Reinaldo Azevedo - VEJA
A
presidente Dilma Rousseff desistiu da CPMF. Pois é. Deveria ter
desistido do governo, deixando a administração para quem reúne hoje mais
condições políticas e técnicas. O conjunto da obra impressiona. Em três
dias, o Palácio do Planalto sacou da algibeira o famigerado imposto,
pôs o corneteiro Arthur Chioro para defender a proposta, tentou arrastar
prefeitos e governadores para o buraco, assistiu a um verdadeiro
levante da sociedade contra a tunga e, ora vejam…, teve de recuar.
Quem terá
dado à governanta a sugestão? Com a saída do vice, Michel Temer, da
coordenação política, Aloizio Mercadante voltou a se agigantar no
Palácio e dá de novo as cartas. Quais cartas e para quem? Ninguém
comparece para jogar com a presidente.
Dilma
ter-se metido nessa trapalhada da CPMF diz bem o que é o seu governo e a
forma como ela toca o dia a dia do país. Só uma presidente
absolutamente alheia a tudo o que está à sua volta condescenderia com a
criação de um imposto a esta altura do campeonato.
Notem que o
Planalto não se encarregou nem mesmo de tentar esconder a malandragem.
Enquanto Chioro cornetava uma tal “Contribuição Interfederativa da
Saúde”, a área econômica deixava claro que o dinheiro buscaria mesmo é
cobrir o rombo de caixa. O país está fabricando déficit primário, e o
governo cogita já assumi-lo para 2016, desistindo da meta de superávit
primário de 0,7% do PIB.
Se a
proposta era, por si, espantosa, não menos surpreendente foi a forma
como se imaginou que pudesse ser implementada, sem negociar com ninguém.
Quando percebeu o tamanho da barafunda, Dilma resolveu correr para
pedir auxílio a Temer, o mesmo que teve de deixar a coordenação política
porque havia sempre petistas no meio do caminho. O vice disse a Dilma
que afastasse dele aquele cálice. Ele não iria entrar na, literalmente,
roubada. Os que tomaram a decisão absurda que tentassem convencer a
sociedade.
Não menos
espantoso é lembrar que o Executivo não pode criar taxas sem a aprovação
do Congresso. E a recriação da CPMF, dado o atual quadro da economia,
não passaria por deputados e senadores nem com reza braba. Alguém
sugeriu, então, a Dilma que tentasse enredar os governadores… Mais uma
vez! Estes fizeram chegar à presidente a informação de que nada poderiam
fazer por ela.
Já escrevi
aqui e reitero. A pior de todas as crises, que deriva das outras duas —
a econômica é a política —, é a de confiança. Ninguém mais espera que
Dilma vá fazer a coisa certa. A imagem que se tem hoje consolidada da
presidente é a de uma pessoa presa no palácio, cercada de coordenadores
políticos incompetentes, descolada da realidade do país, alheia à
gravidade do momento.
Eis a
razão por que digo que o Brasil tem respostas para todas as hipóteses de
saída de Dilma. O país só não sabe o que fazer se ela ficar.
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