Rick Gladstone - NYT
Eles usam nomes de tela como IS Hunting Club [Clube de Caça ao EI], TouchMyTweets [Toque meus Tuítes] e The Doctor [O Médico]. Eles vasculham o Twitter buscando contas suspeitas de combatentes, recrutadores e angariadores de fundos do Estado Islâmico.
Então eles atacam.
No que se tornou uma ciberanalogia das batalhas na Síria, no Iraque e em outros lugares entre governos e o EI (Estado Islâmico), os vigilantes online, alguns deles com agendas diferentes, uniram-se para subverter o uso agressivo das mídias sociais, especialmente o Twitter, pelo grupo militante.
Eles denunciam contas suspeitas que publicam em listas negras via Twitter e incentivam outros usuários a delatar as contas ao departamento de violações da rede social, um pré-requisito para a suspensão ou a eliminação.
"Basicamente, nosso trabalho não apenas anula sua capacidade de disseminar propaganda, como também os faz perder tempo", disse um vigilante que no Twitter usa o codinome de O Médico.
Assim como os outros, ele se comunicou por meio de bate-papos privados online. Todos pediram que suas verdadeiras identidades fossem preservadas, por segurança, pois muitos já receberam ameaças de morte.
Alguns vigilantes são afiliados a organizações de hackers como Anonymous, mais conhecida por se infiltrar em redes de computadores de governos e corporações para fazer declarações políticas ou pelo "lulz", termo dos hackers para "risos". Outros são ativistas solitários.
Mas todos consideram grupos como o EI, também conhecido como Isis, uma ameaça insidiosa. Há várias mulheres, algumas das quais se chamam de Anonymisses, e que dizem passar horas por dia online caçando o EI.
"Faço isso por causa das atrocidades desses canalhas que vejo diariamente, que me deixam louca", disse uma usuária que se identificou como TouchMyTweets e continuou: "Este é o meu ataque aéreo".
Uma iniciativa descoordenada de grupos de hackers de computadores destinada a perturbar o Estado Islâmico e outras causas jihadistas violentas começou no ano passado, depois que os extremistas postaram imagens de prisioneiros decapitados. Ela ganhou impulso depois do ataque à revista "Charlie Hebdo" em Paris em janeiro, segundo especialistas que estudam os jihadistas online.
A iniciativa é fortemente concentrada no Twitter, que transmite aproximadamente 500 milhões de mensagens por dia, e sofreu intensa pressão porque o EI conseguiu explorá-lo com habilidade. Os críticos, incluindo especialistas em ciber-segurança e alguns membros do Congresso americano, afirmam que o Twitter pouco fez para deter o abuso. O Twitter nega.
Segundo algumas estimativas, de 70 mil a 90 mil contas do Twitter são usadas pelo EI para espalhar imagens de decapitações e outras atrocidades, atrair recrutas e até divulgar posições de batalha - tudo com relativa impunidade porque o sistema é gratuito, enorme e, em grande medida, não supervisionado, segundo seus críticos.
"Existe um uso maciço do Twitter pelo EI", disse Michael S. Smith II, diretor e executivo-chefe da empresa de consultoria em segurança Kronos Advisory LLC.
Este mês o Anonymous e dois grupos de hackers relacionados, CntrlSec e GhostSec, tentaram cuidar das coisas por conta própria, divulgando contas do Twitter que, segundo eles, são operadas pelo EI, violando as políticas do Twitter sobre uso ilegal. Nos últimos dias eles postaram uma lista de 9.200 contas suspeitas.
Alguns estão chamando isso de batalha da Anonymous contra o EI.
Os hackers instigam outros usuários a denunciar as contas ao Twitter, e o site, que diz não censurar ou monitorar o tráfego de mensagens, então decide se deve encerrar as contas.
Quando uma conta suspeita é fechada, os vigilantes comemoram postando o nome da conta e "#TangoDown" - a linguagem usada por comandos antiterroristas quando eliminam um alvo.
Quantos usuários do Twitter estão denunciando contas suspeitas por causa dessa colaboração não está claro. Se essa vigilância está suprimindo de modo significativo o uso do Twitter pelo EI também não foi identificado.
Solicitado a comentar, o Twitter respondeu em um comunicado por e-mail: "Nós revisamos todo o conteúdo denunciado como contrário a nossas regras, que proíbem o uso ilegal e ameaças diretas e específicas de violência contra os outros".
