Dilma manda Orçamento ao Congresso com deficit
Sem nova CPMF, equipe econômica ficou sem alternativa para cobrir rombo
Numa tentativa de conter reação negativa dos mercados nesta segunda, governo fala em reformas no futuro
VALDO CRUZ - FSP
Depois de desistir de recriar a CPMF, o governo decidiu neste domingo
(30) encaminhar ao Congresso sua proposta de Orçamento da União para o
próximo ano com uma previsão de deficit primário.
A própria presidente Dilma Rousseff comunicou a decisão a líderes
aliados, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
De acordo com assessores da presidente, o governo optou por encaminhar
um orçamento "realista e transparente".
Ao apresentar o orçamento com deficit primário, o governo indica que não
vê como economizar o suficiente para pagar os juros da dívida pública e
que precisará se endividar ainda mais para financiar suas despesas em
2016.
Esta será a primeira vez que o orçamento federal é enviado ao Congresso
com deficit primário desde que o governo passou a contabilizar seus
números dessa maneira, na administração do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Ao expor a fragilidade das finanças do governo, o orçamento poderá levar
as agências internacionais de classificação de risco a rebaixar a nota
do Brasil e excluir o país do grupo considerado mais seguro pelos
investidores, agravando a crise econômica.
Um assessor disse à Folha que, para evitar reações negativas do
mercado, o governo vai anunciar que enviará ainda neste ano propostas de
reformas econômicas, como na Previdência Social, para melhorar as
contas públicas.
Segundo este auxiliar, o governo preferiu não enviar um orçamento com
receitas ainda não seguras, o que poderia alimentar mais desconfianças
dos investidores.
Antes de reconhecer o deficit, o governo trabalhava com a possibilidade
de apresentar um superávit primário equivalente a 0,7% do PIB (Produto
Interno Bruto) para todo o setor público, sendo 0,55% apenas do governo
federal.
O tamanho do deficit estava sendo definido na noite de domingo e ainda
passará por uma última análise nesta segunda-feira (31), quando a
proposta precisa ser enviada ao Congresso. Segundo a Folha apurou, o deficit primário deverá ficar entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões.
Nos debates internos do governo, a Casa Civil e o Ministério do
Planejamento defenderam a proposta de assumir o deficit no próximo ano. O
Ministério da Fazenda preferia aprofundar os cortes de gastos, mas foi
convencido de que há a rigidez das despesas obrigatórias impõe limites.
EXPECTATIVAS
O receio da equipe do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é que aceitar
um deficit nas contas públicas em 2016 piore as expectativas sobre o
rumo da economia brasileira, tornando mais difícil a recuperação
econômica.
Antes de comunicar a decisão, a presidente e sua equipe fizeram consultas a aliados no Congresso e governadores.
Um dos consultados, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse à Folha
ser a favor da ideia. "O governo tem de enviar um orçamento real,
reconhecendo os problemas fiscais do setor público", afirmou,
acrescentando que o reconhecimento do problema levará o Congresso a
buscar alternativas para superá-lo.
O governo desistiu da ideia de recriar um imposto sobre transações
financeiras nos moldes da CPMF três dias depois de lançar a proposta,
por causa da reação negativa de políticos e empresários.
O relator da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, deputado Ricardo
Barros (PP-PR), que também foi consultado pelo governo, disse ser contra
a apresentação do orçamento com deficit.
Segundo ele, o melhor seria debater o que é "mais nocivo para a economia
do país, pagar um pouco mais de imposto ou perder o grau de
investimento?" O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também foi ouvido e
avalia que o melhor caminho é adotar um "orçamento realista".
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