Joe Nocera - NYT
Jason Henry/The New York Times
Nove em cada 10 pesquisas
feitas na Internet na Europa utilizam o Google - uma percentagem mais
dominante do que nos Estados Unidos
Você já ouviu falar no termo Gafa? Ele não pegou aqui nos Estados Unidos - e imagino que não vai pegar - mas, na França, tornou-se tão comum que os jornais quase nem precisam explicar seu significado. Todo mundo já sabe o que Gafa significa: Google-Apple-Facebook-Amazon.
Nos Estados Unidos, temos a tendência de pensar nessas empresas como
quatro entidades distintas que competem ferozmente entre si. Mas, na
Europa, que não tem uma única empresa de Internet com tamanha dimensão e
estatura, elas "são o império malévolo da Internet dos EUA", como
escreveu Gideon Rachman no Financial Times na segunda-feira (27). Nove
em cada 10 pesquisas feitas na Internet na Europa utilizam o Google -
uma percentagem mais dominante do que nos Estados Unidos - para citar
apenas um exemplo de seu domínio absoluto nos países que compõem a União
Europeia.Você já ouviu falar no termo Gafa? Ele não pegou aqui nos Estados Unidos - e imagino que não vai pegar - mas, na França, tornou-se tão comum que os jornais quase nem precisam explicar seu significado. Todo mundo já sabe o que Gafa significa: Google-Apple-Facebook-Amazon.
Não é de surpreender que este domínio preocupe a Europa, mesmo tendo sido conquistado justamente. Os franceses temem (como sempre fazem) uma imposição da cultura norte-americana. Os alemães temem o surgimento de uma indústria mais eficiente - e mais rentável - que a sua. Os líderes do setor, especialmente nos mercados editorial, de telecomunicações e até mesmo de automóveis temem que as empresas de Internet dos EUA prejudiquem seus negócios e desviem os lucros para longe. Os europeus se preocupam com o uso de seus dados privados por empresas norte-americanas, uma preocupação ainda exacerbada pelas revelações de espionagem de Edward Snowden. Há uma sensação palpável entre muitos políticos, reguladores e empresários na Europa que o continente precisa desenvolver suas próprias plataformas de Internet -ou, pelo menos, cortar as asas das grandes empresas de Internet dos EUA, enquanto há tempo.
Estou levantando esse assunto após a decisão de Margrethe Vestager, a relativamente nova Comissária da União Europeia responsável pela política de concorrência (que assumiu o cargo em novembro). Ela abriu acusações antitruste contra o Google, ao final de uma investigação de cinco anos. A questão é se o Google usa sua posição como mecanismo de busca dominante para favorecer seu próprio serviço de comparação de preços sobre os de seus rivais. Vestager também abriu um inquérito sobre o sistema operacional móvel Android, do Google, e disse que a União Europeia iria investigar outras violações potenciais, caso houvesse necessidade.
Não muito tempo depois de anunciar as acusações, Vestager fez um discurso em Washington.
"Nós não temos rancor algum; nós não temos briga alguma com o Google", disse ela. "Todos os nossos casos são indiferentes à nacionalidade das empresas envolvidas. Nosso dever é assegurar que toda empresa com operações no território da UE esteja em conformidade com as regras do nosso tratado."
Bem, talvez. Mas também é verdade que esta investigação, especialmente em seus últimos estágios, tem sido movida pela política. O discurso político em torno do Google na Europa tem sido tão fervoroso que, se Vestager decidisse não abrir um processo, sua posição política seria enfraquecida, "provavelmente comprometendo sua capacidade de processar de forma eficaz outros casos de antitruste de alto perfil", escreveu Carlos Kirjner, analista da Sanford C. Bernstein & Co.
Considere, por exemplo, o que aconteceu no ano passado, quando o Google estava perto de resolver o caso com o antecessor de Vestager, Joaquín Almunia. A empresa havia concordado em fazer mudanças que considerava atrapalhadas e intrusivas, mas queria ultrapassar a questão e seguir em frente. Em vez disso, políticos europeus, especialmente na França e na Alemanha, provocados pelos concorrentes do Google, queixaram-se que Almunia estava sendo muito leniente com a empresa.
"As ofertas do Google não são inúteis, mas estão longe de suficiente", disse ao The Wall Street Journal um desses políticos, Guenther Oettinger, da Alemanha.
Na época, Oettinger era comissário de energia da União Europeia, tornando-o um dos 28 comissários que teriam que aprovar o acordo. Em setembro, ele havia sido nomeado para um novo cargo: comissário da economia digital e a sociedade. Em uma audiência perante uma comissão do Parlamento Europeu, ele recebeu o crédito por explodir o acordo com o Google.
Como comissário da economia digital, Oettinger continuou a defender o que se tornou a posição alemã sobre o Google: que o poder da empresa deve ser refreado. Em um discurso há duas semanas, ele essencialmente disse que a Europa deve começar a regulamentar as plataformas de Internet de forma a permitir que empresas domésticas ultrapassem as gigantes norte-americanas. E na quinta-feira, um documento vazou de seu escritório para o The Wall Street Journal delineando tal plano, alegando que, se nada fosse feito, toda a economia da Europa estaria "em risco" por causa de sua dependência de empresas de Internet dos Estados Unidos. Havia inclusive pedidos para que a Europa quebrasse o Google.
A Europa tem todo o direito de regular qualquer empresa e qualquer setor que quiser. E pode levantar as acusações antitruste que achar cabíveis. Mas, dada a retórica em torno do Google e de outras gigantes da Internet norte-americanas, torna-se justificada a suspeita dos verdadeiros motivos da Europa.
Deste lado do oceano, as acusações europeias contra o Google parecem muito com protecionismo.
Tradutor: Deborah Weinberg
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