Puro desespero
Ideia de recriar CPMF foi recebida com justa repulsa; governo precisa
apresentar plano para conter despesas antes de discutir arrecadação
FSP
A tresloucada tentativa do governo Dilma Rousseff (PT) de recriar a CPMF
foi recebida com justa repulsa pela sociedade. Além da notável falta de
tato político, tendo em vista o clima de conflagração no Congresso, o
Planalto demonstra que se move sobretudo pelo desespero de tapar buracos
cada vez maiores nas contas públicas.
A desastrada iniciativa –abandonada antes mesmo de ser plenamente
concebida– decorre da constatação do governo de que precisa providenciar
R$ 80 bilhões para atingir as metas em 2016. Como não tem um plano
coerente para isso, pensou logo na medida com maior potencial
arrecadatório.
Se essa contribuição tem a vantagem de ser fácil de arrecadar, ela pesa
demais na estrutura tributária por se tratar de mero pedágio acionado a
cada transferência de dinheiro, à revelia do poder aquisitivo do
contribuinte. Daí resulta um efeito em cascata, a encarecer produtos e
serviços a cada estágio que demande pagamentos.
Os problemas da CPMF, porém, nem estão no cerne do debate. O que a
rápida reação crítica à ideia demonstra é que a reorganização das
finanças não poderá ser obtida apenas com maior arrecadação.
Será preciso desenhar uma ampla estratégia de reformas, que tenha
aceitação da sociedade e passe necessariamente pelo controle do
crescimento das despesas. O desafio também inclui reconquistar
credibilidade, possibilitando fazer o ajuste de forma mais paulatina.
O plano deve envolver projetos que reduzam o ritmo de expansão de
desembolsos obrigatórios, como os da Previdência. A fixação de uma idade
mínima para aposentadoria alinhada à evolução demográfica fecharia a
maior conta em aberto no longo prazo.
Além disso, o governo precisa de mais liberdade na gestão do Orçamento
–e para isso deve-se reduzir a vinculação das receitas, de modo que os
cortes deixem de atingir sobretudo os investimentos.
Outro conjunto de medidas deve mirar a qualidade e a imposição de
limites constitucionais para o crescimento dos gastos. Cerca de 8% do
PIB vai para custeio e funcionários públicos –incluindo cargos
comissionados que entram na barganha política.
É preciso ganhar eficiência e economizar uma boa fatia desse valor. As
áreas de educação e saúde devem ser preservadas ao máximo, mas mesmo
nelas é preciso verificar como e onde se gasta.
Cumpre reconhecer, por fim, que provavelmente será necessário ampliar a
tributação para equilibrar as contas. O debate, nesse caso, diz respeito
a quais impostos são socialmente mais justos e menos nocivos à
produção.
Elevar a carga tributária pode ser aceitável, desde que haja como
contrapartidas alguma melhoria nos serviços públicos e limitação efetiva
da expansão do Estado.
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