Rodrigo Constantino - VEJA
Tenho uma regra que sigo religiosamente,
sem jamais ter quebrado a cara com ela: jamais subestimar a cara de pau
dos esquerdistas. Ela, assim como o universo de Einstein, tende ao
infinito. Acha que exagero? Então veja a nova, publicada no NYT, ícone da esquerda caviar americana: a desigualdade cubana é culpa do capitalismo!
Com Cuba
abrindo cada vez mais a porta para a iniciativa privada, o fosso entre
os que têm e os que não têm — e entre brancos e negros — que a revolução
procurou diminuir está cada vez mais evidente. E essa divisão deve
crescer agora que os Estados Unidos estão aumentando a quantidade de
dinheiro que os cubano-americanos podem enviar à ilha para US$ 8 mil por
ano, bem acima dos US$ 2 mil, como parte do degelo histórico do
presidente americano Barack Obama com Cuba.
[...]
—
As remessas têm produzido novas formas de desigualdade, especialmente a
desigualdade racial — explica Alejandro de la Fuente, diretor do
Instituto de Pesquisa sobre Afrodescendentes na Universidade de Harvard.
— Agora, as remessas estão sendo utilizadas para financiar ou criar
empresas privadas, isto é, não apenas para financiar o consumo, como no
passado.
[...]
Mas os mais
pobres ficam frustrados ao verem o estado de bem-estar social se
deteriorando e a vantagem que os cubanos com acesso a dinheiro de fora
têm na nova economia.
— À medida
que Cuba vem se tornando mais capitalista nos últimos 20 anos, vem se
tornando também mais desigual — afirma Ted Henken, professor do Baruch
College que estuda a economia cubana. — Essas favelas estão por toda a
América Latina, e a tentativa da revolução de resolver a desigualdade
foi eficaz até certo ponto e por um tempo. Mas, com o aumento do
capitalismo, você tem algumas pessoas mais bem posicionadas para tirar
proveito e outras não.
A obsessão da esquerda com a desigualdade
é um fenômeno estranho, pois revela a inveja de seus membros,
disfarçada de altruísmo e preocupação com os mais pobres. Notem que Cuba
é um fosso de desigualdade hoje, pois a nomenklatura controla
tudo e goza de privilégios e vida mansa, enquanto o restante da
população vive na miséria. Mas não é essa desigualdade que incomoda a
esquerda. É aquela entre os que antes estavam igualmente na miséria, e
agora começam a prosperar um pouco em ritmo diferente.
Chamar Cuba de capitalista é uma piada de
mau gosto. Mas o pouco de abertura que a ditadura comunista permitiu,
por extrema necessidade, foi o suficiente para fazer com que alguns,
mais ousados, empreendedores, esforçados ou sortudos, despontassem com
algum sucesso comercial. Melhoraram de vida em relação aos demais
miseráveis, mas sem subtrair nada deles. Não importa. O foco da esquerda
não é a melhoria de vida de alguns com as tímidas reformas
liberalizantes, mas o aumento da desigualdade entre eles e os que
continuaram na mesma.
Eis aí a prova da infinita cara de pau da
esquerda: já conseguiram culpar o capitalismo inexistente pelos
problemas na ilha-presídio comunista. É mole ou quer mais?
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