domingo, 1 de março de 2015

Surfe profissional vai além da tela da TV para atrair audiência
Talya Minsberg e Nick Corasaniti - TNYTNS
Márcio Fernandes/Estadão
O brasileiro Gabriel Medina conquistou o título inédito de campeão mundial de surfe O brasileiro Gabriel Medina conquistou o título inédito de campeão mundial de surfe
Em dezembro passado, quando Gabriel Medina, de 21 anos, lutava para ser coroado o mais novo campeão do surfe na costa norte da ilha de Oahu, milhões no Brasil estavam grudados não na TV, mas em tablets, laptops e telefones celulares.
Uma média de mais de 6,2 milhões de pessoas sintonizaram para assistir ao Billabong Pipe Masters, em que Medina conquistou seu primeiro título. Esse número foi maior do que a audiência da televisão dos Estados Unidos na última partida das finais de hóquei da Stanley Cup em 2014. Nem um segundo da competição de surfe foi mostrado na televisão ao vivo tradicional nos Estados Unidos; em vez disso, ela foi transmitida pelo YouTube, e entre 35 e 40% de seus espectadores assistiram ao evento pelo celular.
"Foi difícil para nós estabelecer uma relação direta com a TV linear", disse Paul Speaker, diretor executivo da Liga Mundial de Surfe (WSL, na sigla em inglês). "Somos um esporte global, então sempre há uma preocupação com o fuso horário, e temos que esperar pelos swells" – condições de ondas adequadas – "então não temos um tempo para começar e terminar, como nos outros esportes."
A estratégia bem-sucedida de transmissão primeiro pela internet da Liga Mundial de Surfe está à frente de uma transformação gradual que está se instalando na programação esportiva. À medida que mais telespectadores passam para o online e o público se torna mais global, as ligas profissionais todas adotaram a transmissão pela internet, ou streaming, como uma forma importante de atrair torcedores mais jovens em todo o mundo.
Mas a pureza do modelo do surfe – que atinge milhões de espectadores online sem depender de contratos de exclusividade com redes de TV e cabo – demonstra o poder da audiência online para os esportes grandes e pequenos.
"É uma dessas coisas onde há muitos fãs por aí", afirmou Matt McLernon, porta-voz do YouTube. "Mas eles não estão necessariamente combinados o bastante em um mercado de mídia em que faz sentido colocar este evento esportivo na TV. Mas quando qualquer um pode ver pela internet, você abre todo um conceito."
Todas as principais ligas esportivas abraçaram essa realidade. A NHL (Liga Nacional de Hóquei dos Estados Unidos) fez recentemente uma parceria com a fabricante das câmeras GoPro para levar destaques em tempo real compartilháveis em mídias sociais como Twitter e Facebook. A PGA Tour (associação americana de jogadores de golfe) está tentando algo semelhante com a GoPro e com a rede online do evento, Skratch TV. A NBA tem o maior público de esportes do YouTube, com 2,5 bilhões de vídeos assistidos, quase todos através de destaques do noticiário. Ela também transmite os jogos da Liga D online, e se uniu à Tencent para transmitir jogos da NBA ao vivo na China.
Mas as grandes ligas esportivas, que ainda recebem bilhões de dólares em contratos lucrativos de programação das redes tradicionais de televisão, ainda complementam suas transmissões de TV com pacotes de destaques online e serviços de assinatura na internet. Adam Silver, comissário da NBA, enfatizou recentemente a primazia do modelo tradicional de transmissão.
"Achamos que existe demanda para oferecer jogos ao vivo em dispositivos móveis, mas isso irá no fim das contas complementar o conteúdo exclusivo que é fornecido através de cabo e satélite", disse Silver em uma coletiva de imprensa em outubro, ao anunciar novos acordos com a Turner e ESPN, enfatizando "o valor dos esportes ao vivo" em um mundo com tecnologia para gravação de vídeo digital.
O surfe profissional, por outro lado, adotou uma abordagem "primeiro online". Sua estratégia foi criada pela ZoSea Media Holdings, que adquiriu a Associação de Profissionais do Surfe em 2013 e, no início da temporada de 2015, rebatizou-a de Liga Mundial de Surfe.
A associação de surfe funcionava como um grupo de "feudos" afiliados de forma solta, mas Speaker, ex-executivo de marketing da NFL, eliminou a estrutura pulverizada e criou uma única plataforma de transmissão. O YouTube então se aproximou da recém-formada Liga Mundial de Surfe para se tornar seu parceiro digital global exclusivo, permitindo que seu software de streaming fosse inserido no novo site da liga, bem como no site e aplicativos do YouTube.
A WSL não recusou de todo as redes de TV – ela se uniu a alguns canais regionais seletos como o MCS Extreme na Europa para transmissões ao vivo, e a poucas redes nacionais como a ABC para destaques e programas pré-elaborados.
"Nossa estratégia foi, desde o início, vamos retirar todas as placas de pare e transformá-las em tapetes de boas vindas", disse Speaker. "O YouTube tem essa pegada."
Ao disponibilizar tudo online, a WSL solidificou seu crescimento com um público-chave: mais de 67% de sua audiência tem entre 25 e 44 anos de idade. A participação nas contas de Facebook, Twitter, Instagram e Snapchat da liga quase dobrou e, ao mesmo tempo, passou em muito a participação nas ligas maiores e mais estabelecidas.
A página de Facebook da NFL tem cerca de 12,5 milhões de curtidas em comparação com os 2,3 milhões de curtidas da liga de surfe. Mas a participação que a liga tem por post – curtidas, comentários e compartilhamentos – está no mesmo nível que a da NFL, de acordo com dados fornecidos pela organização.
Em poucos meses, a liga de surfe abrirá estúdios da WSL, um espaço de produção de 560 metros quadrados em Santa Mônica, na Califórnia. O estúdio investirá pesado na criação de programação para preencher os hiatos durante a transmissão ao vivo, mas também exportará programas originais e compartilháveis, documentários e séries de destaques, algo parecido com a NFL Films no início do futebol americano.
A Liga Mundial de Surge não revela seus lucros, mas são minúsculos comparados com os grandes esportes profissionais. À medida que os públicos continuam migrando para a internet, contudo, os esportes menores também estão capturando públicos maiores.
Executivos da liga de surfe estão animados com a nova temporada do World Championship Tour, que começa neste fim de semana com o Quiksilver Pro Gold Coast em Queensland, na Austrália. Depois que a WSL quebrou constantemente seus próprios recordes de audiência durante o World Championship Tour de 2014, a liga espera continuar nesta tendência.
"Olhamos para os outros esportes em busca de orientação e exemplos, mas, para nós, a transmissão ao vivo é nosso pão com manteiga", disse Speaker. "Acho que muitas pessoas olharão para nós e dirão: 'como eles conseguiram isso?'"
Tradutora: Eloise De Vylder

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