Kate Galbraith - NYT
Sandy Huffaker/The New York Times
Colegas de longa data de Walter Munk o descrevem como um homem cortês de uma curiosidade sem limites, com uma habilidade incrível para pesquisar os problemas importantes na hora certa
Em 1942, no meio da 2ª Guerra Mundial, um jovem cientista militar ficou sabendo dos planos dos Aliados para invadir o noroeste da África pelo mar para expulsar as forças do Eixo que estavam ali perto.
O cientista, Walter Munk, que tinha vinte e poucos anos, fez uma pesquisa rápida e descobriu que as ondas da região costumavam ser muito altas para que os barcos que carregavam soldados chegassem às praias em segurança. Poderia haver um desastre. Ele mencionou isso para seu comandante, mas foi ignorado.
A resposta foi: "Eles devem ter pensado nisso", lembra-se Munk, agora com 97 anos. Mas o jovem cientista insistiu, chamando seu professor da Instituição Scripps de Oceanografia, perto de San Diego, para ajudar.
Eles elaboraram uma forma de calcular as
ondas que os barcos poderiam esperar. Seu trabalho ajudou os barcos a
atracar numa janela de relativa calmaria, e a ciência de previsão das
ondas decolou, tornando-se parte do planejamento dos desembarques do Dia
D, em 1944.
Essas façanhas explicam por quê Munk é às vezes chamado de "Einstein dos oceanos". Colegas de longa data o descrevem como um homem cortês de uma curiosidade sem limites, com uma habilidade incrível para pesquisar os problemas importantes na hora certa. Além da previsão das ondas na época da guerra, Munk fez pesquisas pioneiras na transmissão de som no oceano, marés de águas profundas e até mesmo sobre mudanças climáticas, embora alguns de seus trabalhos na área tenham sido controversos.
Ainda hoje, em sua oitava década de trabalho científico, sua mesa tem livros e artigos cheios de fórmulas geofísicas, e ele continua a empreender projetos que vão desde o uso de sinais sonoros submarinos para medir o aumento das temperaturas do oceano até estudar como o vento causa a corrente do Golfo. Se tivesse mais tempo, diz Munk, trabalharia com geoengenharia.
"Ele tem um talento nato para escolher os problemas que estão no ponto para inaugurar novas áreas de estudo", disse Peter Worcester, um oceanógrafo da Scripps que trabalhou com Munk numa série de questões, inclusive a mudança climática.
Nascido em 1917 de uma família bancária de herança judaica, Munk cresceu em Viena, viajando frequentemente para o interior da Áustria. Seu pai trabalhou por um tempo como motorista do imperador austríaco Franz Joseph durante a Primeira Guerra Mundial. "Ele tinha o único Rolls-Royce de Viena", disse Munk.
Seus pais se divorciaram mais tarde, e ele era mais próximo da mãe, que o mandou para uma escola no norte do Estado de Nova York, em 1932.
Depois de cursar disciplinas à noite na Universidade de Columbia, ele decidiu deixar o setor bancário e foi admitido no Instituto de Tecnologia da Califórnia, onde estudou física aplicada. Enquanto passava o verão de 1939 junto de uma namorada na cidade litorânea de La Jolla, perto de San Diego, ele conseguiu um emprego na Scripps (agora parte da Universidade da Califórnia, San Diego), onde trabalhou a maior parte de sua carreira.
Colegas dizem que Munk aproveitou as ferramentas de análise de computador que estavam surgindo para ajudar a transformar suas observações diretas sobre o oceano em sofisticados projetos de pesquisa. Mas Munk diz que teme que os jovens oceanógrafos de hoje dependam demais dos computadores e deixem de fazer perguntas fundamentais ou assumir riscos.
"Computadores são muito mais baratos do que barcos, e muito mais confortáveis", disse ele. "E eu estou um pouco preocupado com tantas pessoas fazendo experimentos no computador e perdendo sua habilidade, e a liderança norte-americana, nas medições no mar."
Seu trabalho no mar inclui alguns momentos notáveis na história do mundo. Dias antes dos testes nucleares no atol de Bikini em 1946, Munk e um colega jogaram corante na água para avaliar a rapidez com que os materiais radioativos sairiam da baía.
Perto do local de teste da bomba de hidrogênio muito mais poderosa no atol de Eniwetok, em 1952, ele monitorou o oceano para saber se havia potencial de um tsunami. Isso não aconteceu, mas Munk e sua tripulação tenham ficado encharcados com a chuva radioativa e tiveram de jogar suas roupas no mar.
