José María Irujo - El País
O sangue dos primeiros ceutenses que se uniram à jihad contra o regime de Bashar al Assad não foi derramado só na Síria, mas também no Iraque. O taxista Rachid Wahbi e seus amigos Mustafa Mohamed Layachi, Piti, e Mustafa Mohamed, Tafo, os pioneiros do bairro de El Príncipe na busca da morte em terras distantes, se suicidaram na Síria, mas seus sucessores o fizeram em território iraquiano.
Yunes Ahmed Mohamed, o Esponja, e Mohamed Abdesalam Mohamed, o Pizza, se mataram com cinturões de explosivos em uma série de atentados em Bagdá e várias províncias do sul do Iraque, uma chacina do EI (Estado Islâmico) e o Levante, o ramo iraquiano da Al Qaeda, contra a comunidade xiita que produziu no verão de 2013 mais de mil vítimas durante a festividade do Eid al Fitr, o final do Ramadã.
O testemunho dessas e outras mortes é dado por Abdeluahid Sadik Mohamed, um ceutense que retornou do horror e que participou em 2013 do assalto do EI às prisões iraquianas de Abu Ghraib e Taji para libertar centenas de islamistas. Seu relato será chave no julgamento que começou ontem na Audiência Nacional contra a primeira célula desarticulada pela polícia espanhola em Ceuta por enviar mujahedins à Síria. Os promotores Javier Zaragoza e Vicente González Mota pedem para os 11 processados penas de dez e 12 anos por direção e integração na Frente Al Nusra e no EI, a organização terrorista que implantou o califado em cidades da Síria e do Iraque.
Os 14 jovens, 12 deles ceutenses, que viajaram à Síria para fazer a jihad, uniram-se à "katiba" (falange) Tarik Ibn Ziad, uma brigada integrada por marroquinos e dirigida por Abdelaziz el Mahdali, ou Abu Osama al Magrabi, um homem barbudo e arrogante que morreu em uma emboscada da Jabhat al Nusrah (JaN) em março de 2014, por ter abandonado o grupo e passado com seus combatentes para o EI. A chegada dos combatentes espanhóis coincidiu com o confronto entre Ayman al Zawahiri, sucessor de Bin Laden na Al Qaeda, e Abubaker al Baghdadi, o líder do Estado Islâmico do Iraque, que se negou a permanecer nesse país e estendeu seus domínios para a vizinha Síria.
Como e por que esses espanhóis se uniram à jihad síria? O relatório da Polícia Nacional e da Guarda Civil dá uma resposta: fizeram-no sob a influência do salafismo marroquino e em especial do cultivado em Castillejos, localidade de fronteira de Ceuta transformada em "centro de radicalização". E acrescenta três fatores que considera chaves: 1) a libertação por um indulto do rei do Marrocos em fevereiro de 2012 dos ideólogos salafistas Ahmed Rafiki, Hassan Kettani e, especialmente, Omar el Haddouchi, os dois primeiros condenados a penas de 30 e 20 anos, respectivamente, como instigadores dos atentados de Casablanca em 2003, que causaram 45 mortes; 2) a atividade proselitista do Comitê Conjunto para Defesa dos Detidos Islâmicos (CCDDI), integrado por alguns ex-presos de Guantánamo; e 3) uma frente social salafista, numerosa e coesa, formada pelos detidos no Marrocos e suas famílias. "Formam a parte mais numerosa e ativa do movimento salafista marroquino e são a fonte da qual procede a maioria dos voluntários (mais de mil) que se incorporaram à jihad na Síria", diz o relatório.
Para os serviços de espionagem espanhóis, esses três fatores explicam a força que atraiu os suicidas ceutenses. "Mantêm uma relação dinâmica, interagem, se retroalimentam e contribuem para criar um clima pró-jihadista que favorece a radicalização e a captação de simpatizantes tanto no norte do Marrocos como na vizinha cidade de Ceuta", descreve o documento, que traz fotografias de seus dirigentes e de algumas reuniões de Omar el Haddouchi com jovens islamistas nas praias de Ceuta.
Dois meses depois da libertação desses três xeques, em abril de 2012, foram detectadas as primeiras saídas do norte do Marrocos com destino à Síria, entre elas a de Abdelaziz el Mahdali, que se transformou no emir da "katiba" de magrebinos em Castillejos, à qual se integraram os ceutenses.
O relatório oficial explica assim: "Durante os meses de abril e maio de 2012, divididos entre a Síria e a Turquia, esses pioneiros levariam a cabo a criação e consolidação de uma infraestrutura internacional que facilitou a incorporação de salafistas marroquinos e espanhóis aos grupos jihadistas/terroristas da Síria". "O êxito dessa chamada à jihad é inquestionável desde então, e até hoje o número de jihadistas marroquinos presentes na Síria teria superado amplamente os mil indivíduos, entre os quais se inclui um número representativo de espanhóis, principalmente procedentes de Ceuta. Muitos chegaram inclusive a levar suas esposas e filhos".
