Petrobras abandona delírio e entra na fase realista
As inversões ainda serão altas, apesar do
corte de 37%, e é forte sinal do abandono da ideologia a venda de
ativos, o que significa que o PT privatizará parte da empresa
O Globo
Acabou a fase do delírio. Às voltas com um endividamento excessivo, a
Petrobras terá de andar com as próprias pernas por um bom tempo, sem
depender tanto de recursos de terceiros. Nos próximos anos, a companhia
terá de se financiar com os resultados dos próprios negócios, e isso
significa que terá de se concentrar nos projetos que lhe assegurem
rentabilidade e retorno mais rápidos.
Sob esse prisma, é compreensível que a Petrobras tenha revisto seu
plano de negócios até 2019 com um corte de 37% sobre a programação
anterior. A estatal investirá o equivalente a US$ 130,3 bilhões, 83% dos
quais direcionados para as áreas de exploração e produção. E ainda
nesse caso, a preferência recairá sobre campos descobertos no pré-sal e
que estão sendo preparados para produzir.
Mesmo com o corte de 37%, os investimentos do plano de negócios serão
suficientes para movimentar toda a cadeia produtiva do petróleo, com
uma média anual de US$ 26 bilhões e mensal de quase US$ 2,2 bilhões.
É alentador que a empresa tenha posto de lado a ideologia e assumido
uma atitude pragmática. A forma mais eficaz para se reduzirem os níveis
de endividamento, é a alienação de ativos, materiais ou não. A Petrobras
tem em seu portfólio campos de petróleo que não se encaixam mais na
estrutura de indústrias pesos-pesados, mas que podem atrair o interesse
de investidores menores. Manter participações ou controle de unidades
fora do foco central fariam sentido em uma companhia altamente
capitalizada, que precisa se diversificar, e esse não é o caso hoje da
estatal. Dos US$ 130 bilhões de investimentos programados, quase a
metade poderá vir da alienação de ativos, viabilizando assim seu plano
de negócios. Resta a ironia de ser num governo do PT que parte da
estatal será privatizada.
Entre
as premissas para execução desse plano, a Petrobras considera que o
governo não vai mais impor à companhia uma política irresponsável para
os preços dos combustíveis. Preços internos alinhados aos internacionais
são uma pré-condição para que o Brasil consiga atrair investidores e
parceiros para a própria Petrobras, nos segmentos de abastecimento e
distribuição de combustíveis.
Essa revisão do plano de negócios da Petrobras é também uma
oportunidade para o governo reavaliar a política de conteúdo local,
separando o que deu errado do que está caminhando bem. Bem como é
necessário acabar com a participação compulsória da estatal em um terço
de todos os consórcios no pré-sal. Sequer há dinheiro para o delírio.
Não executar a mudança significa retardar a exploração das áreas.
O ideal é fazer o desmonte do modelo de partilha e seus complementos,
como o monopólio na operação no pré-sal, outra ideia estatista
inexequível.
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