Prefeitura inicia ação, governo diz que não foi avisado e viciados reagem
Usuários de drogas foram feridos por PMs, o que foi seguido de corre-corre no centro, furtos e barricadas
ARTUR RODRIGUES, FABRÍCIO LOBEL, FELIPE SOUZA E GIBA BENJAMIM JR. - FSP
Uma ação desarticulada da prefeitura e do governo do Estado na região da
cracolândia transformou o centro de São Paulo numa praça de guerra
nesta quarta (29).
ARTUR RODRIGUES, FABRÍCIO LOBEL, FELIPE SOUZA E GIBA BENJAMIM JR. - FSP
Policiais militares feriram viciados a bala, e usuários de drogas ameaçaram pedestres com facas e pedaços de pau, apedrejaram ônibus e furtaram motoristas --tudo isso em meio a bombas de gás, barricadas de fogo, "guerra" de pedras e comerciantes correndo para fechar as portas.
De manhã, a prefeitura colocou em operação uma nova ofensiva para acabar com a chamada "favelinha", conjunto de barracos dos viciados.
A gestão Fernando Haddad (PT) diz que a intenção é acabar com os traficantes da área. Ela avisou aos dependentes que os barracos seriam desmontados e não mais poderiam ser reerguidos.
Com isso, esperava que eles aderissem ao programa municipal para dependentes, que oferece um quarto de hotel, refeição e um emprego.
A ação seria acompanhada da ofensiva das polícias Civil e Militar contra o tráfico, mas o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) diz não ter sido avisado antecipadamente --e só mandou efetivo mais tarde, depois de negociação.
A troca de responsabilidade ocorreu entre Haddad e o secretário estadual da Segurança, Alexandre de Moraes.
TIROS E FERIDOS
O primeiro confronto ocorreu às 14h. PMs à paisana se infiltraram na região e foram "descobertos" por um grupo de viciados, que se aproximou e tentou agredi-los.
Cercado, um dos policiais sacou a arma e fez disparos. Um dos tiros acertou o chão, ricocheteou e atingiu a perna de um usuário. Outro dependente foi atingido de raspão no pescoço pelos estilhaços --mas nenhum corria risco de morte. Segundo o governo do Estado, um PM foi agredido com uma barra de ferro.
A usuária de drogas Daniela de Oliveira, 25, disse que estava próxima quando ocorreu a confusão. "Eles [viciados] tumultuaram pra cima dos policiais, aí os policiais deram um tiro para cima. Agora acho que eles [usuários] vão tumultuar por causa desses tiros", disse.
E os usuários de fato "tumultuaram" em seguida.
A partir do meio da tarde, já sem um local fixo para dormir, eles se espalharam pelo centro, em confronto com PMs e integrantes da guarda civil, ligada à prefeitura.
Carrinhos, barracas e mochilas, antes confinados numa esquina, se espalharam. À noite, em torno de 300 dependentes se aglomeravam a uma quadra da antiga "favelinha".
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