A história dos jovens ceutenses que morreram na Síria e no Iraque não pode ser entendida sem se examinar a de seus vizinhos de Castillejos, localidade marroquina de cerca de 60 mil habitantes situada junto da fronteira do Tarajal, próximo do bairro de El Príncipe.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O testemunho dessas e outras mortes é dado por Abdeluahid Sadik Mohamed, um ceutense que retornou do horror e que participou em 2013 do assalto do EI às prisões iraquianas de Abu Ghraib e Taji para libertar centenas de islamistas. Seu relato será chave no julgamento que começou ontem na Audiência Nacional contra a primeira célula desarticulada pela polícia espanhola em Ceuta por enviar mujahedins à Síria. Os promotores Javier Zaragoza e Vicente González Mota pedem para os 11 processados penas de dez e 12 anos por direção e integração na Frente Al Nusra e no EI, a organização terrorista que implantou o califado em cidades da Síria e do Iraque.
Os 14 jovens, 12 deles ceutenses, que viajaram à Síria para fazer a jihad, uniram-se à "katiba" (falange) Tarik Ibn Ziad, uma brigada integrada por marroquinos e dirigida por Abdelaziz el Mahdali, ou Abu Osama al Magrabi, um homem barbudo e arrogante que morreu em uma emboscada da Jabhat al Nusrah (JaN) em março de 2014, por ter abandonado o grupo e passado com seus combatentes para o EI. A chegada dos combatentes espanhóis coincidiu com o confronto entre Ayman al Zawahiri, sucessor de Bin Laden na Al Qaeda, e Abubaker al Baghdadi, o líder do Estado Islâmico do Iraque, que se negou a permanecer nesse país e estendeu seus domínios para a vizinha Síria.
Como e por que esses espanhóis se uniram à jihad síria? O relatório da Polícia Nacional e da Guarda Civil dá uma resposta: fizeram-no sob a influência do salafismo marroquino e em especial do cultivado em Castillejos, localidade de fronteira de Ceuta transformada em "centro de radicalização". E acrescenta três fatores que considera chaves: 1) a libertação por um indulto do rei do Marrocos em fevereiro de 2012 dos ideólogos salafistas Ahmed Rafiki, Hassan Kettani e, especialmente, Omar el Haddouchi, os dois primeiros condenados a penas de 30 e 20 anos, respectivamente, como instigadores dos atentados de Casablanca em 2003, que causaram 45 mortes; 2) a atividade proselitista do Comitê Conjunto para Defesa dos Detidos Islâmicos (CCDDI), integrado por alguns ex-presos de Guantánamo; e 3) uma frente social salafista, numerosa e coesa, formada pelos detidos no Marrocos e suas famílias. "Formam a parte mais numerosa e ativa do movimento salafista marroquino e são a fonte da qual procede a maioria dos voluntários (mais de mil) que se incorporaram à jihad na Síria", diz o relatório.
Para os serviços de espionagem espanhóis, esses três fatores explicam a força que atraiu os suicidas ceutenses. "Mantêm uma relação dinâmica, interagem, se retroalimentam e contribuem para criar um clima pró-jihadista que favorece a radicalização e a captação de simpatizantes tanto no norte do Marrocos como na vizinha cidade de Ceuta", descreve o documento, que traz fotografias de seus dirigentes e de algumas reuniões de Omar el Haddouchi com jovens islamistas nas praias de Ceuta.
Dois meses depois da libertação desses três xeques, em abril de 2012, foram detectadas as primeiras saídas do norte do Marrocos com destino à Síria, entre elas a de Abdelaziz el Mahdali, que se transformou no emir da "katiba" de magrebinos em Castillejos, à qual se integraram os ceutenses.
O relatório oficial explica assim: "Durante os meses de abril e maio de 2012, divididos entre a Síria e a Turquia, esses pioneiros levariam a cabo a criação e consolidação de uma infraestrutura internacional que facilitou a incorporação de salafistas marroquinos e espanhóis aos grupos jihadistas/terroristas da Síria". "O êxito dessa chamada à jihad é inquestionável desde então, e até hoje o número de jihadistas marroquinos presentes na Síria teria superado amplamente os mil indivíduos, entre os quais se inclui um número representativo de espanhóis, principalmente procedentes de Ceuta. Muitos chegaram inclusive a levar suas esposas e filhos".
A história dos jovens ceutenses que morreram na Síria e no Iraque não pode ser entendida sem se examinar a de seus vizinhos de Castillejos, localidade marroquina de cerca de 60 mil habitantes situada junto da fronteira do Tarajal, próximo do bairro de El Príncipe.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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