Graça Barbosa Ribeiro - Público
O processo de integração, que pretende ser exemplar, vai ser um desafio. Para as quatro famílias, três sírias e uma sudanesa, e para a população do pequeno concelho do Pinhal Interior
Quando lhes perguntaram onde, preferencialmente,
gostariam de ser acolhidos, apontaram Londres, Paris e Berlim. Mas, no
dia 11 de Setembro, depois de uma viagem de avião, terão de percorrer
cerca de 200 quilómetros, a partir do aeroporto de Lisboa, e de cortar
para o interior, na zona centro, para chegar àquelas que serão as suas
casas nos próximos dez meses. Um desafio para os 21 refugiados, que vão
ser acolhidos na vila de Penela, mas também para os cerca de 5500
habitantes daquele concelho.
As novidades chegaram à população através dos partidos políticos. “O município de Penela vai receber um grupo de refugiados constituído por quatro famílias numerosas (…). Esta informação foi-me confirmada pelo presidente de câmara, quando o questionei acerca do tema”, informou em Abril um vereador do PS, através do Facebook. Adiantava ainda que o projecto-piloto seria coordenado pela Fundação Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP), de Miranda do Corvo, um concelho vizinho; fazia notar que ele seria realizado “em parceria com várias entidades” e acrescentava que o município de Penela seria “o único a receber refugiados”.
Para além daquela, o vereador socialista deu já outras informações que só esta semana foram oficialmente anunciadas, como a intenção de alojar as famílias “em quatro apartamentos de tipologia T3”, arrendados pela ADFP à autarquia de Penela, e a de colocar as crianças e os bebés das famílias nas escolas e creches do concelho. Também se referia ao facto de entidades de Penela já terem mostrado” interesse em contratar estes refugiados”.
Apesar de na publicação o PS criticar apenas o “secretismo” com que o executivo estava a conduzir o processo, percebe-se, pelos comentários, que a polémica cresceu em torno de outras questões. “E os penelenses que estão por empregar? E aqueles que vivem em condições precárias?”, pode ler-se num comentário sobre o assunto; e logo a seguir: “Desde que venham e se integrem e trabalhem, acho bem.” “Positivo, porque devemos procurar ajudar os outros. Negativo, porque por cá precisamos de ajuda”, procurava equilibrar, noutro comentário, uma terceira pessoa.
Neste domingo, o presidente da câmara, social-democrata Luís Matias, garantiu que essa discussão está ultrapassada e que a participação da autarquia no projecto da ADFP foi aprovada “sem votos contra”. “Na altura não queria falar do assunto: era demasiado cedo e não queria criar ruído”, explicou, frisando que, entretanto, já foram promovidas inúmeras campanhas de sensibilização. Entre outras acções, conta, mandou distribuir folhetos em que explicava, por exemplo, que a assistência aos refugiados é financiada maioritariamente pela União Europeia. Ao padre, disse também, coube falar, nas missas de domingo, sobre tolerância religiosa e o amor ao próximo – “principalmente aos que mais sofrem”, precisou Luís Matias, referindo-se às quatro famílias, três sírias e uma sudanesa, em que as crianças estão em maioria.
Imigrante quer pôr refugiados a conviver
Rapidamente se perceberá o que valeu a sensibilização. Jaime Ramos, o presidente da ADFP, que pretende vir a acolher mais refugiados, num futuro próximo, fez questão de criar condições para que a integração possa ser um sucesso e um exemplo. E, à frente da equipa, colocou uma socióloga, com experiência académica e profissional na área das migrações e com uma história de vida com pontos comuns à dos refugiados. Natáliya Bekh, uma ucraniana que há 12 anos chegou ao país sem saber uma palavra de português, quer colocar “rapidamente os refugiados nas ruas, a conviver com os penelenses”.
Mal cheguem, começam a aprender a língua e, simultaneamente, a aplicá-la, em passeios pela vila, nas idas à farmácia, e nas visitas aos centros de saúde e ao supermercado, diz. Ao mesmo tempo, a equipa promoverá acções de sensibilização entre as pessoas que fazem atendimento naqueles serviços, bem como nas escolas e creches que vão receber as crianças. “É muito importante que de ambas as partes haja abertura para conhecer e respeitar a cultura dos outros”, sublinha Natáliya Bekh.
A coordenadora do projecto admite que o processo seja relativamente lento – por exemplo, no início, as aulas de português serão dadas aos homens e às mulheres em grupos separados. Ela diz esperar, no entanto, que "dentro de poucos meses" consiga juntá-los na mesma sala. Para isso, contribuirão, acredita, o exemplo de outros elementos da equipa, como a intérprete, tunisina e muçulmana, que também reside em Portugal.
Superada a barreira da língua, tudo se tornará mais fácil, acredita Natáliya Bekh. O acompanhamento psicológico das 21 pessoas; o reconhecimento das qualificações dos adultos; a formação, se for caso disso, nas mesmas áreas ou alternativas; e a realização de estágios ou de serviços de voluntariado que lhes permita adaptarem-se ao mundo do trabalho português fazem parte do plano de acções a desenvolver durante os dez meses em que o projecto é financiado. Mas “as excursões pelo país, para mostrar a belezas de Portugal – naturais, históricas e culturais”, como sublinha a coordenadora do projecto, não estão no fim da lista.
