quinta-feira, 30 de abril de 2015

Protesto na Assembleia do PR termina com 170 feridos
PM usou bombas, balas de borracha e jatos de água para impedir invasão
Servidores tentavam bloquear projeto de Beto Richa (PSDB) que reduz contribuições do governo para pensões
ESTELITA HASS CARAZZAI/ADRIANA BRUM - FSP
Confronto entre PMs e servidores do Paraná em frente à Assembleia Legislativa local deixou ao menos 170 pessoas feridas --43 hospitalizadas-- na tarde desta quarta (29).
A confusão se acirrou em meio à votação na Casa, a portas fechadas, de um projeto do governador Beto Richa (PSDB) que reduz repasses do governo para pensões e transfere inativos de fundos previdenciários.
Foram ao menos duas horas de violência, que começou quando manifestantes tentaram romper o cerco da polícia na Assembleia. A PM usou bombas de gás, balas de borracha e jatos de água.
Na primeira hora, bombas eram lançadas ininterruptamente sobre os presentes. Alguns chegaram a achar que elas caíam do helicóptero da polícia. "Vinha bomba do céu", disse a professora Thelma Rossa, 36 anos, atendida após desmaiar na confusão.
Do outro lado, um grupo de jovens lançava pedras, paus e rojões contra os PMs. Contrários ao comando do ato, que pedia recuo, eles avançavam, aos gritos de "resiste".
Segundo a Secretaria de Segurança, parte dos ativistas eram black-blocks. Sindicatos dos servidores negam. Vinte policiais ficaram feridos; seis pessoas foram presas.
Os manifestantes --15 mil servidores, professores e estudante, segundo os sindicatos; 5.000 para a PM-- queriam entrar na Assembleia para pressionar os deputados.
Em crise financeira, o governo quer passar uma parte dos aposentados pagos por um fundo do governo, que está deficitário, para o fundo previdenciário que tem saldo positivo de R$ 8 bilhões e recebe contribuição do Estado e dos servidores. Com isso, espera um alívio de R$ 1,7 bilhão ao ano no caixa.
O temor é que a migração de inativos, a cargo hoje do governo, consuma recursos do outro fundo e inviabilize a previdência no futuro.
A crise financeira do Paraná, um dos principais governos do PSDB, afeta a imagem do partido num dos aspectos mais explorados por políticos tucanos em seus discursos: a qualidade da gestão.
Desde o início da semana, a Assembleia paranaense foi cercada por PMs a pedido de Richa. Uma decisão judicial garantia a votação sem a presença de manifestantes. Com medo de que o prédio fosse invadido, o governo mobilizou quase 2.000 policiais.
O objetivo era evitar a repetição das cenas de fevereiro, quando grupos invadiram a Casa contra o ajuste fiscal proposto por Richa, que já incluía o projeto de previdência.
Durante a confusão, o prédio da Prefeitura de Curitiba, em frente à Assembleia, virou uma espécie de enfermaria, com o saguão principal tomado por centenas de pessoas.
A cada minuto, um novo ferido chegava. Com ferimentos por balas, escoriações, sangramentos, crises de choro, palpitações. Casos graves eram levados para hospitais.
Um deputado chegou a ser mordido por um cão da PM. Pelo menos dois cinegrafistas também ficaram feridos. E crianças de uma creche próxima passaram mal com o gás usado pela PM.
A sessão na Assembleia chegou a ser interrompida por dez minutos por causa do gás que atingiu o plenário.
Nas ações, a reportagem ouviu as ordens dadas por um dos comandantes da PM: "Se precisar usar a tonfa [cassetete], é por baixo. Nada de sair girando por cima".
Do lado de fora, manifestantes carregam cartazes e gritam "retira, retira" e "eu estou na luta". Já à noite, eles reconheciam a derrota.
O Ministério Público abriu uma investigação para apurar "eventuais excessos" da PM. Em nota, a OAB repudiou os ataques. Já o governo tucano informou que "lamenta profundamente" os atos de confronto e acusa "o radicalismo e a irracionalidade de pessoas mascaradas". 

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