Influência chinesa exige revisão do Mercosul
Aumento de acordos bilaterais com o rival
brasileiro na região, como o pacto celebrado com a Argentina, reitera a
insignificância atual do bloco
VEJA
Pressionada por grave crise, a Argentina se voltou para a China. Com o
Mercosul praticamente estagnado, em meio a querelas setoriais e tarifas
protecionistas, Cristina Kirchner viu a redenção possível do outro lado
do Pacífico. Sua situação econômica, no entanto, deu um caráter
assimétrico às relações com Pequim, deixando o país em posição
desfavorável. Ao mesmo tempo, a iniciativa abriu uma perigosa janela
para a entrada de produtos chineses no coração do Mercosul, principal
destino das exportações da indústria brasileira.
A aproximação teve seu auge em julho passado, quando Argentina e
China assinaram um convênio, que rapidamente colocou o país asiático
como um de seus principais parceiros comerciais. Celebrado durante uma
visita oficial do presidente chinês, Xi Jinping, acompanhado de uma
comitiva de 250 empresários, o pacto previu a concessão de um crédito
equivalente a US$ 11 bilhões, em troca de produtos agrícolas e
matérias-primas. Dinheiro ansiosamente necessitado pelo Tesouro
argentino, cujas reservas internacionais perderam mais de US$ 20 bilhões
desde 2011, devido a políticas de restrição de compras no exterior e
saída de dólares, bem como pela suspensão do pagamento de dívida, em
meio a uma queda de braço com fundos de investimentos americanos.
Em fevereiro, no auge da crise política gerada pelo assassinato do
procurador Alberto Nisman, o Congresso argentino sancionou o convênio,
sob críticas da oposição. O deputado Carlos Brown, por exemplo, disse ao
jornal espanhol “El País” que o pacto permite que os investimentos
realizados em seu âmbito sejam feitos sem licitação pública, mediante
contratações diretas. Brown lembrou ainda que um grupo de oito
ex-secretários de Energia da Argentina alertaram para a falta de
transparência do acordo, constituindo-se em fonte de sobrepreço, baixa
qualidade do material fornecido, excessivas comissões a intermediários,
além de excluir uma cota de bens e serviços locais.
Principal rival do Brasil na América do Sul, a China adota uma
política de expansão agressiva. Dependente de produtos básicos e
matérias-primas, o gigante asiático se voltou para os emergentes. Assim,
investe em propriedades e oferece apoio técnico e financiamento em
projetos de infraestrutura e meio ambiente em que se torna sócio. O
exemplo mais recente de sua estratégia de influência foi a criação do
Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, em inglês), cujo
porte financeiro atraiu potências europeias e acendeu uma luz amarela
nos EUA.
O acordo entre chineses e argentinos é mais um exemplo da
insignificância atual do Mercosul. A tal ponto que cresce no Congresso
brasileiro pressões para uma revisão completa do tratado, o que deveria
ser realizado com rapidez e cuidado, para garantir as salvaguardas
necessárias e proteger o comércio regional, e, ao mesmo tempo, abrir
espaço para negociações e alianças com os vizinhos andinos, os EUA, a
Europa e, até mesmo, a China.
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