quinta-feira, 1 de maio de 2014

Tempestades deixam rastro de destruição no sul e meio-oeste dos EUA
Alan Blinder e Manny Fernandez - NYT
Ryan Henry estava do lado de fora de sua casa de alvenaria quando viu o tornando se aproximar de seu bairro, destruindo boa parte desta pequena cidade no centro de Arkansas (EUA). Ele correu para dentro, pegou uma coberta e foi para o banheiro, onde suas três filhas já estavam dentro da banheira. Ele colocou seu corpo sobre as meninas - duas gêmeas de nove anos e uma de oito anos - e esperou.
"Usei minhas pernas e antebraços para empurrar de alguma forma a banheira", relatou Henry, 31. "A casa começou a ressoar. Parecia um F-16. O barulho durou uns 10 segundos ou mais, e então começamos a ouvir as coisas sendo arrancadas. Uma vez que as coisas começaram a ser arrancadas, tudo começou a tremer."
Raramente ciclones atingem a mesma cidade com tamanha ferocidade ao longo do mesmo caminho, mas na cidade de Vilonia, o tornado do último domingo foi um pesadelo revisitado. Há quase três anos, um tornado varreu a cidade de cerca de 3.800 moradores, arrancando cabos de eletricidade, destruindo casas e deixando-as expostas às chuvas torrenciais que se seguiram.
Para alguns, como Karen Seeds, uma funcionária aposentada do Kmart que sobreviveu à primeira tempestade, foi difícil suportar. "Podíamos ouvir parte da casa caindo, e eu pensava: não acredito que isso está acontecendo de novo. Tudo se resumiu a choque e torpor."
Henry e suas filhas sobreviveram, arrastando-se para fora da banheira virada quase 30 minutos depois que a tempestade atingiu a cidade no começo da noite. Mas pelo menos 11 pessoas morreram em Faulkner County. O tornado que atingiu o local fazia parte de um sistema de tempestades que se estendeu por todo o meio-oeste americano antes de rumar para o sul. Autoridades locais e estaduais disseram que pelo menos 17 pessoas morreram, 15 em Arkansas, uma em Oklahoma e outra em Iowa. "A devastação, em termos de força, pode ter sido a maior que já vimos", disse o governador Mike Beebe de Arkansas na segunda-feira depois de visitar os estragos no local.
E enquanto autoridades de Vilonia celebravam o sucesso de um cômodo de emergência na escola de segundo grau, também reconheceram que não haviam planejado a construção de um espaço como este na nova escola que deve ser inaugurada este ano. Quando o tornado passou, a escola de milhões de dólares sofreu danos significativos.
Na cidade próxima de Mayflower, uma mulher morreu, apesar de seus esforços de esperar pela tempestade em um cômodo de emergência."A casa se foi, o cômodo de emergência continua lá, mas ela morreu lá dentro quando os destroços atingiram a porta do cômodo seguro", disse Beebe. "Ela fez tudo o que sabia fazer e, ainda assim, perdeu a vida."
Na segunda-feira o sul ainda aguardava mais tempo ruim. Em Tupelo, Mississipi, um tornado deixou danos extensos, disseram autoridades e moradores. Os meteorologistas emitiram alertas por toda a região. Danos por tornados também foram reportados em Limestone Coynty, Alabama, onde as equipes de busca estavam atuando, de acordo com autoridades do condado.
Na noite de segunda-feira, o governador Robert Bentley do Alabama declarou estado de emergência, dizendo que as comunidades haviam experimentado "danos significativos" de tornados que passaram pelo Estado.
Zack Diemer, que mora em Vilonia desde 1998 e é gerente da loja de peças automobilísticas Main Street, que foi destruída, disse com a voz trêmula: "esta é minha cidade. Muita gente ainda estava juntando os pedaços desde o último e agora temos que juntar os pedaços mais uma vez".
Enquanto voluntários se espalhavam com garrafas de água e serras elétricas por toda Vilonia, uma cidade de classe média e operários ao norte de Little Rock, esforçavam-se para entender a escala da devastação em um lugar onde a maior parte da vida é centrada na Main Street e no belo estádio de futebol da Vilonia High School.
"É uma cidade que não tem nenhum clube noturno", disse o senador estadual Eddie Joe Williams. "Não tem uma loja de bebidas, e nas noites de sexta-feira, há cerca de 5 mil jovens jogando beisebol ou futebol ou futebol americano."
Chelsea Wright, uma caloura do segundo grau, estava vasculhando o que antes era uma loja Dollar General uma vez que o gerente deu permissão para que ela e os amigos procurassem alimentos que pudessem ser oferecidos para as pessoas na cidade. "Eu esperava que as coisas estivessem como da última vez, mas está muito pior", disse Wright.
A tempestade desta semana ofereceu um teste novo e urgente para uma cidade que estava trabalhando para voltar à normalidade depois do desastre de três anos atrás. "Passamos por isso", disse o prefeito James Firestone. "É basicamente o melhor que se pode dizer."
Em Mayflower, as pessoas que recolhiam os pedaços de suas casas, lojas e igrejas, fizeram isso sob um céu azul acinzentado acompanhado por um sol forte. Isso tornou a tarefa ainda mais surreal.
Na manhã de domingo, Jonathan Spickes, 40, estivera na Igreja LifeLine, uma congregação sem denominação próxima à rodovia Interestadual 40, dando aulas com sua mulher. Na tarde de segunda-feira, o local era uma mistura de vigas de madeira, concreto e metal destruídos.
O tornado passou por dentro da igreja, derrubando seções de paredes de concreto e do teto e transformando o santuário e as salas numa pilha de escombros. Faixas do teto de metal estavam enroladas em torno do poste da placa eletrônica da igreja, dobrada, como se fosse um arco. Se não fosse pela bandeira vermelha com uma imagem de uma cruz e a palavra "Ore" pendurada na frente, o prédio não poderia ser reconhecido como uma igreja.
"Quando eu cheguei aqui, foi difícil", disse Spickes. "Houve lágrimas. O Senhor tomará conta de nós, e nós vamos nos recuperar. Nós vamos superar isso. A igreja é apenas um prédio. As pessoas são a igreja."
Membros da LifeLine passaram a segunda-feira separando as cadeiras que poderiam ser recuperadas e erguendo pedaços quebrados de paredes e do teto. Um pequeno grupo de membros da igreja esteve no interior do santuário estudando a Bíblia na noite de domingo, mas eles saíram uma hora antes de o tornado atingir o local. O susto estava na mente dos trabalhadores que vasculhavam os escombros. "Vamos fazer uma oração", disse Spickes, "e depois simplesmente vamos trabalhar".
Tradutor: Eloise de Vylder

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