quarta-feira, 1 de julho de 2015

Petrobras abandona delírio e entra na fase realista
As inversões ainda serão altas, apesar do corte de 37%, e é forte sinal do abandono da ideologia a venda de ativos, o que significa que o PT privatizará parte da empresa
O Globo
Acabou a fase do delírio. Às voltas com um endividamento excessivo, a Petrobras terá de andar com as próprias pernas por um bom tempo, sem depender tanto de recursos de terceiros. Nos próximos anos, a companhia terá de se financiar com os resultados dos próprios negócios, e isso significa que terá de se concentrar nos projetos que lhe assegurem rentabilidade e retorno mais rápidos.
Sob esse prisma, é compreensível que a Petrobras tenha revisto seu plano de negócios até 2019 com um corte de 37% sobre a programação anterior. A estatal investirá o equivalente a US$ 130,3 bilhões, 83% dos quais direcionados para as áreas de exploração e produção. E ainda nesse caso, a preferência recairá sobre campos descobertos no pré-sal e que estão sendo preparados para produzir.
Mesmo com o corte de 37%, os investimentos do plano de negócios serão suficientes para movimentar toda a cadeia produtiva do petróleo, com uma média anual de US$ 26 bilhões e mensal de quase US$ 2,2 bilhões.
É alentador que a empresa tenha posto de lado a ideologia e assumido uma atitude pragmática. A forma mais eficaz para se reduzirem os níveis de endividamento, é a alienação de ativos, materiais ou não. A Petrobras tem em seu portfólio campos de petróleo que não se encaixam mais na estrutura de indústrias pesos-pesados, mas que podem atrair o interesse de investidores menores. Manter participações ou controle de unidades fora do foco central fariam sentido em uma companhia altamente capitalizada, que precisa se diversificar, e esse não é o caso hoje da estatal. Dos US$ 130 bilhões de investimentos programados, quase a metade poderá vir da alienação de ativos, viabilizando assim seu plano de negócios. Resta a ironia de ser num governo do PT que parte da estatal será privatizada.
Entre as premissas para execução desse plano, a Petrobras considera que o governo não vai mais impor à companhia uma política irresponsável para os preços dos combustíveis. Preços internos alinhados aos internacionais são uma pré-condição para que o Brasil consiga atrair investidores e parceiros para a própria Petrobras, nos segmentos de abastecimento e distribuição de combustíveis.
Essa revisão do plano de negócios da Petrobras é também uma oportunidade para o governo reavaliar a política de conteúdo local, separando o que deu errado do que está caminhando bem. Bem como é necessário acabar com a participação compulsória da estatal em um terço de todos os consórcios no pré-sal. Sequer há dinheiro para o delírio. Não executar a mudança significa retardar a exploração das áreas.
O ideal é fazer o desmonte do modelo de partilha e seus complementos, como o monopólio na operação no pré-sal, outra ideia estatista inexequível.

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