Expansão de grupo de mídia desaloja cena indie do Brooklyn, em Nova York
Colin Moynihan - TNYTNS
Benjamin Norman/The New York Times
Artista associa fechamento da boate Grasslands ao "fim de Williamsburg", bairro do Brooklyn que concentra a cena indie
Há oito meses, quando se espalhou a notícia de que a Vice Media estava se mudando para um complexo de depósitos em Williamsburg, de frente para o rio, no Brooklyn, apoiadores de duas casas noturnas de música indie que seriam desalojadas acusaram a companhia de violar o próprio espírito autêntico e antenado sobre o qual ela aparentemente construiu sua marca.
Desde então, a Vice revelou pouco sobre sua futura sede na Kent Avenue e
South Second Street. Mas um exame recente das plantas arquitetônicas e
pedidos de autorização enviados para o Departamento de Edificações da
Cidade de Nova York mostrou uma reforma extensa do espaço de 6,500
metros quadrados, com custos de construção estimados em torno de US$ 7
milhões.Há oito meses, quando se espalhou a notícia de que a Vice Media estava se mudando para um complexo de depósitos em Williamsburg, de frente para o rio, no Brooklyn, apoiadores de duas casas noturnas de música indie que seriam desalojadas acusaram a companhia de violar o próprio espírito autêntico e antenado sobre o qual ela aparentemente construiu sua marca.
As plantas mostram escritórios, salas de reunião e copas. Uma sala no terceiro andar está marcada como "vendas sigilosas"; outra está designada como "sala do urso", onde a companhia provavelmente colocará o urso pardo empalhado que está em seu escritório atual. Partes da propriedade, incluindo seções marcadas como "área aberta", estão zoneadas para permitir um bar e um espaço para música, embora a Vice tenha dito que não tem planos de abrir qualquer coisa do tipo.
Sob vários aspectos, a transformação dos depósitos é uma história familiar de gentrificação, em que espaços culturais precários dão lugar àqueles com bolsos maiores. Mas tensões adicionais surgiram porque os espaços culturais que estão saindo, Death by Audio e Glasslands, estão sendo substituídos por uma companhia que antes parecia ansiosa para abraçá-los.
A cena musical em Williamsburg está sempre evoluindo, com dezenas de lugares para músicos tocarem, mas poucos foram tão admirados ou apreciados como o Glasslands e o Death by Audio, que ajudaram a definir o bairro como um lugar para descobrir bandas que seguiriam para conquistar grande aclamação. A Vice insiste que não teve nenhum papel na desapropriação. Hosi Simon, gerente geral da companhia, disse que esta apoia "a cultura DIY [faça você mesmo], underground e emergente" há vinte anos e que está sendo injustamente tratada como um bode expiatório em uma disputa entre proprietário e inquilino. "Foi decisão do proprietário não renovar os aluguéis", disse ele. "E foi decisão dos inquilinos não comprar a propriedade."
Matt Conboy, fundador da Death by Audio, disse nunca ter recebido dinheiro dos proprietários e sustentou que havia uma "ligação direta" entre a saída da casa noturna e a chegada da Vice. Ele disse que funcionários da companhia apoiaram os empreendimentos underground em determinado momento, mas que agora estavam "construindo sua própria marca, vendendo a ideia de que eles estão conectados a culturas novas e excitantes."
A Vice, que começou como uma revista gratuita em Montreal se mudou para Williamsburg em 2001, tornou-se conhecida por um conteúdo multimídia ousado. Isso incluiu uma reportagem sobre excremento humano, histórias sobre uma "droga russa devoradora de carne humana" e um documentário de 42 minutos sobre o grupo extremista Estado Islâmico. O documentário recentemente venceu um prêmio no Frontline Club em Londres.
A companhia, que está avaliada em US$ 2,5 bilhões, também tem se mostrado lucrativa. Ela formou parcerias com HBO e Fox, entre outras, e criou um "conteúdo patrocinado" lucrativo, que inclui vídeos ao estilo documentário para promover produtos comerciais.
Os espaços musiciais conquistaram um reconhecimento crítico depois de sua inauguração quase uma década atrás. O Death by Audio realizou shows de Future Islands, Thurston Moore e Thee Oh Sees. Os shows no Glassland incluíram bandas como TV on the Radio, Tame Impala e Alt-J. Ambos se tornaram influentes incubadoras de talentos, atraindo multidões que faziam fila a poucos metros das ruínas industriais ao longo do East River.
Mas com a falta de espaço comercial em Williamsburg, até o trecho desolado começou a chamar atenção, e atraiu uma visita de pessoas da Vice em abril, disse Seth Schiesel, cofundador de uma startup de tecnologia dois andares acima da Death by Audio e ex-escritor e crítico do New York Times. Corretores que trabalhavam para o proprietário falaram com Schiesel por volta da mesma época para pedir que ele terminasse mais cedo seu contrato de aluguel, o que ele fez logo depois.
Os organizadores do Death by Audio assinaram o que acreditavam que fosse um contrato de aluguel de dois anos no verão de 2013, disse Conboy, mas perderam sua cópia e foram informados em julho de 2014 pelos proprietários, Sol e Leo Markowitz, que o aluguel terminava depois de 17 meses. Conboy disse que concordou em sair no fim de novembro em troca da isenção dos últimos quatro meses de aluguel, totalizando US$ 52 mil.
Um advogado dos proprietários, Ian Lester, disse que seus clientes tinham isentado os inquilinos de mais de US$ 55 mil em prestações de aluguel, num esforço para desfazer o contrato de forma amigável. Ele acrescentou que o Glasslands tinha se mudado no final de dezembro, antes do término do aluguel. Os donos do Glasslands não quiseram responder ao pedido de comentário da reportagem.
Clubes underground e DIY ainda prosperam na cidade de Nova York, diz Michael Azerrad, autor de "Our Band Could Be Your Life: Scenes from the American Indie Underground, 1981-1991" ["Nossa Banda Poderia Ser a Sua Vida: Cenas do Underground Indie Americano", sem tradução para o português]. Mas ele acrescentou que, com os aluguéis em alta em Williamsburg, é improvável que os clubes musicais ofereçam os shows pouco comerciais ou avant-garde pelos quais o Glasslands e o Death by Audio eram conhecidos.
"Esses lugares não eram movidos pelo amor ao lucro sujo", diz ele. "Era mais pelo amor à música e à comunidade da qual ela surge."
Tradutora: Eloise De Vylder
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