Dilma defende que terceirização fique restrita à atividade-meio das empresas
Presidente afirmou que fará ‘esforço’ para que os direitos e as garantias dos trabalhadores sejam mantidos
Luiza Damé - O Globo
Em encontro com as centrais sindicais no Palácio do Planalto, a
presidente Dilma Rousseff defendeu a regulamentação da terceirização,
mas restrita às atividades-meio, de forma a evitar o que chamou de
"pejotização" e garantir o financiamento da Previdência Social.
— É urgente e necessário regulamentar o trabalho terceirizado no
Brasil para que milhões de trabalhadores e trabalhadoras tenham proteção
no emprego e garantia de salário digno, também é importante para os
empresários, porque significa segurança para eles, uma legislação clara
sobre terceirização. No entanto, a regulamentação do trabalho
terceirizado precisa manter, do nosso ponto de vista, a diferenciação
entre atividades-fim e atividades-meio, nos mais diversos ramos da
atividade econômica. Para nós, isso é necessário para assegurar que o
trabalhador tenha a garantia dos direitos conquistados nas negociações
salariais e também por uma razão ligada à nossa Previdência, para
proteger a Previdência Social da perda de recursos, garantindo sua
sustentabilidade. Obviamente para impedir que haja uma desorganização
das relações de trabalho, com incentivo à chamada pejotização, que
precariza as atividades e as relações de trabalho — disse a presidente.
Ela decidiu não fazer pronunciamento pelo Dia do Trabalho, mas passou
o recado do governo, transmitindo ao vivo seu discurso na abertura da
reunião com as centrais. Sem citar o governo tucano do Paraná, a
presidente criticou a violência contra protestos de trabalhadores.
Segundo Dilma, "o esforço e o compromisso" do governo serão para que,
após a discussão e votação do projeto da terceirização — atualmente em
tramitação no Senado — "os direitos e as garantias dos trabalhadores
sejam mantidos".
— E tudo faremos para contribuir para isso, através do princípio do
diálogo. Aliás, diálogo é algo que nós devemos enfatizar neste momento
no Brasil em que vemos alguns acontecimentos bastante graves no que se
refere à relação com os trabalhadores que reivindicam — argumentou
Dilma.
A presidente recebeu representantes da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
(CTB), Nova Central Sindical, Central Dos Sindicatos Brasileiros (CSB),
Força Sindical, União Geral de Trabalhadores (UGT) e Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Ela anunciou a criação, por decreto, do Fórum de Debates de Políticas
de Emprego, Trabalho, Renda e Previdência, integrado por representantes
dos trabalhadores, dos aposentados e pensionistas, dos empresários e do
governo, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência.
— Nada melhor do que o diálogo franco e transparente entre os
segmentos sociais são direta ou indiretamente beneficiados por medidas —
disse a presidente, em seguida criticando a violência contra
trabalhadores.
— Para construir consensos e evitar violência, um único caminho
existe: o caminho do diálogo. Esse caminho do diálogo é saber conviver
com a diferença. Nós temos, nos últimos anos, convivido com todas as
diferenças. Sempre achamos que o Brasil é um país grande demais, diverso
demais, múltiplo demais para que haja um único caminho e que o melhor
caminho é aquele que a gente acorda juntos, concorda juntos, constrói
juntos. Daí porque nós consideramos que as manifestações dos
trabalhadores são legítimas e que nós temos de estabelecer esse diálogo,
sem violência. O princípio é respeito às manifestações democráticas,
respeito às diferenças de opinião, diálogo, quando elas aparecem, e ao
mesmo tempo repúdio integral à violência.
Professores em greve e policiais militares entraram em confronto ontem em Curitiba, com mais de 200 feridos.
Estão na reunião com as centrais, os ministros Aloizio Mercadante
(Casa Civil), Carlos Gabas (Previdência), Manoel Dias (Trabalho), Miguel
Rossetto (Secretaria Geral), Nelson Barbosa (Planejamento), Joaquim
Levy (Fazenda) e Edinho Silva (Comunicação Social). O fórum, segundo
Dilma, vai tratar da sustentabilidade do sistema previdenciário, com
ampliação da cobertura e fortalecimento dos mecanismos de financiamento,
regras de acesso, incluindo idade mínima, tempo de contribuição e fator
previdenciário, políticas de fortalecimento do emprego, do trabalho e
da renda, medidas de redução da rotatividade no mercado de trabalho,
formalização e aperfeiçoamento das relações trabalhistas, mecanismos,
propostas e políticas de aumento da produtividade do trabalho.
— Para nós que defendemos o diálogo, que achamos que, mesmo tendo
posições diferentes sobre alguns assuntos, podemos construir propostas
comuns e consensos e que achamos que esse é o melhor caminho, vai nos
caber definir estratégias e construir os instrumentos mais eficientes
para que os nossos objetivos sejam construídos — afirmou.
A presidente afirmou que, apesar da crise internacional, o governo
adotou medidas para estimular a economia brasileira, gerando empregos e
renda, criou subsídios para o crédito, ampliou políticas sociais e
aumentou o investimento público. Dilma argumentou que, diante o
endurecimento da crise, será necessário rever essas políticas e aprovar o
ajuste fiscal para que o país volte a crescer em bases sólidas. Dilma
lembrou que mandou para o Congresso as propostas de reajuste do salário
mínimo até 2019 e de correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa
Física.
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