Reinaldo Azevedo - VEJA
Um
dia depois de Lula posar de coordenador político do governo em Brasília
— enquanto Dilma se encontrava nos EUA —, e no mesmo dia em que tomou
café da manhã com Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, e outros
figurões do PMDB, o Planalto sofre uma espetacular derrota na Casa. Com
votos maciços de peemedebistas e até de petistas. Isso é que é
eficiência, hein, Apedeuta?
No fim da
noite desta terça, o governo logrou a sua vitória de Pirro — porque vai
custar caro — na questão da maioridade penal na Câmara, mas já tinha
levado a porretada espetacular no Senado, com a aprovação do absurdo
projeto que garante reajuste para os servidores do Judiciário entre 53% e
78,56%, em seis parcelas, entre julho de deste ano e dezembro de 2017.
Segundo cálculos do Ministério do Planejamento, o rombo chegará a R$
25,7 bilhões em quatro anos. O que lhes parece?
Isso expõe
o grau de desarticulação do Planalto. Delcídio Amaral (PT-MS), líder do
governo na Casa, e Humberto Costa (PE), líder do PT, ainda tentaram
adiar a votação, mas a proposta foi recusada por 43 a 13. Era prenúncio
de problema. Delcídio avisou que Dilma vai vetar o projeto.
Derrotado
no seu esforço de adiamento, sabem o que aconteceu? O PT pediu à sua
bancada que votasse contra o rombo das contas públicas, mas não foi
ouvido por todos, não. Os petistas Paulo Paim (RS), Lindbergh Farias
(RJ) e Fátima Bezerra (RN) deram de ombros e disseram “sim”. A votação
acabou sendo unânime: os 62 senadores presentes se posicionaram contra a
vontade do Planalto. Nota: o salário médio dos funcionários do
Judiciário é o mais alto entre os Três Poderes.
Ricardo
Lewandowski, presidente do STF, depois de ter feito embaixadinha para os
servidores do Judiciário e endossado a proposta, que tem as suas
digitais, ainda chegou a enviar ao Senado um pedido para que se adiasse a
votação. Consta que Renan havia se comprometido com o adiamento para
dar ao Planalto prazo para uma proposta alternativa, mas, na hora “h”,
não quis comprar briga com lideranças dos servidores, que faziam um
barulho danado nas imediações do Senado. E o texto foi aprovado. Agora
Dilma terá de vetar. Agora Dilma terá de se desgastar.
A
oposição, claro!, votou a favor do reajuste. Quando escrevo esse
“claro!”, estou apenas lembrando que não cabe aos oposicionistas a
tarefa de evitar problemas ao governo, especialmente quando este dispõe
de uma base tão ampla. Ora, só faltava a gente ver tucanos votando
contra o aumento, e alguns petistas, como se viram, a favor. Esse tempo
já passou, né? O PSDB apoiou o governo sempre que achou ser o caso no
primeiro mandato de Lula, mesmo com os petistas se opondo a algumas
medidas. E levou na testa a pecha de arquiteto da “herança maldita”.
Segundo informa o O Globo,
“O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, negocia um reajuste igual
para todos os servidores — Executivo, Legislativo e Judiciário —, de
21,3%, dividido em parcelas de 5,5% em 2016, 5,0% em 2017, 4,75% em 2018
e 4,5% em 2019. O reajuste foi proposto com base na inflação esperada
para os próximos quatro anos, mantendo o poder de compra do
trabalhador.”
Mas não
conseguiu emplacar. Se Dilma vetar, lá vem outra batalha pela frente,
até porque alguns senadores deixaram claro que, se houver veto, vão
tentar derrubá-lo.
Parece
que, desta feita, Michel Temer não teve espaço para atuar. Afinal, já
havia um coordenador político do desastre na área: Lula.
A trilha sonora, já escrevi aqui, é “walking dead”.
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