A China no feirão da Petrobras
A boa notícia é que Pequim quer fazer negócios com o Brasil, a má é que eles não fazem perguntas incômodas
Elio Gaspari - FSP
A crise da Petrobras abriu uma temporada de oportunidades no mercado
mundial de energia, com empresas e concessões à venda. Para os
americanos e europeus, a Lava Jato mostrou que esse é um campo minado
por propinas e ligações perigosas. Para a China, esses riscos são
desprezíveis. Ela já é o maior parceiro comercial do Brasil, precisa de
petróleo e vem expandindo sua presença na América Latina. Há pouco os
chineses socorreram a Petrobras com um empréstimo de US$ 3,5 bilhões.
Essa poderia ser uma situação virtuosa, mas em seus negócios com a China
o governo brasileiro trabalha de forma incompetente, pensando mais em
marquetagens. Em 2004, quando o presidente Hu Jintao visitou Brasília,
deram-lhe um intérprete que transformou uma promessa de comércio em
anúncio de investimento. Em 2011 a doutora Dilma foi à China e de sua
comitiva saiu a notícia de que a empresa Foxconn investiria US$ 12
bilhões em seis anos produzindo iPhones e iPads mais baratos em
Pindorama. Lorota. Passaram-se quatro anos, a Foxconn beneficiou-se com
incentivos e doações de terrenos, investiu menos de US$ 2 bilhões,
produz iPhones e iPads, mas para os brasileiros eles continuam a ser os
mais caros do mundo.
Quem já negociou com o governo e empresas chinesas ensina: "Eles sentam
para conversar sabendo o que querem. Nós sentamos sem saber sequer o que
queremos". O governo brasileiro já lidou com o que Lula chamou de
"decisão ideológica". Foi assim que decidiu associar a Petrobras a uma
empresa chinesa no projeto de um gasoduto de mil quilômetros entre o
Espírito Santo e a Bahia. A iniciativa foi tocada por uma empresa de
fachada.
O pior dos mundos seria um casamento de petrocomissários como Pedro
Barusco com mandarins semelhantes a Zhou Yongkang. O companheiro Zhou
foi um dos homens mais poderosos da China e começou a vida no mundo do
petróleo. Em breve ele irá a julgamento, e seu filho está na cadeia. A
Petrobras estimou que a corrupção custou-lhe R$ 6,2 bilhões. Mixaria. O
governo chinês já confiscou US$ 14,5 bilhões de Zhou, sua família e seus
comparsas.
ASTROLOGIA
Os astrólogos do Planalto acreditam que a maré de impopularidade da doutora Dilma começou a refluir.
Ela sairia do oitavo círculo do inferno, onde ficam os mentirosos, para o sétimo, o dos criadores de conflitos sociais.
LOGO QUEM
Lula ensinou: "O mundo precisa acabar com o preconceito contra a África".
Preconceituoso seria o sujeito que, ao ver ruas limpas na capital da
Namíbia, diz o seguinte: "Estou surpreso porque para quem chega em
Windhoek não parece que está num país africano". Suas palavras, em 2003.
RAVENSBRUCK
Saiu nos Estados Unidos um belo livro contando a história do campo de
extermínio de Ravensbruck, onde Olga Benário, a mulher de Luiz Carlos
Prestes, foi mandada para a câmara de gás em 1942. Era um campo só de
mulheres. Como ficava dentro da Alemanha, é pouco lembrado. A jornalista
Sarah Helm conta sua história com emoção e olho feminino. Nele talvez
haja uma novidade: os serviços de informações ingleses impediram que
comunistas do porto de Southampton resgatassem Olga do navio que a
levava a Hamburgo. A empresa Siemens ainda não se desculpou por ter
mantido no campo uma fábrica movida a trabalho escravo.
Assim é a vida. Filinto Müller, o chefe de polícia de Getúlio Vargas,
ficou com a conta da deportação de Olga, grávida de sete meses, mas a
decisão foi tomada numa reunião ministerial, onde ele tinha voz, mas não
tinha voto. O ministro da Justiça Vicente Rao assinou com Getúlio o ato
de expulsão de Olga. Mais: a deportação foi assegurada pelo Supremo
Tribunal Federal.
Serviço: "Ravensbruck" está na rede por US$ 5,99.
DILMA
O grande argumento que acompanhou o convite a Michel Temer para assumir a
coordenação política do governo foi o de que, àquela altura, se ele
recusasse o cargo, o governo acabaria.
Era exagero, mas, antes de acabar, deve começar. Como ensina o professor
Delfim Netto, para funcionar, um governo precisa fazer o seguinte:
"Você tem que abrir a quitanda às seis da manhã, colocar os as
beringelas no balcão e conferir o caixa para ver se há troco para as
freguesas."
AÉCIO
O senador Aécio Neves baixará o tom em relação ao impedimento da doutora
Dilma. Resta saber o que colocará no balcão do PSDB. Desde que a
doutora sequestrou-lhe a agenda econômica, Aécio transformou-se no
trombone da orquestra, faz barulho com pouca melodia.
EREMILDO, O IDIOTA
Com o apoio da oposição, o Congresso resolveu dar R$ 867 milhões aos
partidos políticos. A doutora Dilma sancionou o mimo e continua
prometendo um aperto fiscal.
Eremildo é um idiota e fez a conta. Cada brasileiro adulto doará R$ 6,50
aos maganos. Não é nada, não é nada, é o preço de dois litros de leite,
com direito a troco.
A hora de serviço do trabalhador que ganha um salário mínimo vale R$ 3,58.
MUDANÇA DE CLIMA
Parlamentares que pareciam zumbis quando se falava da "Lista do Janot",
adquiriram uma nova vida. Circulam sorridentes por Brasília.
Isso se deve, em parte, à constatação de que o Ministério Público e a
Polícia Federal estão batendo cabeças por causa do ritual de tomada de
depoimentos.
Quem deve, não teme depoimento, teme diligências e investigações.
O SALTO ALTO DOS DOUTORES DA LAVA JATO
O juiz Sérgio Moro esqueceu-se do versinho: "A vida é uma arte, errar
faz parte". Desde novembro ele se transformou numa esperança de correção
e rigor. Botou maganos na cadeia, desmontou as empulhações do governo,
da Petrobras e das empreiteiras. Tomou centenas de providências, mas
deu-se mal quando prorrogou a prisão de Marice Correa de Lima, cunhada
do comissário João Vaccari Neto. Aceitou a prova de um vídeo obtido pela
Polícia Federal, endossada pelo Ministério Público, na qual ela foi
confundida com Giselda, sua irmã.
Desde o primeiro momento o advogado de Marice disse que a senhora
mostrada no vídeo era Giselda. A própria Giselda informou que era ela
quem aparecia no vídeo. Depois de manter a cidadã presa por vários dias,
Moro mandou soltá-la dizendo que "neste momento processual, porém, não
tem mais este Juízo certeza da correção da premissa utilizada". Caso
típico para uma bolsa de Madame Natasha. Não se tratava de ter ou não
certeza, mas de admitir que houve um erro. O Ministério Público não
comentou a trapalhada e todos esperam por uma perícia da Polícia
Federal.
Juízes, procuradores e policiais engrandecidos pela opinião pública
tendem a confiar na própria infalibilidade e acham que admitir erro é
vergonha. É o contrário. Não custa repetir a explicação do juiz David
Souter num voto dado na Corte Suprema, ao admitir que contrariava o que
dissera noutro julgamento: "Ignorância, meus senhores, ignorância".
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