Mais agilidade para combater a corrupção
Propostas do Ministério Público Federal para
elaboração de projeto de lei de iniciativa popular são boa contribuição
para punir crimes contra o patrimônio
O Globo
A atuação do Ministério Público Federal e Justiça na Operação Lava-Jato
tem sido saudada como modelo de correção para passar a limpo o esquema
de corrupção montado pelo luloptismo e aliados, a fim de surrupiar
bilhões da Petrobras. É claro, não faltarão contestações da defesa em
instâncias superiores.
Mas, na tradição do sistema judiciário brasileiro, no qual a
postergação do cumprimento de sentenças por meio de recursos e chicanas é
a regra, a Lava-Jato é, até agora, um ponto fora da curva. A norma,
ainda mais em processos que envolvem crimes patrimonialistas, é a
lentidão nos tribunais e, pior, o adiamento de ações até o limite da
prescrição.
Em artigo recente na “Folha de S.Paulo”, o procurador Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, lembrou o
emblemático episódio do propinoduto como paradigma da impunidade.
Descoberto em 2002, o escândalo envolveu fiscais da receita fluminense
num esquema milionário de desvio de recursos. Graças a uma série de
brechas na lei, principalmente a interposição de seguidos recursos, os
implicados — entre eles o notório Silveirinha — jamais pagaram pelos
crimes. “No caso do propinoduto, os crimes de corrupção, sonegação e
evasão de divisas foram declarados prescritos pelo STJ no fim de 2014”,
observou o procurador.
Ele
não crê que a Lava-Jato tenha o mesmo fim do propinoduto, mas a
discussão sobre a eficácia da Justiça em crimes contra o patrimônio é
mais profunda. Não se limita a um caso, como o do petrolão, que tem sido
acompanhado pela imprensa e por toda a sociedade, logo, com algum
anteparo contra postergações. A questão está na rotina do Judiciário,
onde ações semelhantes correm sem despertar tanto interesse. É preciso
que, tomando-se a Lava-Jato como paradigma, procedimentos que impliquem
elucidação e, quando for o caso, punição sejam abrangentes de modo a se
tornar norma, e não exceção, nos ritos processuais.
O pacote de propostas apresentado em março pelo MPF, visando a
coletar assinaturas para a elaboração de um projeto de lei de origem
popular, nos moldes da Lei da Ficha Limpa, é importante contribuição nas
discussões para romper os gargalos dos ritos processuais que estimulam a
impunidade. Trata-se de uma série de proposições para reforçar o
combate à corrupção no país. Respeitados princípios como o direito a
ampla defesa e sem cair na armadilha da tentação da execução sumária de
sentenças, providências como dar celeridade a ações de improbidade
administrativa, aumentar a transparência do Judiciário/MP e a reforma do
sistema de prescrição penal são cruciais para estabelecer protocolos
judiciais de maior eficiência.
O teor do documento também vai ao encontro do espírito do novo Código
de Processo Civil, que entrará em vigor em 2016, com o explícito
propósito de tornar a Justiça mais eficiente e mais ágil, pressuposto do
Estado Democrático de Direito.
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