Frédéric Lemaître - Le Monde
Tobias Schwarz/AFP
Porta-voz disse que Merkel identificou "deficiências técnicas e organizacionais" no BND
O serviço secreto alemão nos últimos anos espionou, por interesse dos Estados Unidos, empresas europeias – entre elas a EADS [companhia aeroespacial e de defesa]- , mas também políticos e oficiais de alto escalão europeus, inclusive franceses. A informação, revelada pela versão online do "Der Spiegel", na quinta-feira (23), teria sido confirmada por colaboradores muito próximos da chanceler Angela Merkel, entre eles seu braço direito Peter Altmaier, diante de alguns deputados no final do dia.
O porta-voz de Angela Merkel publicou um
comunicado indicando que "a chanceler identificou deficiências técnicas e
organizacionais dentro do BND [o serviço de inteligência externo]" e
que ela "ordenou que isso seja corrigido sem demora". A continuação do
comunicado é igualmente sucinta: "Ainda não há nenhuma prova de uma
espionagem em massa dos cidadãos alemães e europeus", o que dá a
entender que de fato houve escutas específicas.O serviço secreto alemão nos últimos anos espionou, por interesse dos Estados Unidos, empresas europeias – entre elas a EADS [companhia aeroespacial e de defesa]- , mas também políticos e oficiais de alto escalão europeus, inclusive franceses. A informação, revelada pela versão online do "Der Spiegel", na quinta-feira (23), teria sido confirmada por colaboradores muito próximos da chanceler Angela Merkel, entre eles seu braço direito Peter Altmaier, diante de alguns deputados no final do dia.
Após os atentados do 11 de setembro, as agências de inteligência alemãs reforçaram sua cooperação com seus colegas americanos, mas fica cada vez mais evidente que essa cooperação não se limitou ao combate ao terrorismo. Segundo o semanário "Der Spiegel", os americanos usaram o BND como um subcontratado. Eles lhe davam os endereços IP e os números de telefone a serem espionados. Em princípio, o serviço secreto alemão deveria verificar se os pedidos dos americanos eram pertinentes, e os líderes políticos eram informados.
"Traição"
Mas ao longo dos anos os americanos foram fazendo cada vez mais pedidos – "centenas de milhares, ou até milhões", afirma o diário "Süddeutsche Zeitung" – a ponto de "afogar" os serviços secretos, que passaram a verificar cada vez menos a pertinência deles. Mais importante, não está claro que essa prática fosse conhecida pela chanceler até mês passado.Um sinal de que se instalou uma desconfiança entre o BND e os deputados encarregados de controlar sua atividade foi o fato de que, quando eles souberam da informação do "Spiegel Online", os membros da comissão parlamentar que investiga as escutas da NSA americana imediatamente encerraram a audiência do presidente do BND, Gerhard Schindler, que eles justamente estavam interrogando, e pediram para que a chancelaria enviasse um colaborador de Angela Merkel.
Por considerar que "o BND foi durante anos uma espécie de sucursal do serviço secreto americano", Bernd Riexinger, um líder do Die Linke (esquerda radical), principal partido de oposição, pediu para que a Justiça abrisse um inquérito contra o serviço secreto por "traição". Os outros partidos se recusaram, mas esse caso pode acabar reforçando a desconfiança dos alemães em relação a Washington.
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