O ponto alto da sua carreira, como diz Munk, aconteceu em 1991, quando ele viajou para a ilha Heard, um lugar remoto no sul do oceano Índico, para testar sinais de som de longo alcance no oceano.
Munk tinha trabalhado extensivamente com os colegas sobre a acústica do oceano, uma área útil para detectar ou esconder submarinos. O objetivo do experimento na ilha Heard era determinar se um som gerado no sul do oceano Índico podia ser ouvido em outros cantos do mundo. A velocidade em que os sinais sonoros viajavam poderia fornecer dados úteis sobre o aquecimento da temperatura dos oceanos, Munk concluiu, porque o som viajaria um pouco mais rápido à medida que o oceano se aquecesse.
Horas antes de o experimento começar, Munk foi acordado por um telefonema de Bermuda. A milhares de quilômetros dali, o posto de escuta já tinha ouvido o som antes de o experimento ter começado. Eles verificaram que o posto de Bermuda tinha ouvido o breve teste de som que os técnicos tinham feito durante a preparação para o teste completo.
"E essa foi a melhor notícia que eu já ouvi", disse Munk. As transmissões da ilha Heard ficaram conhecidas como o "som ouvido ao redor do mundo".
Mas o entusiasmo de Munk por usar sons do oceano para medir as alterações climáticas criou problemas anos mais tarde. Em 1994, como parte de um projeto da Scripps, ele quis instalar um transmissor de som no Santuário Nacional Marinho da Baía de Monterey ao longo da costa da Califórnia para ajudar a medir a mudança das temperaturas do oceano ao longo do tempo. (Outro foi instalado na costa do Havaí.)
Mas os ambientalistas temiam que as transmissões prejudicassem as baleias, que se orientam e encontram comida por meio de seu próprio sonar, e se alimentam no santuário. O Conselho de Defesa dos Recursos Naturais pediu e recebeu uma audiência pública numa tentativa de impedir o projeto na Baía de Monterey.
"O que aconteceu aqui foi uma colisão frontal entre Walter Munk e baleias. Essa foi a percepção", lembra Joel Reynolds, advogado sênior do Conselho de Defesa. Munk e os militares, que estavam financiando a maior parte do estudo, não previram a preocupação que o projeto acústico geraria na opinião pública, disse ele.
Após negociações com os ambientalistas, Munk e Scripps concordaram em transferir o posto de escuta para mais longe da costa da Califórnia e priorizar um estudo dos efeitos dos sons nos mamíferos marinhos.
Hoje em dia, enquanto ele avança em projetos de estudo do vento, ondas e outros, às vezes se esquece dos horários de reuniões e se locomove com um andador. Mas ele continua sendo uma presença frequente na Scripps, andando pelos corredores de um prédio que hoje leva seu nome. O segredo de sua longevidade?
"Eu gosto do meu trabalho e gosto da minha vida, e gosto de fazer isso", disse ele.
Tradutor: Eloise de Vylder
Essas façanhas explicam por quê Munk é às vezes chamado de "Einstein dos oceanos". Colegas de longa data o descrevem como um homem cortês de uma curiosidade sem limites, com uma habilidade incrível para pesquisar os problemas importantes na hora certa. Além da previsão das ondas na época da guerra, Munk fez pesquisas pioneiras na transmissão de som no oceano, marés de águas profundas e até mesmo sobre mudanças climáticas, embora alguns de seus trabalhos na área tenham sido controversos.
Ainda hoje, em sua oitava década de trabalho científico, sua mesa tem livros e artigos cheios de fórmulas geofísicas, e ele continua a empreender projetos que vão desde o uso de sinais sonoros submarinos para medir o aumento das temperaturas do oceano até estudar como o vento causa a corrente do Golfo. Se tivesse mais tempo, diz Munk, trabalharia com geoengenharia.
"Ele tem um talento nato para escolher os problemas que estão no ponto para inaugurar novas áreas de estudo", disse Peter Worcester, um oceanógrafo da Scripps que trabalhou com Munk numa série de questões, inclusive a mudança climática.
Nascido em 1917 de uma família bancária de herança judaica, Munk cresceu em Viena, viajando frequentemente para o interior da Áustria. Seu pai trabalhou por um tempo como motorista do imperador austríaco Franz Joseph durante a Primeira Guerra Mundial. "Ele tinha o único Rolls-Royce de Viena", disse Munk.
Seus pais se divorciaram mais tarde, e ele era mais próximo da mãe, que o mandou para uma escola no norte do Estado de Nova York, em 1932.
