Populismo avança no Reino Unido, apesar dos escândalos
Walter Oppenheimer - El PaísSe, como disse Blaise Pascal (físico e teólogo francês), "o coração tem razões que a razão não entende", também é verdade, cada vez mais, que os eleitores têm razões que a razão não entende. Pelo menos é o que parece entre os eleitores britânicos, cujo apoio ao populista Ukip (Partido da Independência do Reino Unido na sigla em inglês) sobe ao mesmo tempo que crescem os escândalos em torno dessa formação.
Duas pesquisas lhe dão a vitória nas próximas eleições europeias,
apesar de um dos candidatos ter pedido a um comediante negro que vá
viver em um país de negros; apesar de seu líder, Nigel Farage, ter tido
dificuldade para justificar o destino dos milhares de euros que recebe
todo ano do Parlamento Europeu para gastos parlamentares; e apesar de o
próprio Farage empregar como secretária uma cidadã alemã, sua mulher, ao
mesmo tempo que denuncia que os continentais estão deixando os
britânicos sem emprego.
Talvez a ascensão do Ukip não seja apesar desses escândalos, e sim graças a eles. No fim das contas, supõe-se que seja um partido de protesto e que qualquer ataque dessa formação seja percebido como uma reação do "establishment" contra uma formação alternativa. Que seus representantes se comportem como o resto da classe política é o de menos. Por isso, para a população é igual que Farage empregue sua mulher ou que esta seja estrangeira e ao mesmo tempo alguns exijam do líder liberal-democrata, Nick Clegg, responsabilidades pelos abusos sexuais cometidos por um antigo barão do partido, Cyril Smith, quando ele tinha 12 anos.
Nesse ambiente revolto e confuso, Farage e o Ukip se movem como peixes na água e as pesquisas lhe dão 31% dos votos nas eleições europeias, 3 pontos à frente dos trabalhistas e muito acima dos conservadores (19%) e dos liberais (9%). É a segunda vez que o Ukip fica em primeiro nas pesquisas e, caso se confirme na hora da votação, seria a primeira vez que ganha eleições nacionais.
O que não está claro é se isso seria o terremoto político previsto pelo líder do Ukip. Afinal, já faz tempo que essa formação obtém muito bons resultados nas eleições europeias, mas sem que isso se traduza em um peso eleitoral geral. Em 2009 o Ukip foi o segundo, com 16,5% dos votos e 13 eurodeputados. E cinco anos antes ficou em terceiro, com 16,1%. Talvez o mais perigoso seja que desta vez o que anima o voto no Ukip não são apenas suas tradicionais posições contra a UE, mas sua fobia declarada contra os imigrantes, tanto os procedentes de outros países como os da UE, apesar de haver mais britânicos vivendo no continente do que continentais no Reino Unido.
Um dos últimos escândalos são uns cartazes publicitários nos quais se vê um operário britânico sentado na rua pedindo esmola por culpa da UE. Depois se soube que na realidade se trata de um ator irlandês contratado pelo partido. O Ukip também apoiou um de seus candidatos nas municipais, William Henwood, apesar de este ter instado o ator britânico Lenny Henry a emigrar "para um país negro" por ter-se queixado de que na BBC aparecem poucos representantes de minorias.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Talvez a ascensão do Ukip não seja apesar desses escândalos, e sim graças a eles. No fim das contas, supõe-se que seja um partido de protesto e que qualquer ataque dessa formação seja percebido como uma reação do "establishment" contra uma formação alternativa. Que seus representantes se comportem como o resto da classe política é o de menos. Por isso, para a população é igual que Farage empregue sua mulher ou que esta seja estrangeira e ao mesmo tempo alguns exijam do líder liberal-democrata, Nick Clegg, responsabilidades pelos abusos sexuais cometidos por um antigo barão do partido, Cyril Smith, quando ele tinha 12 anos.
Nesse ambiente revolto e confuso, Farage e o Ukip se movem como peixes na água e as pesquisas lhe dão 31% dos votos nas eleições europeias, 3 pontos à frente dos trabalhistas e muito acima dos conservadores (19%) e dos liberais (9%). É a segunda vez que o Ukip fica em primeiro nas pesquisas e, caso se confirme na hora da votação, seria a primeira vez que ganha eleições nacionais.
O que não está claro é se isso seria o terremoto político previsto pelo líder do Ukip. Afinal, já faz tempo que essa formação obtém muito bons resultados nas eleições europeias, mas sem que isso se traduza em um peso eleitoral geral. Em 2009 o Ukip foi o segundo, com 16,5% dos votos e 13 eurodeputados. E cinco anos antes ficou em terceiro, com 16,1%. Talvez o mais perigoso seja que desta vez o que anima o voto no Ukip não são apenas suas tradicionais posições contra a UE, mas sua fobia declarada contra os imigrantes, tanto os procedentes de outros países como os da UE, apesar de haver mais britânicos vivendo no continente do que continentais no Reino Unido.
Um dos últimos escândalos são uns cartazes publicitários nos quais se vê um operário britânico sentado na rua pedindo esmola por culpa da UE. Depois se soube que na realidade se trata de um ator irlandês contratado pelo partido. O Ukip também apoiou um de seus candidatos nas municipais, William Henwood, apesar de este ter instado o ator britânico Lenny Henry a emigrar "para um país negro" por ter-se queixado de que na BBC aparecem poucos representantes de minorias.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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