quarta-feira, 1 de julho de 2015

Fuga de jovens abala estrutura partidária
Os principais partidos perderam 56% dos quadros entre 16 e 24 anos de idade, grave sintoma, e mesmo assim a reforma política em votação passa ao largo do problema
O Globo
se sabe que a tal reforma política do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é um cavalo que parte a galope em todas as direções. Errática, ela pode ter sido um biombo para dissimular dois objetivos peemedebistas: a mudança do sistema eleitoral para o distritão — que implodiria de vez os partidos, por estimular a busca de puxadores de votos pelas legendas — e a inclusão na Carta do financiamento empresarial de campanhas, eliminado em julgamento inconcluso no Supremo, suspenso por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes para que o Congresso deliberasse sobre a questão.
E está deliberando. Depois de manobra regimental de Cunha, foi aprovada em primeiro turno de votação a participação de pessoas jurídicas no financiamento partidário, mas apenas para as legendas. Caberá a elas distribuir os recursos entre os candidatos, mais um desserviço à necessidade de transparência na política.
Cunha não conseguiu aprovar o distritão, mesmo tendo feito concessões a legendas pequenas e de aluguel: trabalhou para impedir a criação de uma cláusula de desempenho efetiva e o fim das coligações em pleitos proporcionais. A rocambolesca reforma de Cunha significa a perda de oportunidade preciosa para fazer poucos mas cruciais ajustes na legislação, a fim de revigorar os partidos. O que será obtido por meio de uma real cláusula de desempenho, com a finalidade de acabar com a pulverização partidária nas Casas legislativas, e o fim das coligações, para, além de depurar as legendas, dar ao eleitor garantia de que seu voto não irá eleger alguém que ele sequer conhece.
O mais lamentável é que se perde a chance de mudanças num momento crítico do sistema partidário, em que há uma sintomática fuga de jovens de seus quadros. E não é de hoje, conforme revelou O GLOBO, na edição de domingo: desde 2009, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os cinco principais partidos (PT, PMDB, PSDB, PDT e PP) perderam 56% dos filiados entre 16 e 24 anos de idade. Uma queda de pouco acima de 300 mil militantes para 132.292. Desastroso.
Eduardo Cunha, seguidores e demais parlamentares precisariam metabolizar este gritante indicador da perda de representatividade de todos os partidos. A debacle ética do PT, criado para ser o “novo”, talvez agrave esta doença.
O PT foi o que mais perdeu jovens (60%), mas o PMDB ficou próximo no prejuízo (59%) e os demais não muito distantes: PSDB (51%), PDT (43%) e PP (49%). A crise é geral.
Estes números estão por trás das manifestações de 2013 à margem dos partidos. E de outros protestos contra o governo sem a presença de legendas formalmente de oposição.
As ruas estão à margem dos partidos, e isso não é bom para um regime de democracia representativa.

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