Mas com o maior enfoque dado à atuação do Estado Islâmico o Twitter suspendeu contas em um ritmo de duas mil por semana recentemente, disse uma autoridade da empresa, sob a condição do anonimato.
Se o volume de seguidores de uma conta do Twitter servir de indício, o grupo de hackers GhostSec tem uma força considerável de ativistas por trás dele, com 6.274 na última terça-feira. O CntrlSec tinha 2.039.
Os próprios ciberativistas do EI não têm sido nada passivos. Eles ameaçaram de morte o fundador do Twitter, Jack Dorsey, e seus empregados, publicando mensagens terríveis que incluem o pássaro azul símbolo da companhia decapitado.
As pessoas que trabalham em prol do EI adotaram medidas como distribuir listas de hackers para ajudar a evitar a detecção e pedir que os seguidores troquem os nomes das contas se suspeitarem de que sofrerão queixas.
No final de fevereiro, contas de jihadistas no Twitter começaram a distribuir um manual que ensina a contornar as exigências da empresa sobre números de telefone e endereços de e-mail dos usuários, relatou há algumas semanas o SITE Intelligence Group, que monitora a militância islâmica online.
J.M. Berger, um bolsista não residente no Instituto Brookings que recentemente concluiu um estudo sobre o uso do Twitter pelo EI, disse que a campanha dos vigilantes pode estar tendo certo efeito, embora seja impossível medi-lo. A lista recém-publicada de 9.200 contas do EI, segundo ele, é "o maior resultado que eles já tiveram".
Smith, da Kronos, manifestou ceticismo, afirmando que o sistema Twitter ainda tem milhares de usuários do EI.
Algumas semanas atrás, membros seniores da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara dos EUA enviou uma carta bipartidária ao executivo-chefe do Twitter, Dick Costolo, pedindo que intensifique os esforços para combater grupos como o Estado Islâmico. "As empresas precisam garantir que seus serviços de mídia social não sejam sequestrados para uso terrorista", escreveu o deputado republicano Ed Royce, da Califórnia, presidente da comissão.
O advogado-geral do Twitter, Vijaya Gadde, respondeu em uma carta que a companhia expandiu seus mecanismos para encerrar contas que violem suas regras, enquanto preserva "a capacidade dos usuários de compartilhar livremente suas opiniões - inclusive algumas das quais muitas pessoas podem discordar ou considerar hediondas".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
No que se tornou uma ciberanalogia das batalhas na Síria, no Iraque e em outros lugares entre governos e o EI (Estado Islâmico), os vigilantes online, alguns deles com agendas diferentes, uniram-se para subverter o uso agressivo das mídias sociais, especialmente o Twitter, pelo grupo militante.
Eles denunciam contas suspeitas que publicam em listas negras via Twitter e incentivam outros usuários a delatar as contas ao departamento de violações da rede social, um pré-requisito para a suspensão ou a eliminação.
"Basicamente, nosso trabalho não apenas anula sua capacidade de disseminar propaganda, como também os faz perder tempo", disse um vigilante que no Twitter usa o codinome de O Médico.
Assim como os outros, ele se comunicou por meio de bate-papos privados online. Todos pediram que suas verdadeiras identidades fossem preservadas, por segurança, pois muitos já receberam ameaças de morte.
Alguns vigilantes são afiliados a organizações de hackers como Anonymous, mais conhecida por se infiltrar em redes de computadores de governos e corporações para fazer declarações políticas ou pelo "lulz", termo dos hackers para "risos". Outros são ativistas solitários.
Mas todos consideram grupos como o EI, também conhecido como Isis, uma ameaça insidiosa. Há várias mulheres, algumas das quais se chamam de Anonymisses, e que dizem passar horas por dia online caçando o EI.
"Faço isso por causa das atrocidades desses canalhas que vejo diariamente, que me deixam louca", disse uma usuária que se identificou como TouchMyTweets e continuou: "Este é o meu ataque aéreo".
Uma iniciativa descoordenada de grupos de hackers de computadores destinada a perturbar o Estado Islâmico e outras causas jihadistas violentas começou no ano passado, depois que os extremistas postaram imagens de prisioneiros decapitados. Ela ganhou impulso depois do ataque à revista "Charlie Hebdo" em Paris em janeiro, segundo especialistas que estudam os jihadistas online.
