Protesto na Assembleia do PR termina com 170 feridos
PM usou bombas, balas de borracha e jatos de água para impedir invasão
Servidores tentavam bloquear projeto de Beto Richa (PSDB) que reduz contribuições do governo para pensões
ESTELITA HASS CARAZZAI/ADRIANA BRUM - FSP
Confronto entre PMs e servidores do Paraná em frente à Assembleia
Legislativa local deixou ao menos 170 pessoas feridas --43
hospitalizadas-- na tarde desta quarta (29).
A confusão se acirrou em meio à votação na Casa, a portas fechadas, de
um projeto do governador Beto Richa (PSDB) que reduz repasses do governo
para pensões e transfere inativos de fundos previdenciários.
Foram ao menos duas horas de violência, que começou quando manifestantes
tentaram romper o cerco da polícia na Assembleia. A PM usou bombas de
gás, balas de borracha e jatos de água.
Na primeira hora, bombas eram lançadas ininterruptamente sobre os
presentes. Alguns chegaram a achar que elas caíam do helicóptero da
polícia. "Vinha bomba do céu", disse a professora Thelma Rossa, 36 anos,
atendida após desmaiar na confusão.
Do outro lado, um grupo de jovens lançava pedras, paus e rojões contra
os PMs. Contrários ao comando do ato, que pedia recuo, eles avançavam,
aos gritos de "resiste".
Segundo a Secretaria de Segurança, parte dos ativistas eram
black-blocks. Sindicatos dos servidores negam. Vinte policiais ficaram
feridos; seis pessoas foram presas.
Os manifestantes --15 mil servidores, professores e estudante, segundo
os sindicatos; 5.000 para a PM-- queriam entrar na Assembleia para
pressionar os deputados.
Em crise financeira, o governo quer passar uma parte dos aposentados
pagos por um fundo do governo, que está deficitário, para o fundo
previdenciário que tem saldo positivo de R$ 8 bilhões e recebe
contribuição do Estado e dos servidores. Com isso, espera um alívio de
R$ 1,7 bilhão ao ano no caixa.
O temor é que a migração de inativos, a cargo hoje do governo, consuma
recursos do outro fundo e inviabilize a previdência no futuro.
A crise financeira do Paraná, um dos principais governos do PSDB, afeta a
imagem do partido num dos aspectos mais explorados por políticos
tucanos em seus discursos: a qualidade da gestão.
Desde o início da semana, a Assembleia paranaense foi cercada por PMs a
pedido de Richa. Uma decisão judicial garantia a votação sem a presença
de manifestantes. Com medo de que o prédio fosse invadido, o governo
mobilizou quase 2.000 policiais.
O objetivo era evitar a repetição das cenas de fevereiro, quando grupos
invadiram a Casa contra o ajuste fiscal proposto por Richa, que já
incluía o projeto de previdência.
Durante a confusão, o prédio da Prefeitura de Curitiba, em frente à
Assembleia, virou uma espécie de enfermaria, com o saguão principal
tomado por centenas de pessoas.
A cada minuto, um novo ferido chegava. Com ferimentos por balas,
escoriações, sangramentos, crises de choro, palpitações. Casos graves
eram levados para hospitais.
Um deputado chegou a ser mordido por um cão da PM. Pelo menos dois
cinegrafistas também ficaram feridos. E crianças de uma creche próxima
passaram mal com o gás usado pela PM.
A sessão na Assembleia chegou a ser interrompida por dez minutos por causa do gás que atingiu o plenário.
Nas ações, a reportagem ouviu as ordens dadas por um dos comandantes da
PM: "Se precisar usar a tonfa [cassetete], é por baixo. Nada de sair
girando por cima".
Do lado de fora, manifestantes carregam cartazes e gritam "retira,
retira" e "eu estou na luta". Já à noite, eles reconheciam a derrota.
O Ministério Público abriu uma investigação para apurar "eventuais
excessos" da PM. Em nota, a OAB repudiou os ataques. Já o governo tucano
informou que "lamenta profundamente" os atos de confronto e acusa "o
radicalismo e a irracionalidade de pessoas mascaradas".
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