Chris Buckley e Austin Ramzy - NYT
Altaf Qadri/AP
Sobrevivente do terremoto de ocorrido sábado (25) no Nepal brinca com seu filho em campo construído em Katmandu, capital do país
Moradores de Katmandu vivendo em campos de tendas após o poderoso
terremoto no Nepal disseram na terça-feira (28) que sua maior
preocupação era a falta de água potável segura, mesmo enquanto
suportavam a mais recente chuva.
Isso e outras alegações de
lenta chegada de ajuda humanitária para o desastre provocam uma
crescente frustração pública aqui com o governo nepalês, que tem
enfrentado dificuldades para fornecer alimentos, água, tendas e outras
formas de ajuda por todo este país montanhoso de 28 milhões de
habitantes.Desde que o terremoto atingiu o Nepal no sábado, matando mais de 5 mil pessoas segundo a contagem mais recente, o governo instituiu planos de resposta a desastre, mobilizou o exército e recebeu aviões cheios de ajuda todo dia de dezenas de outros países.
O governo estabeleceu 16 campos grandes em Katmandu e muitos outros moradores estão dormindo nas ruas ou em espaços abertos longe dos prédios e muros danificados.
Mas os moradores se queixam de que a ajuda não está chegando até eles ou demorando demais a chegar, e muitos acusam o governo de incompetência, negligência ou até mesmo de corrupção.
"Eu acho que o governo não está fazendo nada", disse Sudesh Tulachan, um operário de construção e comerciante que se abrigava da chuva sob uma tenda onde estavam reunidos centenas de moradores, incluindo 24 de seus parentes.
"Apenas esta tenda foi fornecida pelo governo, mas para tudo mais, nós dependemos de nossos próprios esforços", ele disse enquanto parentes concordavam com a cabeça. "Dá para ver quantas pessoas estão passando necessidade."
É uma queixa comum nos acampamentos de tendas por toda Katmandu, a capital, onde tremores secundários dissuadem muitos moradores de dormirem em lugares fechados e onde muitos edifícios mais velhos ruíram em pilhas de tijolos quebrados.
Mas o governo enfrenta um problema na distribuição de ajuda, disse um alto oficial militar. Apesar dos moradores urbanos estarem protestando devido às dificuldades que estão passando, as necessidades mais urgentes se encontram nos vilarejos isolados nas encostas e vales remotos, onde o terremoto causou deslizamentos de terra devastadores. O primeiro-ministro Sushil Koirala disse na terça-feira que o número de mortos pode chegar a 10 mil.
"Nossa meta principal é resgatar as pessoas", disse o oficial, o general de brigada Jagadish Pokharel, um porta-voz do exército nepalês, para um grupo de repórteres após uma coletiva de imprensa sobre o esforço de ajuda. "Nós também estamos tentando sincronizar isso com a distribuição para as pessoas necessitadas. Nós faremos o melhor que pudermos."
Para um governo rachado por rivalidades políticas, lidar com as exigências dos cidadãos em dificuldades poderá se tornar mais difícil se água potável e outras formas de ajuda não fluírem mais rapidamente nos próximos dias para aplacar a frustração popular.
"A burocracia tem sido um tanto lenta, mas ela parece ter se organizado nas últimas 24 horas", disse Jamie McGoldrick, o coordenador residente da ONU para o Nepal.
"Nós temos campos com uma população que precisará de apoio por um prazo mais longo", ele disse. "O material está chegando, mas trata-se de uma operação de proporções imensas."
O eixo do esforço de ajuda humanitária às vítimas do terremoto no Nepal fica no Aeroporto Internacional de Tribhuvan, nos arredores de Katmandu, e no terminal doméstico adjacente e nos quartéis militares. Aviões da Índia, China e outros países estão pousando carregados de água, alimentos, tendas, macas, medicamentos e outras formas de ajuda.
Na seção de operações militares do aeroporto, oficiais nepaleses fardados coordenavam a chegada de suprimentos e operavam os helicópteros resgatando as vítimas do terremoto mais gravemente feridas de áreas distantes. Os suprimentos aguardam em um depósito e hangar até que as autoridades civis do governo possam alocá-los.
"Nós trouxemos perto de 30 toneladas de água potável ontem", disse o tenente-coronel S. S. Birdi, um porta-voz da força aérea indiana, em uma entrevista no centro de operações militares do aeroporto. "O que está acontecendo é que todas as pessoas estão enfrentando dificuldades, mas as pessoas nas áreas remotas estão enfrentando muito mais dificuldades."
Muitos nepaleses expressaram suspeita de que a ajuda não está sendo dividida de forma justa, devido à incompetência, mal planejamento ou corrupção.
Alguns membros de organizações humanitárias disseram que levar ajuda às aldeias devastadas pelo terremoto é um desafio físico que testaria qualquer governo. O escritório do coordenador residente da ONU para o Nepal citou na segunda-feira as estimativas de que o terremoto afetou 8 milhões de pessoas no país, incluindo 2 milhões nos 11 distritos mais atingidos. Cerca de 1,4 milhão de pessoas precisam de ajuda com alimentos.
"A geografia é muito, muito difícil", disse Peter Oyloe, o diretor de nutrição da Salve as Crianças no Nepal. "Tentar lidar com a geografia, tentar chegar até essas pessoas, as mais vulneráveis, especialmente nos pontos mais altos das montanhas elevadas, é muito difícil."
Em Katmandu, com mais de 1 milhão de habitantes, a maioria dos moradores tem conseguido encontrar o suficiente para comer, e muitas voltaram para seus lares para pegar comida e talvez preparar uma refeição. Na terça-feira, mais lojas reabriram, facilitando para os moradores comprar suprimentos.
Mas água potável segura tem sido mais difícil de encontrar, especialmente pelos moradores pobres, depois que o terremoto partiu canos e tanques, introduzindo contaminantes potencialmente perigosos.
O exército nepalês está fazendo um esforço mais visível para melhorar as condições das pessoas ao menos em alguns acampamentos em Katmandu.
Na terça-feira em Tundikhel, um local de desfile próximo do centro da cidade que foi transformado em um campo de tendas, o coronel Prayog Rana supervisionava os soldados distribuindo pacotes de óleo de cozinha para mulheres. Os soldados também ergueram mais toaletes e limparam o campo, que abriga 6 mil moradores, e estão montando tanques de água potável, ele disse.
"Quero organizar este lugar de modo bem sistemático", disse Rana, observando soldados conduzindo mulheres e crianças em fila. "Mas até o momento há falta de recursos."
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