“Mesmo para a sua auto-estima, é muito importante que eles aprendam a gostar do país, a sentirem orgulho por estar aqui e, se for caso disso, em virem a ser portugueses”, explica. Afinal, lembra, vão chegar dia 11 (se entretanto a viagem não for adiada) a uma vila de cerca de 3500 habitantes, no Pinhal Interior, um sítio muito diferente das cidades de Londres, Paris e Berlim com que sonharam no Egipto.
As novidades chegaram à população através dos partidos políticos. “O município de Penela vai receber um grupo de refugiados constituído por quatro famílias numerosas (…). Esta informação foi-me confirmada pelo presidente de câmara, quando o questionei acerca do tema”, informou em Abril um vereador do PS, através do Facebook. Adiantava ainda que o projecto-piloto seria coordenado pela Fundação Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP), de Miranda do Corvo, um concelho vizinho; fazia notar que ele seria realizado “em parceria com várias entidades” e acrescentava que o município de Penela seria “o único a receber refugiados”.
Para além daquela, o vereador socialista deu já outras informações que só esta semana foram oficialmente anunciadas, como a intenção de alojar as famílias “em quatro apartamentos de tipologia T3”, arrendados pela ADFP à autarquia de Penela, e a de colocar as crianças e os bebés das famílias nas escolas e creches do concelho. Também se referia ao facto de entidades de Penela já terem mostrado” interesse em contratar estes refugiados”.
Apesar de na publicação o PS criticar apenas o “secretismo” com que o executivo estava a conduzir o processo, percebe-se, pelos comentários, que a polémica cresceu em torno de outras questões. “E os penelenses que estão por empregar? E aqueles que vivem em condições precárias?”, pode ler-se num comentário sobre o assunto; e logo a seguir: “Desde que venham e se integrem e trabalhem, acho bem.” “Positivo, porque devemos procurar ajudar os outros. Negativo, porque por cá precisamos de ajuda”, procurava equilibrar, noutro comentário, uma terceira pessoa.
Neste domingo, o presidente da câmara, social-democrata Luís Matias, garantiu que essa discussão está ultrapassada e que a participação da autarquia no projecto da ADFP foi aprovada “sem votos contra”. “Na altura não queria falar do assunto: era demasiado cedo e não queria criar ruído”, explicou, frisando que, entretanto, já foram promovidas inúmeras campanhas de sensibilização. Entre outras acções, conta, mandou distribuir folhetos em que explicava, por exemplo, que a assistência aos refugiados é financiada maioritariamente pela União Europeia. Ao padre, disse também, coube falar, nas missas de domingo, sobre tolerância religiosa e o amor ao próximo – “principalmente aos que mais sofrem”, precisou Luís Matias, referindo-se às quatro famílias, três sírias e uma sudanesa, em que as crianças estão em maioria.
Imigrante quer pôr refugiados a conviver
Rapidamente se perceberá o que valeu a sensibilização. Jaime Ramos, o presidente da ADFP, que pretende vir a acolher mais refugiados, num futuro próximo, fez questão de criar condições para que a integração possa ser um sucesso e um exemplo. E, à frente da equipa, colocou uma socióloga, com experiência académica e profissional na área das migrações e com uma história de vida com pontos comuns à dos refugiados. Natáliya Bekh, uma ucraniana que há 12 anos chegou ao país sem saber uma palavra de português, quer colocar “rapidamente os refugiados nas ruas, a conviver com os penelenses”.
Mal cheguem, começam a aprender a língua e, simultaneamente, a aplicá-la, em passeios pela vila, nas idas à farmácia, e nas visitas aos centros de saúde e ao supermercado, diz. Ao mesmo tempo, a equipa promoverá acções de sensibilização entre as pessoas que fazem atendimento naqueles serviços, bem como nas escolas e creches que vão receber as crianças. “É muito importante que de ambas as partes haja abertura para conhecer e respeitar a cultura dos outros”, sublinha Natáliya Bekh.
A coordenadora do projecto admite que o processo seja relativamente lento – por exemplo, no início, as aulas de português serão dadas aos homens e às mulheres em grupos separados. Ela diz esperar, no entanto, que "dentro de poucos meses" consiga juntá-los na mesma sala. Para isso, contribuirão, acredita, o exemplo de outros elementos da equipa, como a intérprete, tunisina e muçulmana, que também reside em Portugal.
Superada a barreira da língua, tudo se tornará mais fácil, acredita Natáliya Bekh. O acompanhamento psicológico das 21 pessoas; o reconhecimento das qualificações dos adultos; a formação, se for caso disso, nas mesmas áreas ou alternativas; e a realização de estágios ou de serviços de voluntariado que lhes permita adaptarem-se ao mundo do trabalho português fazem parte do plano de acções a desenvolver durante os dez meses em que o projecto é financiado. Mas “as excursões pelo país, para mostrar a belezas de Portugal – naturais, históricas e culturais”, como sublinha a coordenadora do projecto, não estão no fim da lista.
“Mesmo para a sua auto-estima, é muito importante que eles aprendam a gostar do país, a sentirem orgulho por estar aqui e, se for caso disso, em virem a ser portugueses”, explica. Afinal, lembra, vão chegar dia 11 (se entretanto a viagem não for adiada) a uma vila de cerca de 3500 habitantes, no Pinhal Interior, um sítio muito diferente das cidades de Londres, Paris e Berlim com que sonharam no Egipto.
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