solução da crise da Europa?
Pier Carlo Padoan: Concordamos com o governo francês quanto a um objetivo essencial: a UE agora precisa colocar ênfase no crescimento e no emprego. Os países realizaram ajustes orçamentários e grandes esforços para recuperar sua competitividade, sobretudo no sul. Esses ajustes devem continuar. Mas é preciso enfatizar o crescimento e o emprego. É preciso pôr a mão na massa e ser muito concreto.
Le Monde: O que a União Europeia pode fazer para apoiar o crescimento?
Padoan: Os governos devem vigiar o impacto das reformas estruturais sobre o orçamento. Quando bem concebidas, elas podem oferecer mais flexibilidade ao processo de ajuste orçamentário – sempre respeitando as regras de Bruxelas. Existem também grandes "jazidas" de crescimento não exploradas dentro do mercado interno europeu. Um dos caminhos, por exemplo, está na liberalização dos serviços, que representam 70% dos empregos na Europa.
Le Monde: Será preciso pedir mais dinheiro à UE?
Padoan: Existe um mau uso dos fundos estruturais, inclusive em meu país. É possível utilizar os recursos em um prazo mais longo.
Le Monde: A regra dos 3% de déficit em relação ao PIB deve ser flexibilizada?
Padoan: Não. O teto de 3% é indispensável para garantir a sustentabilidade da dívida pública. Sobretudo para países como a Itália, que estão com um endividamento elevado.
Le Monde: A França por um tempo quis pedir mais prazo para reduzir seu déficit. Isso o preocupa?
Padoan: Não. O percurso de equilíbrio de cada um dos países-membros é difícil. A Europa passou por ajustes complexos, e é preciso continuar! Claro, existem diferenças na velocidade de ajuste. O importante é ter uma visão comum. E entre a França e a Itália a filosofia é a mesma: diminuir os impostos e financiar isso com a redução das despesas, melhorar o crescimento com medidas estruturais.
Le Monde: O governo francês tentou fazer uma aliança com a Itália para persuadir Bruxelas.
Padoan: Não gosto do termo "aliança": isso pressupõe a existência de um conflito! Antes da crise, um dos objetivos da UE era melhorar o bem-estar dos cidadãos colocando o crescimento e o emprego no centro de sua agenda, e devemos voltar a ele. Mas esse não pode ser o objetivo somente da França e da Itália. Todos os Estados-membros, inclusive os do norte, que superaram mais rapidamente a crise, devem compartilhar dessa visão.
Le Monde: A Alemanha compartilha dessa visão?
Padoan: Sem comentários.
Le Monde: Um Parlamento Europeu mais à esquerda ajudaria a enfatizar o crescimento?
Padoan:Espero sobretudo que dessas eleições saia uma maioria convicta de que a UE é uma oportunidade, não um problema. O verdadeiro desafio é esse. É por isso que é essencial que a Europa, que respondeu à crise primeiramente mirando na redução dos déficits, agora coloque o crescimento no centro de suas políticas. Os esforços nesse sentido foram insuficientes.
Le Monde: O senhor teme um tsunami dos partidos populistas na Itália?
Padoan: As pesquisas mostram que esses partidos, contrários à UE, estão em ascensão. Existe esse reflexo mais amplo de apontar a UE como culpada pelo desemprego, mas isso é mentira. É preciso fazer com que os cidadãos tentados a votar nesses partidos entendam que eles estão errados.
Le Monde: A economia italiana está melhor?
Padoan: Sim. Após dois anos de recessão, nossa economia vai retomar o crescimento em 2014. É uma boa notícia, mas é só um começo. O desafio está em reforçar a confiança para favorecer o crescimento. É por isso que acabamos de reduzir os impostos das pessoas físicas e jurídicas, ao mesmo tempo em que conduzimos reformas estruturais.
Le Monde: Seria algo sensato baixar os impostos agora que a dívida pública vai se aproximando de picos?
Padoan: É verdade que nossa dívida pública é elevada, mas ela recuará já em 2015. Além disso, sua dinâmica é uma das mais estáveis da Europa: temos um excedente orçamentário primário, e nosso déficit público, de 2,6% este ano, deverá ser de 1,8% em 2015. A redução dos impostos será financiada por uma redução estrutural das despesas.
Le Monde: O euro está forte demais?
Padoan: O euro está forte. Se ele estivesse mais fraco, seria melhor para a Europa, não somente pela competitividade, mas também para evitar que os preços recuem.
Le Monde: Foram cometidos erros na gestão da crise na Europa?
Padoan: Os Estados Unidos usaram seus recursos para consertar o sistema bancário, depois eles ajustaram o orçamento. Na Europa, fizemos o contrário. Resultado: temos um problema estrutural de emprego (12% de desempregados, contra 6,6% nos Estados Unidos).

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