Fuga de jovens abala estrutura partidária
Os principais partidos perderam 56% dos
quadros entre 16 e 24 anos de idade, grave sintoma, e mesmo assim a
reforma política em votação passa ao largo do problema
O Globo
se sabe que a tal reforma política do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), é um cavalo que parte a galope em todas as direções.
Errática, ela pode ter sido um biombo para dissimular dois objetivos
peemedebistas: a mudança do sistema eleitoral para o distritão — que
implodiria de vez os partidos, por estimular a busca de puxadores de
votos pelas legendas — e a inclusão na Carta do financiamento
empresarial de campanhas, eliminado em julgamento inconcluso no Supremo,
suspenso por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes para que o
Congresso deliberasse sobre a questão.
E está deliberando. Depois de manobra regimental de Cunha, foi
aprovada em primeiro turno de votação a participação de pessoas
jurídicas no financiamento partidário, mas apenas para as legendas.
Caberá a elas distribuir os recursos entre os candidatos, mais um
desserviço à necessidade de transparência na política.
Cunha não conseguiu aprovar o distritão, mesmo tendo feito concessões
a legendas pequenas e de aluguel: trabalhou para impedir a criação de
uma cláusula de desempenho efetiva e o fim das coligações em pleitos
proporcionais. A rocambolesca reforma de Cunha significa a perda de
oportunidade preciosa para fazer poucos mas cruciais ajustes na
legislação, a fim de revigorar os partidos. O que será obtido por meio
de uma real cláusula de desempenho, com a finalidade de acabar com a
pulverização partidária nas Casas legislativas, e o fim das coligações,
para, além de depurar as legendas, dar ao eleitor garantia de que seu
voto não irá eleger alguém que ele sequer conhece.
O mais lamentável é que se perde a chance de mudanças num momento
crítico do sistema partidário, em que há uma sintomática fuga de jovens
de seus quadros. E não é de hoje, conforme revelou O GLOBO, na edição de
domingo: desde 2009, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), os cinco principais partidos (PT, PMDB, PSDB, PDT e PP) perderam
56% dos filiados entre 16 e 24 anos de idade. Uma queda de pouco acima
de 300 mil militantes para 132.292. Desastroso.
Eduardo
Cunha, seguidores e demais parlamentares precisariam metabolizar este
gritante indicador da perda de representatividade de todos os partidos. A
debacle ética do PT, criado para ser o “novo”, talvez agrave esta
doença.
O PT foi o que mais perdeu jovens (60%), mas o PMDB ficou próximo no
prejuízo (59%) e os demais não muito distantes: PSDB (51%), PDT (43%) e
PP (49%). A crise é geral.
Estes números estão por trás das manifestações de 2013 à margem dos
partidos. E de outros protestos contra o governo sem a presença de
legendas formalmente de oposição.
As ruas estão à margem dos partidos, e isso não é bom para um regime de democracia representativa.
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