Clóvis Rossi - FSP
A mafiocracia faz eleições no próximo domingo, 6 de setembro.
Não, leitor apressado, não estou falando de Brasil ao usar esse neologismo, mas da Guatemala.
A expressão pertence a Christians Castillo, do Instituto de Problemas
Nacionais da Universidade de San Carlos, em artigo para a revista
alternativa "ContraPoder".
Escreve Castillo no texto: "A tradição política imediatista, messiânica e eleitoreira gerou as condições para que se implante a mafiocracia na Guatemala".
Funciona assim, sempre segundo o analista:
"Uma boa parte dos hoje candidatos é um conjunto de indivíduos que descobriram nos recursos do Estado —financeiros, físicos, geográficos, de autoridade, entre outros— a forma de produzir e reproduzir capitais que lhes permitem um luxuoso estilo de vida, sem muitos sacrifícios, salvo o de carregar o desprestígio, o risco jurídico e a carga social de viver muito bem em um país no qual mais de 50% da população é pobre".
Soa familiar? Serve para o Brasil, palavras mais, número de pobres menos? Você decide, mas eu acho que, por aqui, não há peso na consciência da classe política.
A grande diferença é que a Guatemala parece ter chegado ao limite da tolerância com a corrupção da mafiocracia.
Há 18 sábados consecutivos, e em outros dias também, multidões se reúnem na histórica Plaza de la Constitución, o marco zero da capital, para protestar contra o presidente Otto Pérez Molina, indiciado sob a acusação de ser um dos chefes de uma rede de contrabando descoberta na alfândega (detalhe: a vice-presidente, Roxana Baldetti, teve que renunciar pelo mesmo motivo e está na cadeia).
Mas, se haverá uma eleição presidencial dentro de exatamente uma semana, para que protestar? Simples: a maioria dos candidatos a suceder Pérez Molina também é acusada de uma penca de crimes.
O primeiro colocado nas pesquisas, Manuel Baldizón Méndez, derrotado pelo atual presidente no pleito anterior, está igualmente indiciado, por acusações como a de compra de votos.
Conclusão de Haroldo Shetumul, em coluna feita para o jornal "Prensa Libre": "Embora sempre tenha existido repúdio às práticas corruptas da classe política, nunca na história do país se havia visto um processo eleitoral totalmente deslegitimado e atípico".
Reforça o sociólogo Gustavo Berganza: "Ganhe quem ganhe a eleição, o governo será ilegítimo".
Pode ser que a Guatemala esteja apenas fazendo jus à auto-ironia que diz que o país vai de "Guatemala a Guatepeor". Não é em todos os países que, além de uma fatia da população, também a igreja e o empresariado pedem, em coro, a saída do presidente, mesmo faltando apenas quatro meses para a posse do eleito no próximo domingo.
Até um típico representante do establishment, Julio Ligorría Carballido, embaixador em Washington, escreveu, para o jornal "El País", que "os políticos terão que se reinventar e trabalhar muito rapidamente para produzir as reformas necessárias se quiserem gerar condições de governabilidade e paz social durante os próximos anos".
Vale para a Guatemala, vale para o Brasil.
Escreve Castillo no texto: "A tradição política imediatista, messiânica e eleitoreira gerou as condições para que se implante a mafiocracia na Guatemala".
Funciona assim, sempre segundo o analista:
"Uma boa parte dos hoje candidatos é um conjunto de indivíduos que descobriram nos recursos do Estado —financeiros, físicos, geográficos, de autoridade, entre outros— a forma de produzir e reproduzir capitais que lhes permitem um luxuoso estilo de vida, sem muitos sacrifícios, salvo o de carregar o desprestígio, o risco jurídico e a carga social de viver muito bem em um país no qual mais de 50% da população é pobre".
Soa familiar? Serve para o Brasil, palavras mais, número de pobres menos? Você decide, mas eu acho que, por aqui, não há peso na consciência da classe política.
A grande diferença é que a Guatemala parece ter chegado ao limite da tolerância com a corrupção da mafiocracia.
Há 18 sábados consecutivos, e em outros dias também, multidões se reúnem na histórica Plaza de la Constitución, o marco zero da capital, para protestar contra o presidente Otto Pérez Molina, indiciado sob a acusação de ser um dos chefes de uma rede de contrabando descoberta na alfândega (detalhe: a vice-presidente, Roxana Baldetti, teve que renunciar pelo mesmo motivo e está na cadeia).
Mas, se haverá uma eleição presidencial dentro de exatamente uma semana, para que protestar? Simples: a maioria dos candidatos a suceder Pérez Molina também é acusada de uma penca de crimes.
O primeiro colocado nas pesquisas, Manuel Baldizón Méndez, derrotado pelo atual presidente no pleito anterior, está igualmente indiciado, por acusações como a de compra de votos.
Conclusão de Haroldo Shetumul, em coluna feita para o jornal "Prensa Libre": "Embora sempre tenha existido repúdio às práticas corruptas da classe política, nunca na história do país se havia visto um processo eleitoral totalmente deslegitimado e atípico".
Reforça o sociólogo Gustavo Berganza: "Ganhe quem ganhe a eleição, o governo será ilegítimo".
Pode ser que a Guatemala esteja apenas fazendo jus à auto-ironia que diz que o país vai de "Guatemala a Guatepeor". Não é em todos os países que, além de uma fatia da população, também a igreja e o empresariado pedem, em coro, a saída do presidente, mesmo faltando apenas quatro meses para a posse do eleito no próximo domingo.
Até um típico representante do establishment, Julio Ligorría Carballido, embaixador em Washington, escreveu, para o jornal "El País", que "os políticos terão que se reinventar e trabalhar muito rapidamente para produzir as reformas necessárias se quiserem gerar condições de governabilidade e paz social durante os próximos anos".
Vale para a Guatemala, vale para o Brasil.
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