Delator detalha pagamento de propina para José Dirceu
Lobista, Pascowitch diz que petista fazia 'pedidos insistentes' por dinheiro
Segundo Pascowitch, Dirceu era uma espécie de 'padrinho' dos interesses da Engevix na Petrobras
FLÁVIO FERREIRA/GRACILIANO ROCHA - FSP
Mais novo delator da Operação Lava Jato, o lobista Milton Pascowitch
relatou a investigadores do caso que intermediou o pagamento de propina
ao PT e ao ex-ministro José Dirceu para garantir contratos da
empreiteira Engevix com a Petrobras.
Dirceu, segundo o testemunho de Pascowitch, teria se tornado uma espécie
de "padrinho" dos interesses da empreiteira na estatal. Em
contrapartida, passou a receber pagamentos e favores.
De acordo com Pascowitch, os pedidos de dinheiro de Dirceu eram
"insistentes" e os repasses, feitos de formas diversas. Numa das
operações, o lobista contou ter feito uma doação a uma arquiteta que
reformou um dos imóveis do petista.
As investigações sobre as relações de Dirceu com Pascowitch vem sendo aprofundadas desde a prisão do lobista, no fim de maio.
O acordo de delação de Pascowitch foi homologado nesta segunda-feira
(29). Como parte do acerto para a colaboração com a Justiça, o lobista
saiu da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e passou a cumprir
prisão domiciliar, em São Paulo.
Dono de uma consultoria chamada Jamp Engenharia, Pascowitch foi
contratado pela empreiteira Engevix para aproximá-la do PT e abrir
portas na Petrobras, de acordo com executivos da empresa e a confissão
do próprio lobista.
Entre 2008 e 2011, a Engevix pagou R$ 1,1 milhão à consultoria de
Dirceu. Em 2011 e 2012, a Jamp, de Pascowitch, pagou mais R$ 1,5 milhão,
período em que Dirceu enfrentava o julgamento do mensalão no Supremo
Tribunal Federal.
Pela versão do delator, Dirceu chegou a prospectar alguns negócios para a
Engevix. Mas continuou a receber repasses mesmo quando não havia mais
justificativa concreta para as cobranças.
Confrontado com uma planilha dos contratos da Engevix e da Jamp, o
lobista apontou aos procuradores quais pagamentos foram propina e quais
envolveram algum tipo de prestação de serviço.
Segundo o lobista, os pedidos de dinheiro também eram feitos pelo irmão e
sócio do petista na JD, Luís Eduardo de Oliveira e Silva.
No depoimento, Pascowitch detalhou como começou o esquema de repasse de
propina na diretoria de Serviços da Petrobras a partir da nomeação de
Renato Duque em 2003, como o aval de Dirceu, então ministro da Casa
Civil.
Segundo o relato de Pascowitch, na época o executivo Julio Camargo,
também delator na Lava Jato, era quem intermediava o pagamento de
propinas na diretoria.
Pascowitch disse ter passado a distribuir o suborno por volta de 2008,
após a entrada da Engevix no projeto Cabiúnas, obra que visava aumentar a
capacidade do complexo de terminais que escoa parte do óleo da Bacia de
Campos, no Rio.
Segundo ele, uma parte das receitas da Engevix em contratos com a
diretoria de Serviços era, primeiro, transferida para Duque, que se
encarregava de redistribuí-la ao PT.
Em 2012, Pascowitch ajudou Dirceu a comprar o imóvel ocupado por sua
consultoria, um sobrado na av. República do Líbano, na zona sul de São
Paulo.
Em depoimento à Justiça, o ex-vice-presidente da Engevix Gerson Almada
admitiu que os pagamentos a Pascowitch serviram para que ele ajudasse na
aproximação com o PT, mas qualificou essa atuação de de "lobby" e nunca
reconheceu o pagamento de suborno. Essa aproximação, segundo Almada,
incluiu uma reunião entre o empreiteiro, Pascowitch e o então tesoureiro
do PT, João Vaccari Neto, na qual não foi pedida propina.
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