Depois de cursar disciplinas à noite na Universidade de Columbia, ele decidiu deixar o setor bancário e foi admitido no Instituto de Tecnologia da Califórnia, onde estudou física aplicada. Enquanto passava o verão de 1939 junto de uma namorada na cidade litorânea de La Jolla, perto de San Diego, ele conseguiu um emprego na Scripps (agora parte da Universidade da Califórnia, San Diego), onde trabalhou a maior parte de sua carreira.
Colegas dizem que Munk aproveitou as ferramentas de análise de computador que estavam surgindo para ajudar a transformar suas observações diretas sobre o oceano em sofisticados projetos de pesquisa. Mas Munk diz que teme que os jovens oceanógrafos de hoje dependam demais dos computadores e deixem de fazer perguntas fundamentais ou assumir riscos.
"Computadores são muito mais baratos do que barcos, e muito mais confortáveis", disse ele. "E eu estou um pouco preocupado com tantas pessoas fazendo experimentos no computador e perdendo sua habilidade, e a liderança norte-americana, nas medições no mar."
Seu trabalho no mar inclui alguns momentos notáveis na história do mundo. Dias antes dos testes nucleares no atol de Bikini em 1946, Munk e um colega jogaram corante na água para avaliar a rapidez com que os materiais radioativos sairiam da baía.
Perto do local de teste da bomba de hidrogênio muito mais poderosa no atol de Eniwetok, em 1952, ele monitorou o oceano para saber se havia potencial de um tsunami. Isso não aconteceu, mas Munk e sua tripulação tenham ficado encharcados com a chuva radioativa e tiveram de jogar suas roupas no mar.
O ponto alto da sua carreira, como diz Munk, aconteceu em 1991, quando ele viajou para a ilha Heard, um lugar remoto no sul do oceano Índico, para testar sinais de som de longo alcance no oceano.
Munk tinha trabalhado extensivamente com os colegas sobre a acústica do oceano, uma área útil para detectar ou esconder submarinos. O objetivo do experimento na ilha Heard era determinar se um som gerado no sul do oceano Índico podia ser ouvido em outros cantos do mundo. A velocidade em que os sinais sonoros viajavam poderia fornecer dados úteis sobre o aquecimento da temperatura dos oceanos, Munk concluiu, porque o som viajaria um pouco mais rápido à medida que o oceano se aquecesse.
Horas antes de o experimento começar, Munk foi acordado por um telefonema de Bermuda. A milhares de quilômetros dali, o posto de escuta já tinha ouvido o som antes de o experimento ter começado. Eles verificaram que o posto de Bermuda tinha ouvido o breve teste de som que os técnicos tinham feito durante a preparação para o teste completo.
"E essa foi a melhor notícia que eu já ouvi", disse Munk. As transmissões da ilha Heard ficaram conhecidas como o "som ouvido ao redor do mundo".
Mas o entusiasmo de Munk por usar sons do oceano para medir as alterações climáticas criou problemas anos mais tarde. Em 1994, como parte de um projeto da Scripps, ele quis instalar um transmissor de som no Santuário Nacional Marinho da Baía de Monterey ao longo da costa da Califórnia para ajudar a medir a mudança das temperaturas do oceano ao longo do tempo. (Outro foi instalado na costa do Havaí.)
Mas os ambientalistas temiam que as transmissões prejudicassem as baleias, que se orientam e encontram comida por meio de seu próprio sonar, e se alimentam no santuário. O Conselho de Defesa dos Recursos Naturais pediu e recebeu uma audiência pública numa tentativa de impedir o projeto na Baía de Monterey.
"O que aconteceu aqui foi uma colisão frontal entre Walter Munk e baleias. Essa foi a percepção", lembra Joel Reynolds, advogado sênior do Conselho de Defesa. Munk e os militares, que estavam financiando a maior parte do estudo, não previram a preocupação que o projeto acústico geraria na opinião pública, disse ele.
Após negociações com os ambientalistas, Munk e Scripps concordaram em transferir o posto de escuta para mais longe da costa da Califórnia e priorizar um estudo dos efeitos dos sons nos mamíferos marinhos.
Hoje em dia, enquanto ele avança em projetos de estudo do vento, ondas e outros, às vezes se esquece dos horários de reuniões e se locomove com um andador. Mas ele continua sendo uma presença frequente na Scripps, andando pelos corredores de um prédio que hoje leva seu nome. O segredo de sua longevidade?
"Eu gosto do meu trabalho e gosto da minha vida, e gosto de fazer isso", disse ele.
Tradutor: Eloise de Vylder
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