Alívio nos roubos
Estado de São Paulo registra segundo mês consecutivo de diminuição nas ocorrências desse crime, após intoleráveis 19 meses de aumento
FSP
Se ainda falta muito para o governador Geraldo Alckmin (PSDB) poder se considerar livre das aflições provocadas pela seca, na seara da segurança pública ele começa a pisar em terreno menos árido.
Pelo segundo mês consecutivo, diminuíram os registros de roubos no Estado de São Paulo. A redução de ocorrências em fevereiro, na comparação com o mesmo período do ano passado, foi de 5,5% (1.401 casos a menos), pouco superior ao recuo de 4,1% em janeiro.
Se a queda se repetir em março, será possível falar em tendência, e não mais em simples oscilação.
Houve decréscimo ainda mais expressivo em outros indicadores: latrocínios (-39,4%), roubos de veículos (-27,3%) e estupros (-19,3%).
Em contrapartida, os homicídios dolosos na capital paulista aumentaram 8% (no Estado como um todo, permaneceram estáveis).
Embora assassinatos sejam muito mais graves do que roubos e sua taxa seja a métrica usada com mais frequência como indicador de violência, o segundo crime tem maior impacto político e social.
Enquanto se registram pouco mais de 4.000 homicídios por ano no Estado de São Paulo, contam-se na casa das centenas de milhares os roubos que geram boletim de ocorrência (foram 310 mil em 2014).
Além disso, os assassinatos que a polícia deixa de computar são poucos --não é trivial esconder um cadáver--, ao passo que a subnotificação de roubos é significativa --nem todas as vítimas se dão ao trabalho de dar queixa do caso.
Reproduzidos em escala muito maior e envolvendo violência ou grave ameaça por definição, os roubos constituem o indicador que alimenta mais diretamente a sensação de insegurança da população.
Reverter a escalada era um imperativo, e o governo Alckmin, naturalmente, destaca a atuação da polícia ao comentar a redução. Seria um erro, além de uma injustiça, desprezar esse fator, mas é preciso notar que as causas são múltiplas.
Alguns fenômenos estatísticos, por exemplo, independem da ação de policiais e dirigentes. Um deles é a regressão à média. Depois de intoleráveis 19 meses de altas consecutivas, os roubos teriam de começar a diminuir em algum momento.
Parte da queda, ademais, provavelmente se deve ao fato de que, no início de 2014, os números estavam inflados pela novidade da delegacia eletrônica, que permite registrar ocorrências pela internet.
Não há milagres em segurança pública. Embora as deteriorações possam ser rápidas, as melhorias tendem a vir em passos lentos, subordinadas a trabalho constante da polícia e ganhos incrementais proporcionados por mudanças demográficas. Quanto mais a população envelhece, menos violenta ela fica.
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