A iniciativa é fortemente concentrada no Twitter, que transmite aproximadamente 500 milhões de mensagens por dia, e sofreu intensa pressão porque o EI conseguiu explorá-lo com habilidade. Os críticos, incluindo especialistas em ciber-segurança e alguns membros do Congresso americano, afirmam que o Twitter pouco fez para deter o abuso. O Twitter nega.
Segundo algumas estimativas, de 70 mil a 90 mil contas do Twitter são usadas pelo EI para espalhar imagens de decapitações e outras atrocidades, atrair recrutas e até divulgar posições de batalha - tudo com relativa impunidade porque o sistema é gratuito, enorme e, em grande medida, não supervisionado, segundo seus críticos.
"Existe um uso maciço do Twitter pelo EI", disse Michael S. Smith II, diretor e executivo-chefe da empresa de consultoria em segurança Kronos Advisory LLC.
Este mês o Anonymous e dois grupos de hackers relacionados, CntrlSec e GhostSec, tentaram cuidar das coisas por conta própria, divulgando contas do Twitter que, segundo eles, são operadas pelo EI, violando as políticas do Twitter sobre uso ilegal. Nos últimos dias eles postaram uma lista de 9.200 contas suspeitas.
Alguns estão chamando isso de batalha da Anonymous contra o EI.
Os hackers instigam outros usuários a denunciar as contas ao Twitter, e o site, que diz não censurar ou monitorar o tráfego de mensagens, então decide se deve encerrar as contas.
Quando uma conta suspeita é fechada, os vigilantes comemoram postando o nome da conta e "#TangoDown" - a linguagem usada por comandos antiterroristas quando eliminam um alvo.
Quantos usuários do Twitter estão denunciando contas suspeitas por causa dessa colaboração não está claro. Se essa vigilância está suprimindo de modo significativo o uso do Twitter pelo EI também não foi identificado.
Solicitado a comentar, o Twitter respondeu em um comunicado por e-mail: "Nós revisamos todo o conteúdo denunciado como contrário a nossas regras, que proíbem o uso ilegal e ameaças diretas e específicas de violência contra os outros".
Mas com o maior enfoque dado à atuação do Estado Islâmico o Twitter suspendeu contas em um ritmo de duas mil por semana recentemente, disse uma autoridade da empresa, sob a condição do anonimato.
Se o volume de seguidores de uma conta do Twitter servir de indício, o grupo de hackers GhostSec tem uma força considerável de ativistas por trás dele, com 6.274 na última terça-feira. O CntrlSec tinha 2.039.
Os próprios ciberativistas do EI não têm sido nada passivos. Eles ameaçaram de morte o fundador do Twitter, Jack Dorsey, e seus empregados, publicando mensagens terríveis que incluem o pássaro azul símbolo da companhia decapitado.
As pessoas que trabalham em prol do EI adotaram medidas como distribuir listas de hackers para ajudar a evitar a detecção e pedir que os seguidores troquem os nomes das contas se suspeitarem de que sofrerão queixas.
No final de fevereiro, contas de jihadistas no Twitter começaram a distribuir um manual que ensina a contornar as exigências da empresa sobre números de telefone e endereços de e-mail dos usuários, relatou há algumas semanas o SITE Intelligence Group, que monitora a militância islâmica online.
J.M. Berger, um bolsista não residente no Instituto Brookings que recentemente concluiu um estudo sobre o uso do Twitter pelo EI, disse que a campanha dos vigilantes pode estar tendo certo efeito, embora seja impossível medi-lo. A lista recém-publicada de 9.200 contas do EI, segundo ele, é "o maior resultado que eles já tiveram".
Smith, da Kronos, manifestou ceticismo, afirmando que o sistema Twitter ainda tem milhares de usuários do EI.
Algumas semanas atrás, membros seniores da Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara dos EUA enviou uma carta bipartidária ao executivo-chefe do Twitter, Dick Costolo, pedindo que intensifique os esforços para combater grupos como o Estado Islâmico. "As empresas precisam garantir que seus serviços de mídia social não sejam sequestrados para uso terrorista", escreveu o deputado republicano Ed Royce, da Califórnia, presidente da comissão.
O advogado-geral do Twitter, Vijaya Gadde, respondeu em uma carta que a companhia expandiu seus mecanismos para encerrar contas que violem suas regras, enquanto preserva "a capacidade dos usuários de compartilhar livremente suas opiniões - inclusive algumas das quais muitas pessoas podem discordar ou considerar hediondas".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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