Antes que se arrebente
Vinicius Mota - FSP
SÃO PAULO - Há gente experta na política a vaticinar que o Brasil
só escapará da encalacrada atual depois de esborrachar-se no muro. Não
bastaria antever a aproximação do armagedom para mudar de rota. Seria
preciso experimentá-lo.
Souvarine, o sabotador anarquista do "Germinal" de Zola, era um esteta
do gênero: "Ateiem fogo aos quatro cantos das cidades, ceifem os povos,
arrasem tudo e, quando nada mais sobrar deste mundo podre, talvez surja
dele um melhor", dizia e praticava. A proclamação chega a ser esplêndida
na literatura. Quando acontece na vida vivida, é apenas desgraça.
É para a desgraça certa que se desenrolam os acontecimentos da política
brasileira. Estivesse a crise resumida a quizilas de poder, não haveria
razão para desespero, mas ela arrasta para o fogo a segurança material
de 200 milhões de almas.
O problema é como restaurar a responsabilidade dos atores políticos no
momento em que o príncipe do nosso sistema, o presidente da República,
reduziu-se a figura simbólica. A saída mais rápida seria repactuar
forças em torno de Dilma Rousseff, o que no entanto tem sido dificultado
pela inapetência da presidente e pela sua proximidade dos vetores
desagregadores representados por Lula e pelo PT.
Não será possível salvar o governo Dilma, o ex-presidente Lula e o PT.
Se a presidente continuar conectada ao seu mentor e ao seu partido,
ninguém mais chegará perto dela para negociar saídas. O isolamento
ficará tão intenso que a renúncia se tornará um recurso de misericórdia.
Outra opção seria organizar em torno de Michel Temer um governo de fato,
fundado na partilha de responsabilidade com grupos dominantes no
Congresso. A substância do acordo teria de conter reformas dolorosas nas
despesas e nas receitas do Estado, além da "despetização" do Executivo.
A um pacto forte assim, Dilma seria obrigada a submeter-se ou cair
fora.
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