Atitudes machistas do Estado Islâmico atraem seguidores
FERNANDO BRANCOLI - FSP
Dia 22 de janeiro. Allen escreve: "O grande ponto é entender [que o
Estado Islâmico] sabe como tratar essas mulheres hoje em dia. Leis
simples, sem modificações. Você sai da linha, recebe o que está escrito.
É nisso que temos que investir: a volta de um sistema claro, que
coloque as vadias em casa".
Cinco dias depois, Baumann11 responde: "Mais importante que toda essa
conversa é: quem quer realmente ir para lá? Não é difícil comprar uma
passagem e achar os caras certos. Se vocês realmente querem mudar essa
porcaria que está aí, têm que colocar os pés na lama. Têm que ir para
lá".
As análises a respeito do Estado Islâmico (EI) ressaltam o caráter
fundamentalista das suas ações, baseadas em interpretações conservadoras
das leis muçulmanas.
O poder de atração do grupo em jovens ocidentais teria como centro de
análise os valores subvertidos do islamismo. Mas a religião e sua
suposta resposta a um estilo de vida corrompido, ocidental, já não são a
única variável para compreender por que europeus, por exemplo, decidem
largar tudo e se juntar ao grupo terrorista.
Em pesquisa do Departamento de Global Studies da Universidade da
Califórnia, sob supervisão do professor Paul Amar, encontrei nos últimos
meses grupos machistas e autodeclarados ateus se reunindo na internet e
planejando se unir à facção.
A justificativa surpreendia: os terroristas seriam o melhor exemplo de como mulheres deveriam ser tratadas.
Os fundamentalistas foram acusados de usar de violência sexual como
estratégia de guerra e de vender meninas da minoria yazidi no Iraque.
As ações eram festejadas em tais fóruns. Esse tipo de movimento machista
radical tem registros, inclusive, no Brasil. A Polícia Federal já
investigou, nos últimos anos, blogs que ameaçavam ativistas feministas
ou pregavam violência contra mulheres.
As mensagens estavam postadas em fóruns na chamada Deepweb, uma série de
sites que só podem ser acessados com softwares específicos e
normalmente ficam fora do radar de autoridades.
Em um primeiro momento, a análise é de que a vontade de se unir ao EI se
trata de bravatas machistas, típicas de espaços on-line.
Contudo, pesquisas de campo realizadas no Líbano e na Síria, nas últimas
semanas, comprovaram as suspeitas. Um membro do controle de fronteiras
do Líbano afirmou que já existe uma "restrição maior para indivíduos
ocidentais não tradicionais [não islâmicos ou não descendentes árabes]",
dada a percepção de que eles vêm se juntando ao EI.
Entrevistas com oficiais de segurança em Beirute e em Damasco, assim
como diplomatas ocidentais, passavam a mesma mensagem: já existiam
registros --e operações de segurança específicas-- para lidar com um
crescente grupo de ocidentais que não se encaixavam no "modelo padrão"
de novos membros do Estado Islâmico.
Jovens de origem árabe ou islâmicos seriam monitorados tradicionalmente,
enquanto esse novo grupo conseguiria circular sem maiores problemas.
Apesar de ninguém ter números consolidados de quantos seriam, é unânime a
impressão de que é um fluxo cada vez maior.
A conformação de que jovens estariam se unindo ao Estado Islâmico por
razões de idolatria misógina não é só um exemplo grotesco de como
violência pode ser uma força de atração --mas também pode representar
novas ameaças à própria lógica para lidar com terroristas.
Não é difícil imaginar que esses novos membros podem retornar ao seu
país de origem, longe das listas de tradicionais suspeitos, e replicarem
práticas violentas.
A dinâmica também cria complicações nas estruturas tradicionais de
combate ao terror. A criação de instituições democráticas nas nações que
abrigariam tais grupos, como o Afeganistão, impediria que eles
surgissem no futuro. A existência de jovens nascidos e criados no
Ocidente inverte essa lógica.
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