Os delegados entenderam com base na gravação feita por Joesley Batista no Palácio do Jaburu que a "única interpretação possível" é de que o presidente incentivou pagamentos pelo silêncio de Eduardo Cunha
Relatório final da Polícia Federal,
entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal), afirma que o presidente
Michel Temer atuou para embaraçar investigações. O documento diz ainda
que Temer deixou de comunicar as autoridades sobre suposta corrupção de
membros do Judiciário e do Ministério Público.
Os delegados entenderam com base na
gravação feita por Joesley Batista no Palácio do Jaburu que a “única
interpretação possível” é de que o presidente incentivou a continuação
de pagamentos para Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara, no
sentido de que ele ficasse em silêncio –o ex-deputado está preso no
Paraná desde outubro do ano passado.
O relatório da PF sobre as relações de
Temer com a JBS, enviado ao tribunal na tarde desta segunda (26), serve
para embasar uma eventual denúncia por parte da PGR (Procuradoria-Geral
da República).
A polícia também concluiu que o mesmo
crime foi cometido por Joesley e pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima,
este último por ter manifestado interesse em manter pagamentos a Lucio
Funaro, apontado como operador de Cunha e preso desde julho do ano
passado.
Sobre Temer, a PF afirma que ele atuou
“por embaraçar investigação de infração penal praticada por organização
criminosa, na medida em que incentivou a manutenção de pagamentos
ilegítimos a Eduardo Cunha, pelo empresário Joesley, ao tempo que deixou
de comunicar autoridades competentes de suposta corrupção da
Magistratura Federal e do Ministério Público que lhe fora narrado pelo
mesmo empresário”.
Na semana passada, a polícia já havia
finalizado outra parte da investigação, que apontou para a prática do
crime de corrupção passiva por Temer e seu ex-assessor Rodrigo Rocha
Loures.
SILÊNCIO
No pedido de abertura de inquérito feito
ao Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que
Temer deu anuência para a compra de silêncio do ex-deputado Eduardo
Cunha e seu operador Lucio Funaro, ambos presos.
Entre outros elementos, Janot se baseou
em trecho do diálogo do presidente com o Joesley no Palácio do Jaburu
para sustentar que houve obstrução de Justiça.
O procurador-geral afirmou que, na
conversa, Temer ouviu de Joesley que o ex-presidente da Câmara estava
sendo pago para ficar em silêncio e sobre o assunto respondeu: “Tem que
manter isso, viu?”, o que seria um aval.
A conversa divulgada à imprensa, porém,
continha trechos inaudíveis –uma perícia realizada pela PF conseguiu
desvendar algumas palavras no episódio.
Após a fala de Temer, Joesley afirmou:
“Todo mês”, o que indica, segundo o empresário afirmou em seu acordo de
delação premiada fechada com a PGR, acertos em dinheiro.
O relatório da polícia também seguiu na
mesma linha, com a interpretação de que o diálogo no Jaburu significou o
incentivo da compra do silêncio.
“Os termos do diálogo [no Jaburu],
conquanto não sejam explícitos –como costumam não ser em conversas desse
jaez–, têm como única interpretação possível, a seguinte: o Exmo. Sr.
Presidente da República entendeu que o ‘bom relacionamento’ aludido por
Joesley encerrava a ideia de apoio financeiro prestado a Eduardo Cunha
e, assim, inequivocamente, incentivou a sua manutenção com as expressões
‘tem que manter isso, viu?’, seguindo-se a complementação do
empresário: ‘todo mês'”, afirmou a PF.
Segundo o relatório da polícia, os
membros do chamado “PMDB da Câmara” temiam que Cunha e Funaro falassem o
que sabem sobre fraudes na Caixa.
“É possível observar que as informações
relacionadas ao envolvimento de membros do grupo político denominado
‘PMDB da Câmara’ em fraudes perpetradas no âmbito da Caixa Econômica
Federal passam por um ponto de intercessão: a atuação de Eduardo Cunha,
direta ou indiretamente, com a coparticipação de Lucio Bolonha Funaro.
Rigorosamente, é o que justifica o suposto temor dos demais integrantes
desse grupo político acerca de eventual revelação de práticas delituosas
por ambos”, diz a PF.
“Assim, a manutenção de pagamentos
periódicos a Eduardo Cunha e a Lucio Funaro, enquanto custodiados,
interessava a quem porventura tivesse praticado ilícitos de modo
consorciado a eles.”
Também com base no diálogo gravado no
Jaburu, a polícia afirma que Temer deixou de comunicar as autoridades
sobre suposta corrupção de membros do Judiciário e do Ministério
Público.
OUTRO LADO
Procurado pela Folha, o advogado Antonio
Mariz de Oliveira, que faz a defesa do presidente, disse que ainda não
teve acesso ao relatório e que, por isso, não irá comentá-lo.
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