segunda-feira, 2 de março de 2015

Um tsunami de pessimismo
O Estado de S.Paulo
Com a inflação alta, a perda de renda familiar, a piora do mercado de emprego e o bombardeio de más notícias de todos os lados, nada parece mais natural que o pessimismo crescente de consumidores, comerciantes e industriais. A presidente Dilma Rousseff poderia atribuir esse mau humor à desinformação - argumento já usado para desqualificar a Moody's, agência de classificação de risco, depois do rebaixamento da nota de crédito da Petrobrás. Não há como levar a sério esse esperneio, assim como é impossível esperar um grande 2015 quando todo o noticiário mostra um cenário de graves dificuldades. De dezembro para janeiro, foram eliminados 235 mil empregos com carteira assinada no setor privado, nas seis maiores áreas metropolitanas, segundo informou na quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com janeiro de 2014, a perda foi de 224 mil vagas formais. Em todo o País, 81.774 vagas formais foram perdidas em janeiro, segundo o cadastro levantado mensalmente pelo Ministério do Trabalho.
O aumento do desemprego nas seis maiores áreas metropolitanas torna sombrio o conjunto dos indicadores econômicos. O levantamento mensal de emprego do IBGE, realizado nessas áreas, normalmente aponta um quadro bem melhor que o descrito na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, conduzida em cerca de 3.500 municípios. Segundo esta pesquisa, o desemprego diminuiu do terceiro para o quarto trimestre, mas ainda ficou em 6,5%, bem acima do nível estimado para os seis principais conjuntos urbanos. No cenário do emprego, nada justifica, neste momento, algum otimismo em relação ao nível de atividade.
De dezembro para janeiro, o desemprego medido nesse levantamento mais limitado passou de 4,3% para 5,3%. A desocupação sempre aumenta nessa época, mas desta vez a variação foi além da tendência sazonal - um claro reflexo do baixo nível da atividade industrial, do fraco desempenho do comércio e do enfraquecimento do setor de serviços. A piora em todas essas atividades vem sendo mostrada seguidamente pelos dados mensais do IBGE.
O pior desempenho continua sendo o da indústria e isso tem afetado sensivelmente o mercado de emprego. Os maiores cortes de vagas nas seis áreas metropolitanas ocorreram no setor industrial. Foram eliminados 216 mil postos entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015, com redução de 6% no contingente de ocupados. No comércio, apesar da piora das vendas no segundo semestre, o número de ocupados ainda cresceu 0,3% em 12 meses, com a contratação de 11 mil funcionários. Mas o índice de confiança do empresário comercial caiu 8,8% de janeiro para fevereiro, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi a quarta queda consecutiva e o nível atingido foi 20,3% mais baixo que o de fevereiro do ano passado.
Tanto na sondagem da FGV quanto na realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) as expectativas do consumidor também pioraram. A pesquisa da FGV mostrou um recuo de 4,9% entre janeiro e fevereiro e uma piora de 20,4% em relação ao dado de um ano antes. Segundo o levantamento da CNI, o nível em fevereiro foi 4% inferior ao de janeiro e 8,1% inferior ao de fevereiro de 2013.
No caso do empresário industrial, o índice de confiança recuou 4,2 pontos e atingiu o menor nível da série iniciada em 1999, de acordo com a CNI. Houve piora tanto da avaliação das condições atuais quanto das expectativas em relação aos seis meses seguintes.
O mau humor de consumidores, comerciantes e industriais prejudica tanto a disposição de ir às lojas quanto a de investir e contratar. Esse quadro de pessimismo tornará muito mais difícil o cumprimento de duas das promessas da nova equipe econômica, o ajuste das contas públicas e a retomada do crescimento econômico. Sem negar ou disfarçar os custos do ajuste, a equipe terá de se esforçar para convencer consumidores e empresários a apostar na recuperação do País. A mera negação dos problemas, discurso habitual da presidente, só servirá para atrapalhar.

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