Estou
certo de que a maioria da população brasileira ficou
bastante satisfeita com o resultado da eleição para Presidente da Câmara
dos Deputados em Brasília em que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve o dobro dos votos de Arlindo Chinaglia (PT-SP). Uma votação bastante expressiva,
mas que expressa muito mais a grande insatisfação dos representantes do
povo com o PT – principalmente a do PMDB, de Michel Temer – do que uma
grande admiração por Eduardo Cunha.
Chinaglia
é um velho político conhecido nacionalmente por sua exposição na mídia,
ao passo que Eduardo Cunha não chega a ser um ilustre desconhecido por
se limitar ao conhecimento dos representantes e dos representados
fluminenses. Mesmo assim, conquistou os votos de deputados federais de
todos os estados da Federação e ganhou a eleição de uma maneira
acachapante. A maioria dos seus eleitores no Congresso talvez só o
conhecessem de nome, mas votaram nele porque conheciam muito bem o velho
Chinaglia, e não o queriam como Presidente da Câmara..
Logo após a posse de
Eduardo Cunha, tive o desprazer de conhecê-lo apenas por um discurso
dele. Muitas vezes, as pessoas revelam seu caráter e modo de ser somente
pela expressão de uma frase infeliz, porém altamente reveladora, para o
bom entendedor. Não me lembro se foi no seu discurso de posse , ou logo
após o mesmo, que Cunha se manifestou do seguinte modo:.
Disse ser radicalmente contra o casamento gay,
a liberação do aborto e das liberação do aborto. Nisto não foi
original, uma vez que há muitos anos esses são três dos tópicos mais
defendidos pela assim chamada “Bancada Conservadora” do Congresso,
incluindo tanto deputados católicos como protestantes.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) ficou exultante de alegria, mas o deputado Jean Wilis, ex-brother do BBB, teve faniquitos e estremeliques. De fato, nestes particulares tópicos, a opinião pública está dividida.
E
divididos estão também os representantes do povo. Divididos
entre minorias ruidosas de políticos da situação – como a desditada
Marta Suplicy, que sempre batalhou por esses três tópicos – e uma
maioria silenciosa da oposição, sempre omissa e sem coragem para assumir
a posição assumida pelo deputado Eduardo Cunha.
De fato,
não entrando no mérito desses tópicos produtores de intermináveis
celeumas em todo o País – envolvendo tanto representantes do povo como
representados – Cunha teve o inegável mérito de apresentar claramente
sua repulsa pelo casamento gay, pela liberação do aborto e das drogas.
Pena é que
ele não ficou somente nisso: declarou que, como Presidente da Câmara,
não poria na pauta tais temas, que estes só entrariam na pauta passando
por cima de seu cadáver! Menos, meu caro calvinista, menos!
É certo
que cabe ao Presidente a prerrogativa de pôr na pauta os projetos de
seus colegas deputados. Ele goza até do direito de dar prioridade a uns e
de remeter outros, dos quais discorda, para as calendas gregas.
Mas o que
ele não pode é amordaçar seus colegas que estão submetendo seus projetos
à votação em plenário. Essa é uma atitude claramente antidemocrática e
fortemente autoritária.
“Da
discussão surge a luz”, já dizia Goethe. Mas ainda que a luz se negue a
aparecer, é da discussão de projetos, de objeções e de emendas que é
gerado um consenso democrático, apesar de seus dissidentes.
É lamentável
essa recusa de Eduardo Cunha. Começou tão bem, à medida que teve a
coragem de expor publicamente sua posição, concordemos com a mesma ou
não. Mas terminou tão mal, à medida que ameaçou impedir seus colegas de
fazer o mesmo que ele, pela colocação de seus projetos em votação.
Ao ouvir o
discurso de Eduardo Cunha, lembrei-me imediatamente daquele aluno da
Escolinha do Professor Raimundo, que estava expondo uma ideia muito bem,
mas de um momento para outro…
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